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Em entrevista exclusiva ao Diário 98, o secretário de Cidades e Desenvolvimento Urbano do Maranhão, deputado licenciado Márcio Jerry (PCdoB), garantiu que o movimento iniciado pela gestão de Flávio Dino (PCdoB) está iniciando um novo ciclo no estado.

Com diversos nomes sendo especulados nos bastidores dos gabinetes para suceder o chefe do Executivo maranhense, o secretário da Secid afirma que o “martelo” só será batido após o grupo político definir o mais capacitado para levar adiante as mudanças implementadas pelo governador desde 2014: “Quem haverá, por exemplo, de desmontar a rede de segurança alimentar do Maranhão que até o final do ano contará com 65 restaurantes populares?”, questiona.

Ao portal, Jerry também desenhou uma espécie de roteiro para as eleições do ano que vem. Candidato à reeleição como deputado federal – apesar de seu nome figurar como possível candidato a vice-governador –, ele ressaltou a importância de criar uma frente ampla que tenha como prioridade a derrota do extremismo bolsonarista. Para construir consenso, ele não descarta quaisquer alianças. Além do ex-prefeito Edivaldo Holanda (sem partido, após deixar o PDT), o parlamentar cogita um até mesmo uma possível aproximação com o MDB, de Roseana Sarney.

Ao analisar o cenário político nacional, Jerry sublinha que o ex-presidente Lula tem as ‘condições naturais’ de liderar a coalização capaz de tirar o Brasil do atual cenário caótico imposto pelo bolsonarismo e diz, com convicção, que o atual presidente do país “é, sem retoques, um genocida”. “Um acidente na história brasileira, uma tragédia na história brasileira. Algo a ser superado, a ser punido e a ser, para sempre, esquecido.

Principais pontos da entrevista:

George Marques: Secretário Márcio Jerry, o Dinismo tá chegando ao fim no Maranhão ou este é um recomeço dessa força política?

Márcio Jerry: Na resolução política da Conferência Partidária, realizada em dezembro de 2019, há um texto, um capítulo sugestivo acerca dessa sua pergunta e é o seguinte: sol poente; sol nascente. No qual exatamente se afirma que nós vivemos novamente sob o sol nascente. Temos imensas perspectivas.

Estamos nos aproximando, ano que vem, da conclusão de um ciclo, de uma parte, de uma etapa, desde a eleição do governador Flávio Dino, percorrida com muitas e importantes realizações em nosso estado e também com o acúmulo político muito forte, o que faz de Flávio Dino, nosso governador, um líder de projeção nacional, atuando muito fortemente na cena política do país e sendo, portanto, uma figura que tem proeminência na cena política nacional.

Nós teremos uma eleição importantíssima ano que vem, nacional, com derivações também para todos os estados, inclusive para o Maranhão. Mas te asseguro com muita convicção que estamos novamente sob o sol nascente.

GM: E qual a natureza dessa nova frente política necessária para dar continuidade aos avanços do dinismo no Maranhão?

MJ: Eu acho que este é um debate fundamental. Teremos, ano que vem, a decisão. Ou, enfim, no processo político, a definição de candidaturas, óbvio. Agora, antes de nós debatemos nomes, nós precisamos debater algo fundamental: o que fazer com o Maranhão nesse pós-governo.

O que nós temos hoje e Flávio Dino teve a capacidade, nesse período e que está em curso, de transformar muitas políticas, que seriam assim ações de governo, em ações de Estado. As pilastras que Flávio Dino ergueu na Gestão Pública do Maranhão se incorporam como um acervo que tem a perenidade dentro do Estado.

Quem haverá, por exemplo, de desmontar a rede de segurança alimentar do Maranhão que até o final do ano contará com 65 restaurantes populares? Quem desmontará o sistema educacional do Maranhão que não tinha uma e vai chegar ao final do ano com cerca de 100 escolas de tempo integral? Quem vai desmontar ou o que fazer com a rede de assistência médica hospitalar que o governador Flávio Dino ergueu, com 13 hospitais regionais, com várias policlínicas espalhadas pelo interior do estado e na capital também, como o projeto de Sorrir, de assistência odontológica para população carente, como HTO, como o Hospital do Câncer?

No Maranhão, pré-2015 não tínhamos um hospital oncológico na rede estadual. Hoje nós temos isso em São Luís, temos tratamento oncológico em Imperatriz, temos em Caxias. Enfim, eu poderia passar aqui horas colocando conquistas importantes que se inscrevem na história do Maranhão, conquistadas e asseguradas pelo governo Flávio Dino, que se incorporam como algo que o Estado jamais desfará. Então é importante que os que almejam governar o Maranhão a partir de 2023 debatam, discutam e dialoguem com a sociedade sobre que esperança apresentar ao povo ou que renovação de esperança apresentar ao povo e que compromisso estes tem com a continuidade e a ampliação de tão vigorosas importantes políticas públicas conquistadas no governo de Flávio Dino.

GM Weverton, Brandão, Josimar ou algum outro nome? Quem vai ser o candidato do dinismo?

MJ: Todos os que se colocam têm legitimidade para isso. Nós vemos como naturais. Eles todos, os três nomes citados, integram a base de apoio do governo do Flávio Dino, e, portanto, têm legitimidade para postular a candidatura a governador do estado do Maranhão.

Esse debate, contudo, não está posto para este momento agora. Temos que seguir dialogando, buscando construir consenso, construir e assegurar a unidade, a unidade política foi fundamental para nos assegurar primeiro lugar eleitoral. Em segundo lugar, com unidade política nós conseguimos fazer com que houvesse no Maranhão e haja, avanços administrativos. Portanto, a realidade nos aconselha. Sigamos juntos, que seguiremos vencendo e ajudando cada vez mais o Maranhão a ser um lugar melhor para todos.

GM: O ex-prefeito Edivaldo Holanda foi eleito e reeleito com o apoio do governador Flávio Dino. Agora, circula que ele pode ser um candidato de Bolsonaro ao governo do Maranhão. Na eleição municipal ele se recusou a apoiar uma candidatura do governador. O Edivaldo pode ser considerado um traidor?

MJ: Eu conversei na última segunda-feira com o ex-prefeito Edivaldo. Uma conversa muito boa, uma conversa sobre o passado, presente e futuro. Ele apenas adiantou que estaria conversando com algumas forças políticas para definir se seria ou não candidato a governador. Não fez nenhuma sinalização quanto ou acerca de algo ligado ao bolsonarismo e não creio que ele cometesse um erro tão grave. Não creio que ele faça isso.

Ele tem, até aqui, uma afinidade com nosso campo político, integra esse nosso grupo político. Não há uma palavra do ex-prefeito Edivaldo sinalizando para este campo bolsonarista. Portanto, não vou, jamais, fazer o julgamento de uma coisa que não está no mundo real. Há especulações, mas acredito que não passam, na verdade, de especulações muito mais de quem torce para que ele vire um bolsonarista do que exatamente uma expressão de uma vontade dele.

GM: Secretário, alguns veículos já cogitaram que o senhor pode ser candidato a vice-governador. Isso é uma possibilidade?

MJ: Eu sou pré-candidato a deputado federal, à reeleição a deputado federal pelo Partido Comunista do Brasil, o PCdoB. Candidato a vice-governador ninguém é. Candidato a vice-governador é uma circunstância de uma convergência política, do debate entre partidos, nas vésperas de você conformar um campo de aliança. De modo que a minha candidatura no ano que vem será a candidatura à reeleição a deputado federal.

GM: O Brasil hoje enfrenta uma ameaça fascista. O bolsonarismo está tentando avançar inclusive no Nordeste. Nesta semana, por exemplo, o Bolsonaro ficou ‘de morada’ em Alagoas. Secretário, mudou a natureza dessa frente política necessária para derrotar o bolsonarismo?

MJ: Nós continuamos necessitando muito e a realidade brasileira nos convoca, nos conclama à constituição de uma frente ampla para derrotar o bolsonarismo, para derrotar o fascismo, para derrotar a política que, pela irresponsabilidade e pela negligência, faz com que uma pandemia gere tantas mortes a mais do que poderia ocorrer.

Bolsonaro é, sem retoques, um genocida. Bolsonaro, quanto mais o povo brasileiro constatar, perceber, olhar o quanto tem de responsabilidade dele sobre centenas de milhares de mortes, mais ele enfraquecerá e derreterá. Não é possível que a sociedade brasileira aceite a permanência de, na Presidência da República, desonrando a Presidência, uma pessoa como o Jair Bolsonaro. Um acidente na história brasileira, uma tragédia na história brasileira. Algo a ser superado, a ser punido e a ser, para sempre, esquecido.

GM: Márcio Jerry, o PCdoB apoiou o deputado Baleia Rossi, do MDB, à presidência da Câmara. Recentemente, o senhor se reuniu com o deputado Roberto Costa, que é presidente do MDB e que declarou estar aberto ao diálogo. Flávio Dino e Roseana apoiam Lula. É possível uma aproximação dessas forças políticas no Maranhão?

MJ: Veja só… o deputado Roberto Costa, presidente estadual do MDB, sempre teve uma postura extremamente cordial com o nosso governo. Agora, mais recentemente, após o apoio do PCdoB, na Câmara dos Deputados, à candidatura do Baleia Rossi, do MDB, um apoio que julgamos muito importante, acertado e correto, o deputado Roberto Costa também saiu com a sua bancada do bloco de oposição ao governador Flávio Dino e colocou, se inscreveu, se alinhou num bloco independente, um gesto de reciprocidade ao que houve. Este é um ponto.

Outro é que nós não podemos defender, para o Brasil, uma frente ampla, e nós bloquearmos, no Maranhão, o estado em que atuamos, uma frente ampla. Seria uma incoerência. Então é preciso que a gente não antecipe os personagens, se vai haver debate de A com B, de C com D, mas de dizer que nós estamos, do mesmo modo que pregamos para o Brasil uma Frente Ampla para defender a vida, defender a democracia e defender o desenvolvimento que assegure emprego e renda para o nosso povo. Vamos também defender e defendemos no Maranhão uma frente ampla como a que temos hoje, governando o Estado do Maranhão, para assegurar a continuidade desse trabalho exitoso, muito bom para o povo do Maranhão, que vem sendo liderado e executado pelo governador Flávio Dino.

GM: O ex-presidente Lula tem liderado todas as pesquisas à Presidência. Lula é o candidato natural das esquerdas?

MJ: Candidato natural nunca há, mas acho que ele é o candidato que a conjuntura nos apresenta. Lula é o maior líder político, um dos maiores líderes políticos da história do Brasil. O Lula foi alvo de uma injustiça gritante, num processo de um conluio político jurídico, hoje mal afamado, tido e havido porque é, como um conluio criminoso, liderado pelo senhor Sergio Moro e Deltan Dallagnol, e num consórcio midiático muito forte e político, que assegurou aquela imensa violência política, que fez com que, como consequência, houvesse essa tragédia brasileira chamada Bolsonaro. Então o presidente Lula está, hoje, em um momento de muita força política, nesse momento ele tem demonstrado ter condições de liderar a coalizão ampla do Brasil, de fazer com que seja uma alternativa concreta e viável ao estado caótico que estamos hoje. Seria um erro grosseiro minimizarmos o papel do ex-presidente Lula, como peça fundamental, indispensável e central no combate à derrota do fascismo representado por Bolsonaro.

GM: Uma última questão: tudo tem indicado que o governador Flávio Dino está a caminho do PSB. O senhor iria junto?

MJ:  Nós temos um debate. Aliás, no momento que concedo esta entrevista, nosso partido o PCdoB está reunido. Neste momento em que converso contigo, estou também com a tela aberta no nosso comitê central. Nós temos debatido muito… e não é debatido caso de A ou de B, de Flávio Dino ou de outra liderança do partido. Temos debatido a situação dos arranjos partidários que o momento nos exige. Nós temos aí uma ação de restrição da existência partidária. Nós temos aí um ataque muito grande do Brasil à democracia, questões muito importantes para gente debater e buscar juntar forças.

O PCdoB, neste momento, coloca como uma questão central buscar a possibilidade de organização de federação partidária. Isto é uma possibilidade que temos buscado construir. Temos um prazo político para aderir ou não e, a partir daí, vamos atualizando as nossas formulações e projetos.

O governador Flávio Dino é um dos mais importantes quadros do PCdoB, tem uma relação excelente com o partido e qualquer decisão que venha a ser tomada referente, por exemplo, ao PSB, partido que tem um importância muito grande no Brasil, partido que tem uma relação muito boa com o PCdoB desde muito tempo… Então é natural que debatamos, que escutemos, no contexto de aproximação aos partidos. Mas ainda é cedo para dizer se será uma saída do governador Flávio Dino ou de A ou de B, para o PSB, como tu perguntaste. Eu acho que é hora dos partidos dialogarem e debaterem, buscando a construção de novas formas de organização partidária, para que a gente possa ter mais força para enfrentar o fascismo no nosso país. Eu serei candidato já, George, no ano que vem, como eu disse, à reeleição, a deputado federal pelo PCdoB.