-->

A crise das queimadas no Brasil reacendeu a discussão sobre a medição da qualidade do ar no país. Os dados do Ministério da Saúde revelam que, entre 2019 e 2021, mais de 300 mil pessoas morreram em decorrência de doenças respiratórias associadas à fumaça e à poluição.

Apesar de o Brasil contar com satélites do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) para monitorar a qualidade do ar há mais de 20 anos, pesquisadores afirmam que o governo federal não solicitou essas análises durante a crise das queimadas.

A poluição e a fuligem no ar são consideradas um “inimigo invisível”, especialmente prejudiciais para crianças e idosos. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estabelece padrões para determinar quando a população deve evitar a exposição ao ar poluído, levando os governos a suspender atividades ao ar livre e aulas quando necessário.

Atualmente, o governo federal utiliza dois principais sistemas para monitoramento:

MonitorAr: Com poucas estações de monitoramento, o sistema força moradores de estados como o Amazonas a se basearem em dados de qualidade do ar de estados vizinhos, como o Pará.

Vigiar: Este sistema divulga anualmente relatórios sobre focos de calor e qualidade do ar, utilizando dados do Serviço de Monitoramento da Atmosfera do Copernicus (CAMS). Contudo, esses dados não são em tempo real e a informação mais recente é de 2023.

Embora haja um monitoramento oficial realizado pelo Inpe, que também acompanha queimadas e desmatamento, esse banco de dados não tem sido utilizado pelo governo federal, segundo fontes do instituto. Enquanto isso, nas redes sociais, a empresa suíça IQAir vem divulgando dados que colocam São Paulo como a cidade com o pior ar do mundo, uma afirmação contestada por especialistas.

Entre janeiro e julho de 2024, quase 650 mil pessoas foram atendidas em hospitais por doenças respiratórias relacionadas a queimadas e poluição. Em resposta a essa situação, o governo federal lançou, no ano passado, uma política de qualidade do ar e criou o índice IQAr para analisar os impactos à saúde. Os dados foram encaminhados ao Ministério da Saúde.

A qualidade do ar é monitorada por diferentes órgãos. O Inpe, com uma resolução de 15 km, oferece uma análise mais precisa que os dados do Copernicus, que têm uma resolução de 40 km.

A falta de uma política nacional clara sobre monitoramento do ar tem levado a uma cobertura deficiente. A recomendação do Ministério do Meio Ambiente (MMA) é que sejam utilizadas estações de referência certificadas, mas apenas 13 dos 26 estados possuem esse tipo de estação, principalmente na Região Sudeste.

Os dados da IQAir, que são coletados por sensores de baixo custo e não seguem padrões rigorosos, podem não refletir com precisão a realidade local. Para comparar a qualidade do ar de diferentes cidades, seria necessário analisar a média dos índices ao longo de um período, algo que não é feito adequadamente pela plataforma.

O Inpe afirmou que não participa da rede da IQAir e não valida os índices divulgados por essa empresa. Enquanto isso, a CETESB, que realiza medições de qualidade do ar em São Paulo há 40 anos, alerta que os dados utilizados pela IQAir para classificar cidades como as mais poluídas provêm de sensores não certificados, tornando as comparações potencialmente enganosas.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *