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O Grupo Mateus está muito consciente do cenário atual, brasileiro e global. Inflação, dinheiro mais caro, falta de crescimento. Nada disso, porém, abala o plano de expansão da empresa. Depois de inaugurar 44 lojas no ano passado, mais 45 a 50 estão previstas para 2022.

“Compreendemos o momento macroeconômico e caminhamos com cautela, mas entendemos existir uma janela de oportunidade importante neste momento para acelerarmos a ocupação de espaços em todos os estados do Nordeste”, afirma Ilson Mateus, CEO e fundador do Grupo Mateus, ao EXAME IN.

O balanço da companhia de 2021 é o reflexo da combinação de um plano de expansão executado em um cenário econômico difícil. O lucro líquido cresceu 5,9%, para R$ 769 milhões. O aumento é substancialmente inferior à expansão da receita líquida, que teve aumento de 28%, para R$ 15,8 bilhões no acumulado do ano, e também à própria inflação. Basicamente, a companhia combina um posicionamento de mercado agressivo aos desembolsos relevantes para garantir o plano de crescimento. Os motivos para o lucro não acompanhar a receita, portanto, são diversos.

O primeiro diz respeito ao cenário macroeconômico. Com um IPCA de 10,06% em 2021 e uma Selic que fechou o ano em 9,25%, a tendência natural dos consumidores é de procurar pelo melhor preço, a fim de assegurar o poder de compra. De olho nesse comportamento, o grupo sacrificou margens para garantir fluxo de clientes em todas as lojas, ou seja, não repassou todo o aumento de preços. Afinal, a batalha é por participação de mercado. Além disso, no quarto trimestre, as novas lojas contribuíram menos para a receita gerada nos últimos três meses do ano.

A dívida da companhia também cresceu de forma substancial no último ano, mais de 76%, superando R$ 1 bilhão. Mesmo assim, a relação entre dívida e Ebitda ficou em 0,14 vezes, em linha com o ano anterior.

O terceiro fator diz respeito ao momento da companhia, e não do país. Expansão demanda mais investimento em pessoas e em marketing, fatores que são comprovados no balanço. Em 2021, o grupo deu um grande passo para fincar a bandeira no Nordeste, com a abertura de um novo escritório regional, que visa estabelecer presença em seis novos estados. No fim do ano, foram inaugurados dois centros de distribuição como passo inicial para executar essa estratégia e, juntos, devem trazer como resultado o atendimento a 300 novos municípios ao longo de 2022. As despesas aumentaram, e considerando ainda um lucro bruto menor, o Ebitda teve alta de 13%, para pouco menos de R$ 1,15 bilhão.

No ano, a companhia também antecipou a compra de terrenos. Junto ao novo centro de distribuição (CD), os desembolsos foram significativos. Financiar a expansão fez o consumo de caixa ter grande papel para o Grupo em 2021. Ao todo, o caixa líquido da empresa recuou 69%, na comparação anual, para R$ 877 milhões ao fim de dezembro — consumindo recursos que vieram da oferta pública inicial (IPO) realizada há dois anos.

A porta de entrada para as novas cidades será a mesma: o atacarejo. A vertical, que responde por 49% da receita do grupo — além de registrar aumento contínuo de receita — é o passo ideal para tornar a logística mais eficiente ao longo da expansão. Isso porque, com lojas maiores no início, agregar pontos menores de venda depois otimiza a rota de entregas do ponto de vista de tempo e de dinheiro.

No ano, também teve desempenho positivo a operação de Atacado, que aumentou a receita em 5,4%. Somente a divisão de Eletro desacelerou no ritmo de vendas, com índice de mesmas lojas negativo no quarto trimestre, período de pico para o varejo. Novamente, menor poder de compra significa comprar mais barato, o que impacta diretamente essa linha.

De modo geral, as lojas têm uma curva de maturação que dura de dois a três anos. A forma como cada unidade atinge seu pico é influenciada diretamente pelo cenário macroeconômico — e o período para que isso aconteça, consequentemente, pode ser dilatado até os cinco anos a partir da inauguração. Em 2020, as lojas novas já superaram logo no primeiro ano o desempenho das maduras, enquanto em 2021 as lojas abertas há dois e há três anos passaram a representar um percentual maior da receita. Mesmo assim, no acumulado geral, tiveram queda de 14,1 pontos percentuais em relação ao ano anterior.

Mesmo com o aumento de vendas, é quase impossível não se perguntar até quando a companhia pretende manter o ritmo atual, absorvendo a alta de produtos e de juros para tornar o Grupo mais atraente aos clientes. Não há uma resposta clara em relação a prazos nos quais isso deve ser feito. “Os repasses são feitos de forma gradual, sempre que entendemos que o benefício de incremento de volumes compensa essa movimentação de margens levemente pressionadas”, afirma Ilson.

Atrás somente de Carrefour, Assaí e Grupo Pão de Açúcar, a companhia chega a 2022 com a mesma sede de mostrar a força do varejo regional. A combinação de gestão bem-feita, planejamento de logística e expansão acelerada no Norte e Nordeste tem dado certo até agora. E, ao que parece, não deve sair do prumo tão cedo.

(Revista Exame)