Por Uol / Autor: Diogo Max
A menos de uma semana das eleições, Roseana Sarney, que foi governadora do Maranhão por quatro vezes e chegou a ser cotada para ser presidente no início do século, pode ser derrotada pela primeira vez em um primeiro turno.
Segundo a última pesquisa Ibope, divulgada no dia 19 de setembro, a candidata do MDB ao governo do Maranhão está em segundo lugar, com 32% das intenções de voto totais. Ela está atrás do atual governador e adversário do clã Sarney, Flávio Dino (PCdoB), que possui 49%.
O levantamento indica que Dino tem chances de se reeleger já no primeiro turno, pois ele tem 55% dos votos válidos, quando são retirados da contagem os votos brancos e nulos, que somaram 12% na última pesquisa. Nos votos válidos, o percentual de Roseana vai a 36% das intenções de voto.
Ainda assim, o instituto pesquisou o cenário para um eventual segundo turno entre os dois rivais. O candidato do PCdoB fica com 54% e a representante do clã Sarney, 37%. A margem de erro é de três pontos percentuais, para mais ou para menos.
Se confirmadas as pesquisas, Roseana pode sofrer a sua segunda derrota nas urnas, mas a primeira em um primeiro turno. Em 1994, ela venceu Epitácio Cafeteira por 18.060 votos no segundo turno, obtendo 50,61% dos votos válidos, sendo a primeira mulher a governar o estado. Quatro anos depois, a então governadora pelo PFL foi reeleita no primeiro turno, com 66,01% dos votos válidos.
Com a popularidade em alta, Roseana chegou a ser lançada como pré-candidata à Presidência em 2002, mas teve de retirar a candidatura em março daquele ano, após uma operação da Polícia Federal ter apreendido R$ 1,3 milhão na sede da construtora Lunus, em São Luís. A empresa, de propriedade de Roseana e do marido dela, Jorge Murad, tornou-se o epicentro de uma crise política que modificou os rumos da campanha. Mesmo assim, ela se candidatou ao Senado e foi eleita.
Em 2006, a primeira derrota da carreira política. Ela foi superada por Jackson Lago (PDT) por 97.874 votos de diferença no segundo turno. Porém, Lago teve o mandato cassado em 2009 por abuso de poder político e econômico nas eleições, e Roseana assumiu o governo. Em 2010, ela foi reeleita, vencendo inclusive Flávio Dino, seu adversário que é apontado pelas pesquisas como possível vitorioso no primeiro turno deste ano.
Oito anos atrás, a briga entre o PCdoB e o clã Sarney era bem diferente. Em 2010, Roseana venceu o pleito no estado, com 50,08% dos votos válidos ainda no primeiro turno. Dino ficou em segundo lugar, com 29,48%, de acordo com o TSE. Naquele ano, a candidata do MDB conseguiu a maioria dos votos na capital e na grande São Luiz, além do interior do estado – Dino venceu apenas em duas cidades do interior.
Primogênita do ex-presidente José Sarney, que abandonou a vida pública após ficar quase 60 anos no poder, Roseana recebeu R$ 8 milhões do MDB para a campanha – o pai, que convocou a filha para disputar as eleições, doou R$ 95 mil para a campanha. Até agora, segundo o TSE (Tribunal Superior Eleitoral), mais de R$ 5,6 milhões já foram gastos, e a candidatura não decolou.
Segundo a professora Ilse Gomes, do departamento de Ciência Política da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), há duas explicações para o desempenho da ex-governadora. “Roseana se desgastou muito nas últimas gestões, e a família Sarney não conseguiu apresentar uma liderança alternativa”, explicou.
Hoje a taxa de rejeição da candidata (40%) é a maior entre os postulantes ao governo, segundo o Ibope. O atual governador é o segundo na lista, com 22%.
Para Ilse, esse índice é fruto de dois aspectos: a escolha da família em apoiar o governo Temer e o trabalho de Dino em diminuir a força do clã nos redutos eleitorais da família com programas de assistência social: os municípios mais pobres do Maranhão.
Mas o eleitor típico de Roseana ainda parece vir de lá, segundo o Ibope. Ele mora fora da capital, tem entre 45 e 54 anos, ganha até um salário mínimo, tem até a quarta série do ensino fundamental, declara ser negro ou pardo e possui a religião católica.
Outro ponto, salienta Ilse Gomes, é que os candidatos do Nordeste que apoiaram o ex-presidente Lula (PT) tiveram uma disparada nas pesquisas de intenção de voto.
Outros integrantes da família disputam lugar no Legislativo
Filho mais novo do ex-presidente, Sarney Filho (PV) também enfrenta dificuldades e está em uma disputa acirrada na tentativa de eleger-se ao Senado. O ex-ministro do Meio Ambiente do governo Temer está empatado na segunda posição com Eliziane Gama (PPS), com 22% cada, segundo pesquisa Ibope.
Aliado do clã Sarney, Edison Lobão (MDB) está numericamente na frente da corrida eleitoral por uma das duas vagas, com 25%.Porém, Lobão, Sarney Filho e Eliziane estão em empate técnico ainda com Weverton Rocha (PDT), que tem 20%, já que a margem de erro é de 3 pontos percentuais, para mais ou para menos.
O caçula do patriarca do clã tenta ainda emplacar a reeleição do filho Adriano Sarney (PV), que procura manter sua cadeira na Assembleia Legislativa do Maranhão. O pai doou R$ 12 mil para a campanha do filho, que conta com uma receita total de mais de R$ 343 mil.