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Uma mulher cujos pais adotivos – o coronel da PM-MA Carlos Alberto Barateiro da Costa e Raimunda Corina Silva da Costa, ambos já falecidos – lhe garantiram, antes de morrerem, ser ela filha do ex-presidente da República e ex-senador José Sarney (MDB), de 88 anos, tenta na Justiça, desde 2008, provar sua origem biológica. Esse é o segundo processo de averiguação de paternidade envolvendo Sarney. Em fevereiro de 2013, o Jornal Pequeno revelou caso parecido, da servidora federal Silene do Socorro Nogueira Araújo, nascida em maio de 1958 em Itapecuru-Mirim.

Já essa nova história de suposta filha de Sarney, tem como personagem Karine da Costa Bezerra, nascida em São Luís em 21 de abril de 1965. Karine, que hoje tem 53 anos e mora em Rosário (a 75 km da capital maranhense), foi entregue ainda bebê pela mãe biológica, Maria Madalena Duarte Lindoso, ao casal Carlos Alberto e Raimunda.

Na época da adoção de Karine, o casal era muito amigo da família Sarney – ele, Carlos Alberto, conhecido como “Coronel Bebeto”, que além de militar era um destacado esportista (ligado ao futebol e ao basquete, chegou a ser presidente do Moto Club, de São Luís), e ela, Raimunda, que tinha o apelido de “dona Nenê”, faziam visitas frequentes à casa de Kyola Ferreira de Araújo Costa, mãe de Sarney, que morreu em janeiro de 2004. Muito amiga de “Nenê”, dona Kyola morava perto da mansão do Calhau, onde Sarney residia com a esposa, Marly Macieira Sarney, e os filhos Roseana, Zequinha e Fernando.

Raimunda morreu em 2006 e Carlos Alberto dois anos depois (2008), mas antes teriam revelado a origem biológica de Karine, segundo ela própria confirmou ao JP.

“Enquanto meus pais ainda eram vivos, tínhamos uma convivência contínua e íntima com a toda a família Sarney, principalmente com ‘dona Kyola’, a quem eu e meus pais, e até meus dois primeiros filhos, Kalina e Elson, quando nasceram, visitávamos semanalmente. Meus filhos eram tratados por ‘dona Kyola’ como netos, tinham de ‘pedir sua bênção’ quando chegavam e quando saíam da casa dela”, disse Karine ao JP.

Amigos e parentes de Karine comentavam bastante, na época, a semelhança física dela com “dona Kyola”, contou Karine, que também confirmou ao JP um episódio relatado no processo, de que, em 2006, José Sarney compareceu ao velório de “Nenê”, sua mãe de criação, e, tratando a ela, Karine, “de forma carinhosa, como um verdadeiro pai”, lhe disse ao ouvido que estava à disposição dela “para qualquer coisa, assim como para os seus filhos”. Da mesma forma, por ocasião do falecimento do “Coronel Bebeto”, em 2008, o ex-presidente enviou uma coroa de flores ao velório, o que confirma sua relação de amizade com Carlos Alberto.

Sarney e sua mãe, Kyola, ainda segundo documentos anexados ao processo, foram testemunhas do casamento do “Coronel Bebeto” com “Nenê”, ocorrido em 21 de janeiro de 1967, depois de 10 anos de união estável do casal.

Atualmente com 71 anos (nasceu em 4 de julho de 1947, em Pinheiro, mesma cidade natal de José Sarney) e morando em Parauapebas (sudeste do Pará, a 700 km de Belém), Maria Madalena Duarte Lindoso, deu à luz Karine quando tinha entre 17 e 18 anos.

No processo de investigação de paternidade nº 0860213-24.2016.8.10.001, aberto por Karine, que corre em segredo de Justiça na 7ª Vara da Família da Comarca de São Luís, consta que Maria Madalena “admitiu ser mãe biológica da autora”, mas afirmou que o pai de Karine é um certo “Ronaldo” (sobrenome não sabido), que teria desaparecido, e negou ter tido, algum dia, qualquer tipo de relacionamento com Sarney, que igualmente nega a paternidade de Karine.

Karine da Costa Bezerra disse ao JP que no mesmo ano (2008) em que o pai, o “coronel Bebeto”, morreu – e até atendendo a um pedido dele (‘Vá procurar o seu pai, o Sarney’, teria aconselhado Carlos Alberto) –, ela entrou na Justiça com um processo de investigação de paternidade.

No entanto, no mesmo 2008, Karine, segundo afirmou ao JP, foi chamada para conversar com Ronald Sarney (irmão do ex-presidente), na mansão da família, no Calhau, e convencida a desistir do processo, com a promessa de Ronald de que “as coisas poderiam se resolver sem necessidade de processo judicial” e que ele, Ronald, articularia um encontro de Karine com Sarney, para “resolver tudo”.

“Mas o encontro ficou só na promessa, e toda vez que eu tentava uma aproximação com Sarney ele interpunha uma terceira pessoa, até que, sem obter êxito em encontrá-lo, eu retomei o processo, em 2016, com dois advogados do Piauí”, afirmou Karine.

De 2016 para cá, porém, de acordo com Karine e documentos anexados ao processo, nem José Sarney nem o advogado que o representa neste caso, Marcos Alessandro Coutinho Passos Lobo (que já foi procurador geral do Estado de abril de 2009 a julho de 2010, no governo Roseana Sarney) têm comparecido às audiências de instrução marcadas pelo juiz Jesus Guanaré de Sousa Borges, titular da 7ª Vara de Família de São Luís.

Três audiências já foram marcadas, nesse período: 21 de julho de 2017, 2 de março de 2018 e 31 de agosto de 2018, sempre com a ausência de uma das partes intimadas (José Sarney).

Ao não comparecer às audiências, Sarney, consequentemente, deixou de fazer o exame de DNA. A coleta de material biológico estava prevista nas audiências de instrução de 2 de março e 31 de agosto passados.

O Jornal Pequeno contatou, por e-mail, o advogado Marcos Coutinho Lobo, que representa José Sarney, e ele respondeu:

“Não cuido/trato de processos pela imprensa, menos ainda em processo que tramita em segredo de Justiça, como é o caso do processo mencionado no e-mail”.

“(…) Nunca houve recusa [de Sarney] em fazer exame, que será realizado quando o investigado for intimado para tanto”.

“(…) Não posso comentar processo em segredo de Justiça, sob pena de cometimento de ilícito”. (OSWALDO VIVIANI)

 

(Veja matéria completa na edição impressa deste domingo do Jornal Pequeno)