Os professores e ex-secretários de estado da Cultura Felipe Camarão e Anderson Lindoso emitiram “Nota de Repúdio”, neste sábado, 23, considerando “inadmissível o que o prefeito Eduardo Braide” (de São Luís) “mandou fazer com uma manifestação cultural e religiosa” que se realizava no Mercado das Tulhas, no Reviver, centro histórico da capital.
Segundo Felipe e Anderson, Braide acionou a polícia para acabar com uma manifestação cultural espontânea que se realizava naquele espaço, à noite dessa sexta-feira, 22.
Eis a íntegra da nota:
Nota de repúdio
Inadmissível o que o prefeito Eduardo Braide mandou fazer com uma manifestação cultural e religiosa tão importante para nosso estado, que ocorria de forma espontânea, em um espaço que é sinônimo da diversidade da nossa gente, o Mercado das Tulhas.
Mais um ato equivocado do prefeito, que deveria zelar por nossas tradições e cultura, e não utilizar a força para paralisa-las sob qualquer que seja o pretexto.
O diálogo e respeito sempre deverão ser o caminho. Os tempos sómbrios em que a força era utilizada para oprimir o povo negro e sua cultura e religião ficaram para trás e devemos lutar dia após dia para que jamais retornem.
O Tambor de Crioula é tradição em nossa cidade e patrimônio cultural imaterial do nosso país. Deve ser preservado e incentivado sempre. E não ser usado apenas como interesse político para angariar votos e se eleger.
A liberdade de manifestação cultural e religiosa são direitos fundamentais intimamente ligados à dignidade da pessoa humana e ao usar a força como repressão o prefeito desrespeita a dignidade do povo e de suas manifestações.
Condenamos veementemente uma atitude tão grosseira e desrespeitosa e nos solidarizamos com os manifestantes que tanto representam a resistência dos valores culturais afro-brasileiros.
*Felipe Camarão e Anderson Lindoso*, professores e ex-secretários de Cultura do Maranhão_
Questionados por O INFORMANTE (Blog do JP Online – Grupo JP) sobre a ação ter tido a participação do Ministério Público Estadual, os ex-secretários afirmaram que a polícia foi acionada pelo prefeito Eduardo Braide.
“A questão é a forma como foi feito”, disseram. E enumeraram alguns pontos:
1º- MP faz a recomendação (que fala de eventos e protege o patrimônio);
2 – Não foi evento, mas, sim, uma manifestação cultural espontânea, sem uso de equipamentos de grande porte que pudessem afetar o patrimônio;
3 – Não há decisão judicial que possa relativizar o direito fundamental de livre expressão cultural e religiosa;
4 – Essa situação deveria ser resolvida sem uso de força, mas apenas com diálogo, respeitando nosso povo sofrido que precisa de ações de salvaguarda para se reafirmar perante uma sociedade preconceituosa”.
E prosseguiram:
“Vamos lá:
1 – Recomendação não é determinação;
2 – Não havia evento ou aparelho de som, estrutura etc…
3 – Retirar manifestação cultural se resolve com diálogo;
4 – Agente público que deveria ter resolvido isso seria a secretaria de cultura do município e não polícia;
5 – Prefeitura nunca poderia ter acionado polícia;
6 – Prefeito se colocou como representante e defensor da cultura popular na campanha. Precisa chamar polícia, com base na recomendação do Ministério Público, para tirar de dentro de um mercado”?
OUTRO LADO – Procurada por O INFORMANTE, a assessoria do prefeito disse que “quem entrou no mercado foi a Polícia Militar, de responsabilidade do Governo do Estado”.
Anderson Lindoso é Felipe Camarão disseram que a Polícia Militar “é órgão de estado; não de governo”.
”Não chamamos a polícia para nada” – O secretário municipal de Comunicação, Igor Almeida, procurou O INFORMANTE e garantiu que “ prefeitura de São Luís não procurou a polícia militar para absolutamente nada”.
O blog indagou o secretário da Segurança, Cel. Leite, sobre o assunto. Ele informou que mandou verificar.