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A CPI da Covid começa com duas estratégias distintas de seus membros. O grupo que reúne independentes e opositores ao governo de Jair Bolsonaro se movimenta para convocar atuais e ex-integrantes da administração federal, enquanto os aliados do presidente querem ouvir defensores de medicamentos sem eficácia comprovada contra a Covid-19.

Os trabalhos da CPI tiveram início nessa terça-feira, 27, com clima desfavorável ao governo e duro discurso do senador Renan Calheiros (MDB-AL), escolhido o relator da comissão. Renan apresentou os principais pontos de seu plano de trabalho. No primeiro dia, também foram protocolados 173 requerimentos, que ainda precisam ser apreciados pelo grupo. Ao menos 24 integrantes e ex-funcionários do governo estão na lista para convocações.

O ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta deve ser o primeiro a falar na CPI, na próxima terça-feira. A lista inclui outros titulares da Saúde durante a crise e os principais nomes da gestão de Eduardo Pazuello na pasta. Há ainda requisições sobre documentos sobre processos administrativos, aquisição de vacinas e contratações.

Enquanto isso, os aliados do governo seguem a estratégia traçada pelo Palácio do Planalto: há pedidos para ouvir a imunologista Nise Yamaguchi, que defende o uso da cloroquina, e outros médicos que apostam no chamado “tratamento precoce”. O objetivo é demonstrar que Bolsonaro embasou sua atitude na opinião de especialistas. Também foi solicitado que todos os governadores e prefeitos de capitais informem como aplicaram os recursos enviados pelo governo federal.

Em foco – Integrantes da CPI avaliaram que Renan Calheiros passou do ponto nas críticas ao governo. O senador não escondeu que ficou ofendido com a iniciativa do governo de tentar barrá-lo até o último minuto. No Analítico, Miguel Caballero analisa os recados do relator: Renan foi direto ao falar das Forças Armadas e mostrou que a CPI será novo teste da solidez da aliança entre militares e Bolsonaro.

Em paralelo – O ministro da Casa Civil, general Luiz Eduardo Ramos, disse ontem que se vacinou ‘escondido’. Sem saber que reunião estava sendo transmitida ao vivo, Ramos afirmou que a orientação era “não criar caso” e que tenta convencer o presidente Jair Bolsonaro a se imunizar.

Outro olhar –A revista “Nature”, uma das publicações científicas mais prestigiadas do mundo, afirmou em reportagem que Bolsonaro provocou uma “crise épica de saúde pública”.

Panorama: o Brasil chegou a 395.324 vidas perdidas para a Covid-19 ao registrar ontem 3.120 mortes. O país contabiliza 14,4 milhões de infectados. Mais de 30 milhões de pessoas receberam a primeira dose de vacina, e 13,9 milhões completaram a cobertura vacinal. (Essencial – O Globo)