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Os comandantes do Exército, da Marinha e da Aeronáutica entregaram seus cargos um dia após o presidente Jair Bolsonaro demitir o ministro da Defesa, Fernando Azevedo e Silva. A saída conjunta da cúpula das Forças Armadas não tem precedentes. Há insatisfação entre os comandos militares com o desejo de Bolsonaro por maior alinhamento político.

A saída do general Edson Pujol, do almirante de esquadra Ilques Barbosa Junior e do tenente-brigadeiro do ar Antonio Carlos Moretti Bermudez, foi anunciada pelo Ministério da Defesa. O novo ministro, Walter Braga Netto, e o seu antecessor, Avezedo e Silva, costuraram o anúncio para tentar evitar a ampliação da crise com uma renúncia coletiva.

Militares que integram o governo têm se esforçado para minimizar a repercussão do episódio. No entanto, a tensão entre militares e o governo aumentou. A avaliação é de que a atitude de Braga Netto irá determinar se a crise irá se acentuar ou não a partir de agora.

Os 16 generais de quatro estrelas que formam o Alto Comando do Exército resolveram enviar um recado claro a Bolsonaro, explica a colunista Malu Gaspar. A mensagem é a de que a Força não vai aderir às tentativas do presidente de pedir apoio contra o STF e para ações que vêm sendo cogitadas, como a decretação de um estado de defesa ou estado de sítio.

Repercussão – O presidente do STF, Luiz Fux, considerou o gesto como um recado de que as Forças Armadas não querem ser politizadas e não vê risco de ruptura institucional. O ministro Marco Aurélio Mello relatou preocupação sobre as tentativas de politização dos quartéis.

O que a crise militar mais grave já provocada por um presidente da República mostra é simples: o comando das Forças Armadas se recusa a cruzar a linha da legalidade, afirma Pedro Doria. Maiá Menezes diz que a saída coletiva dos comandantes não é o único problema para Bolsonaro: “As patentes militares mais baixas estão em alto grau de insatisfação com o desempenho do capitão”.

Na Polícia Federal, integrantes da corporação querem do novo ministro da Justiça, Anderson Torres, independência total do órgão em relação a Bolsonaro, conta Bela Megale.

Aliado de Bolsonaro, o líder do PSL, Vitor Hugo (GO), tentou pautar projeto que, se aprovado, daria ao presidente o poder de acionar o dispositivo de Mobilização Nacional durante a pandemia. Isso significa que Bolsonaro poderia interferir e expropriar a produção privada, além de mobilizar militares para ações determinadas pelo governo federal. O mecanismo é previsto na Constituição e foi regulamentado em lei específica para tempos de guerra. No entanto, não houve acordo entre líderes partidários. (Essencial – O Globo)