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O presidente do Magazine Luiza, Frederico Trajano, disse hoje, 27, em teleconferência com jornalistas, que espera que daqui a um ou dois meses a maioria de suas 1,1 mil lojas estejam abertas. Hoje, 422 estão operando. Após citar a questão da reabertura da economia para analistas pela manhã, Trajano voltou a mencionar o tema a jornalistas, depois de ter sido questionado.

“O Brasil é talvez o único que está flexibilizando o isolamento numa hora em que os indicadores continuam subindo. Pelos nossos cálculos, serão mais 2 ou 3 semanas para atingir o pico. Acho que é cedo para baixar a guarda, então vamos seguir o nosso modelo de controle com 60 variáveis para decidirmos quando iremos abrir. Acreditamos que essa decisão de reabertura tem que ser municipal. Há regiões que entendemos que pode ser cedo [reabrir lojas] e há outras até que já poderiam estar abertas e cabe ao município avaliar. Nós podemos abrir até depois do decreto, se não sentirmos segurança”.

Ele elogiou os estados do Sul pelo modelo de reabertura implementado. Na manhã desta quarta, 27, Trajano já havia dito, em teleconferência com analistas, que não estava otimista com a situação atual de contágio no país, e por isso acompanhavam de perto a evolução.

Trajano ainda disse que a empresa avalia usar a tecnologia de medição de temperatura de clientes por meio de câmeras dispostas em lojas, como já ocorre em algumas redes nos EUA. Mas a questão ainda está sendo analisada.

O executivo ainda disse que acredita que a loja passará a ter um papel mais relevante na estratégia de negócios do varejo como um todo, e essa importância deve crescer como ponto de estoque de produtos que são entregues de compras feito pelo on-line. No varejo mundial, lojas tem sido usadas como ponto de estoque de itens para venda on-line, e redes locais, como o Magalu, tem seguido essa estratégia há alguns anos. Isso reduz prazo de entrega e ajuda a cadeia acabar ganhando maior participação de mercado no setor.

O Magalu informou que já está já estocando em suas lojas itens de supermercados, como higiene e limpeza, em lojas físicas para atender pedidos on-line. Isso começou em março.

“A ideia é ter maior estoque nas lojas e menos nos 19 centros de distribuição. Dessa forma, vamos ficando mais rentáveis nessa venda [da categoria de mercado]”. A venda desses itens pela internet é mais complexa e mais difícil de rentabilizar.

As cerca de 600 lojas que já estocam bens duráveis para a entrega on-line tem itens de mercado estocados. A empresa disse que pode começar a estocar esse itens também de lojistas de “marketplace” (shopping virtual) ainda neste ano.

“Não entramos em produtos perecíveis, e nossa venda também não é tão picada o que torna essa logística menos complexa”, disse a jornalistas.

Para analistas, Trajano reforçou a importância de seu digital neste ano, apesar de um primeiro trimestre mais difícil com fechamento de lojas, como mostraram os números do primeiro trimestre publicados na noite de ontem. “Só a transformação digital pode conciliar crescimento econômico com respeito à saúde”, disse.

O CEO disse que a empresa trabalhou “como se não tivesse caixa na crise”. “Aguentaríamos dois anos com loja fechada por causa do caixa”, disse. Eram R$ 4,6 bilhões em saldo de caixa em março, versus R$ 1,8 bilhão há um ano.

A empresa elevou estoques antes da crise de forma estratégica, num período de dólar mais baixa, porque tinha caixa disponível, e para se proteger de um eventual risco de desabastecimento.

A companhia ainda informou que gerou R$ 500 milhões de pagamentos em abril no Magalu Pagamentos, a sua plataforma de pagamentos lançado trimestres atrás, e após atingir esse patamar, o Magazine Luiza diz que pode pedir em abril autorização do Banco Central para ser instituição de pagamento.

A empresa registrou alta de 21% nas vendas de janeiro a março, para R$ 5,2 bilhões, e o lucro líquido caiu 77%, para R$ 30,8 milhões — afetado pelo fechamento de lojas após março.

Trajano disse a analistas que a empresa decidiu fazer “asseguração”, por meio da sua auditoria KPMG, dos números de abril e maio para dar segurança e transparência ao mercado. Nestes meses as vendas no “marketplace” (shopping virtual) triplicaram em relação ao ano anterior.

Sobre o segundo trimestre ele mandou um recado ao mercado: “Esperem um ‘quarter’ [trimestre] difícil para ‘bottom line’ [última linha]. Para top line [receitas] já publicamos como tem ido”, disse. (Com Valor Econômico)