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A pauta é extensa, como a mais recente, da noite deste domingo, 19, protagonizada pelo presidente do PTB, Roberto Jefferson, “bandido-herói” do ‘mensalão’, ao denunciar, numa entrevista ao jornalista Eustáquio Oswaldo, uma suposta tentativa de golpe, liderada pelo presidente da Câmara Federal, Rodrigo Maia, para destituir o presidente Jair Bolsonaro. A pauta é grande, mas vamos nos ater, por enquanto, às posturas de Bolsonaro.

Talvez – e mais para sim do que para não – o grande problema do Brasil é que temos dois Bolsonaros: o Bolsonaro 1, de camisa de manga, que fez todas aquelas estrepolias de domingo, e o Bolsonaro 2, que apareceu, ontem, de terno, completamente diferente, dando uma certa tranquilidade aos brasileiros. Aliás, os dois Bolsonaros já fizeram isso em ao menos duas ocasiões recentes; uma delas quando o NÚMERO 1 fez aquele pronunciamento esperançoso, em cadeia nacional de rádio/tv, e na manhã seguinte, o NÚMERO 2 desfez tudo que o NÚMERO 1 falou na noite anterior, ao disseminar um vídeo fake que, chamado a atenção, apagou duas horas depois.

Nesse final de semana, os dois Bolsonaros entraram em ação novamente. Primeiro o NÚMERO 2, de camisa de manga, que, cima de uma caminhonete, com sintomas de gripe e tossindo, bradou alto e em bom som: “Nós não queremos negociar nada. Nós queremos é ação pelo Brasil. O que tinha de velho ficou para trás. Nós temos um novo Brasil pela frente. Todos, sem exceção, têm que ser patriotas e acreditar e fazer a sua parte para que nós possamos colocar o Brasil no lugar de destaque que ele merece. Acabou a época da patifaria. É agora o povo no poder“. Seguidores e apoiadores, sentindo-se amparados e avalizados pelo presidente do país, foram ao delírio: “Fora, Maia”, “AI-5”, “Fecha o Congresso”, “Fecha o Supremo”, palavras de ordem ilegais, inconstitucionais e contrárias à democracia que Bolsonaro estava ali, de alguma forma, incentivando do momento que subiu na caminhonete até a hora que desceu, aconselhado por um segurança, pois a tosse estava aumentando.

E na manhã dessa segunda-feira, 20, aparece o Bolsonaro NÚMERO 1, de terno, surpreendente (aliás, nem tanto), dando uma guinada de 180 graus. À saída do Palácio do Planalto, o NÚMERO 1 era outro; era o mesmo do pronunciamento em cadeia nacional de rádio e televisão, dando certa tranquilidade aos brasileiros, ao defender o Supremo e o Congresso “abertos e transparentes”. O presidente NÚMERO 1  deu a declaração na saída da residência oficial do Palácio da Alvorada. Ele parou para falar com jornalistas sobre temas como a crise do coronavírus e sobre a participação no ato de domingo. E até deu uma dura num apoiador. Ao ouvir o apoiador gritando á sua frente uma frase a favor do fechamento do Supremo, o NÚMERO 1 advertiu ‘ralhou’ com ele, duro e com voz firme: “Sem essa conversa de fechar. Aqui não tem que fechar nada, dá licença aí. Aqui é democracia, aqui é respeito à Constituição brasileira. E aqui é minha casa, é a tua casa. Então, peço por favor que não se fale isso aqui. Supremo aberto, transparente. Congresso aberto, transparente”.

Em seguida, garantiu que não está conspirando contra nenhum poder. “O pessoal geralmente conspira para chegar ao poder. Eu já estou no poder. Eu já sou presidente da República […] Eu estou conspirando contra quem, meu Deus do céu? Falta um pouco de inteligência para aqueles que me acusam de ser ditatorial. O que eu tomei de providência contra a imprensa? Contra a liberdade de expressão?”, questionou.

Com a ‘ficha caída’ em relação à irresponsabilidade do Bolsonaro 2, no domingo, o NÚMERO 2 ‘entertelado’ desta segunda procurou jogar a culpa em ‘infiltrados’. Primeiro afirmou que a pauta do ato de ontem era a volta ao trabalho e a ida do povo para a rua, pois defende o relaxamento das medidas de isolamento social contra o coronavírus. “O povo na rua, dia do Exército, volta ao trabalho. É isso”, disse. E, aí sim, procurou tirar a culpa de suas costas, dizendo que os cartazes no ato com dizeres contra a democracia, o Congresso e o Supremo eram de autoria de ‘infiltrados’. “Em todo e qualquer movimento tem infiltrado, tem gente que tem a sua liberdade de expressão. Respeite a liberdade de expressão. Pegue o meu discurso, dá dois minutos, não falei nada contra qualquer outro poder, muito pelo contrário. Queremos voltar ao trabalho, o povo quer isso. Estavam lá saudando o Exército Brasileiro. É isso, mais nada. Fora isso, é invencionice, é tentativa de incendiar uma nação que ainda está dentro da normalidade”.

Difícil enfrentar um problema grave dessa magnitude com um chefe de nação BIPOLAR.