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No Brasil, o sistema proporcional de votação, utilizado nas eleições para vereadores, deputados estaduais e federais, pode resultar em situações curiosas, onde candidatos com menos votos acabam sendo eleitos, enquanto outros mais votados ficam de fora.

Isso ocorre porque, diferentemente do sistema majoritário, em que vence o candidato com mais votos, o sistema proporcional distribui as cadeiras de acordo com o desempenho dos partidos ou coligações, e não apenas com a votação individual de cada candidato.

Como funciona o sistema proporcional?

Quando um eleitor vota em um candidato, ele está, na verdade, ajudando a aumentar o total de votos do partido ou coligação desse candidato, o que é decisivo para a conquista de cadeiras nas Câmaras Municipais, Assembleias Legislativas ou na Câmara dos Deputados.

A lógica começa com o cálculo do quociente eleitoral, que determina quantos votos são necessários para que um partido ganhe uma cadeira. Esse número é obtido dividindo-se o total de votos válidos pelo número de cadeiras disponíveis. Por exemplo, se uma cidade tem 1.000 votos válidos e 9 cadeiras para vereadores, o quociente eleitoral será aproximadamente 111 votos por cadeira.

Os partidos que atingirem esse quociente garantem cadeiras. Se, após essa distribuição, ainda houver vagas não preenchidas, aplica-se o cálculo das sobras, o que permite que partidos próximos ao quociente também possam eleger candidatos.

O “efeito Tiririca”

Um exemplo marcante desse sistema é o “efeito Tiririca”. Em 2010, o palhaço e ator Tiririca concorreu a deputado federal por São Paulo e recebeu 1.348.295 votos, o que não só garantiu sua eleição, como também ajudou a eleger outros candidatos do seu partido que, individualmente, não tiveram muitos votos.

Isso acontece porque o excedente de votos que Tiririca recebeu foi usado para aumentar as chances de outros integrantes da sua coligação. Esse efeito se repetiu em 2014, quando Tiririca conquistou mais de 1 milhão de votos novamente, beneficiando outros candidatos do seu partido.

Casos extremos

O sistema proporcional cria cenários contrastantes. Em 2020, uma candidata em Pacujá, no Ceará, foi eleita vereadora com apenas 32 votos, graças ao desempenho geral de seu partido. Enquanto isso, em Santa Maria, Rio Grande do Sul, a candidata Alice Carvalho, do PSOL, que obteve mais de 3 mil votos, não conseguiu se eleger. Isso porque seu partido, como um todo, não atingiu o quociente necessário para garantir cadeiras.

No sistema proporcional, o desempenho do partido ou coligação é mais relevante que o sucesso individual do candidato. Assim, quando você vota, está contribuindo não apenas para eleger seu candidato, mas também para aumentar as chances de seu partido conquistar mais cadeiras. Esse mecanismo torna as eleições mais ligadas à força partidária, em vez de apenas ao número de votos de cada candidato, e explica por que candidatos menos votados conseguem se eleger, enquanto outros mais populares ficam de fora.

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