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Duarte Júnior (PSB) usa caso para tentar desgastar o prefeito e candidato à reeleição, Eduardo Braide (PSD), que nega relação com o episódio

O jornal Globo, do Rio de Janeiro, destaca em sua edição desta quinta-feira, 15, o rumoroso caso do carro abandonado no bairro Renascença, em São Luís, com mais de 1 milhão de reais no porta-malas. A reportagem, assinada pelo jornalista Eduardo Gonçalves, é publicada numa sequência de matérias do matutino carioca – “O Globo nas capitais” – sobre as eleições municipais no Brasil.

Veja:

Um carro abandonado com R$ 1,1 milhão em espécie no porta-malas esquentou a eleição para a prefeitura de São Luís. Com uma coligação de 12 partidos, que vai do PT ao PL, o deputado federal Duarte Júnior (PSB) tenta uma revanche contra o prefeito Eduardo Braide (PSD), que o derrotou em 2020, e busca desgastá-lo com o episódio, ainda sob investigação. O atual mandatário, que tem ao seu lado Republicanos e MDB, nega vinculação com o caso.

Pesquisas internas dos partidos indicam que a popularidade de Braide é um fator que o deixa bem posicionado para a reeleição, o que Duarte Júnior e sua ampla aliança tentam evitar. Assim, o candidato do PSB viu na descoberta da Polícia Militar uma chance de ganhar espaço.

Um ex-servidor comissionado da prefeitura disse aos PMs que era dono do veículo. Posteriormente, a Polícia Civil identificou que um ex-assessor do deputado estadual Fernando Braide (PSD), irmão do prefeito, estacionou o carro no local e pegou carona em um outro veículo registrado no nome da mãe de Braide, que já morreu. Ele também havia trabalhado na prefeitura até 2023. O ex-servidor e o ex-assessor foram alvos de mandados de busca e apreensão em uma operação da Polícia Civil que investiga a origem do dinheiro vivo. Eles ficaram em silêncio durante os depoimentos.

Nas redes sociais, Duarte fez um jingle questionando “se essa grana preta em meio a tanto mutreta não tem o dedo de Braide” e alardeou que o montante apreendido é fruto de “desvios da saúde e educação”. Em vídeo, o prefeito respondeu, dizendo que não tem nada a ver com o caso:

— Esse é um veículo de uso do meu irmão Antônio Carlos, com o qual já não falo nem tenho nenhum tipo de relacionamento há quase três anos.

Se depender dos adversários, o caso deve virar um dos principais assuntos da campanha. O prefeito, por sua vez, quer mostrar o pacote de obras viárias que tocou e desafogou alguns pontos de congestionamento. Com uma frota deficitária de ônibus e sem dispor de outros modais, como metrô e trem, São Luís sofre com o trânsito caótico.

— Montei uma equipe de engenheiros que desenvolveu e implantou o programa Trânsito Livre. Estamos construindo agora o primeiro viaduto com recursos só da prefeitura, próximo ao aeroporto — disse Braide ao GLOBO.

Duarte rebateu:

— Ele está pecando na interferência no trânsito. Jogando o congestionamento para dentro dos bairros.

Mesmo com a máquina da prefeitura na mão, Braide formou uma coalizão de partidos menor do que em 2020, quando venceu Duarte por cerca de 55 mil votos. Sem maioria na Câmara Municipal, o prefeito comprou briga com vereadores e foi alvo de uma CPI que investiga contratos emergenciais da sua gestão.

Duarte aproveitou o vácuo político e consolidou um arco de alianças improvável, reunindo siglas como PT, PP, União Brasil e PL. Na convenção que formalizou a sua candidatura, compareceram o governador do Maranhão, Carlos Brandão (PSB); o ministro do Esporte, André Fufuca (PP); a deputada federal Detinha (PL) e a senadora Eliziane Gama (PSD), que é da sigla de Braide.

Em 2020, Duarte tinha uma vice do PL. Neste ano, terá uma candidata do PT. Já Braide manterá a companheira de chapa do último pleito em uma chapa pura do PSD.

O prefeito gosta de lembrar que ascendeu na carreira política indo contra grupos políticos. Na primeira vez em que disputou a prefeitura, em 2016, ele pertencia ao nanico PMN e chegou ao segundo turno com apenas 8 segundos de propaganda na TV.

Duarte, por sua vez, lembra que pegou Covid-19 e precisou se afastar na reta final da campanha de 2020 —o que teria prejudicado o seu desempenho.

Analistas políticos apontam que a disputa deve ser acirrada e centrada nos dois candidatos, a despeito de haver outros seis postulantes. Diferente de outras disputas, a polarização entre o presidente Lula e o ex-presidente Jair Bolsonaro deve ter pouco impacto sobre o pleito em São Luís.

— Essa questão nacional não deve ter tanto peso. O Eduardo (Braide) está bem posicionado, a não ser que apareça um fato novo que diminua o seu potencial político. O Duarte tem a estrutura do governo do estado, e o Eduardo, da prefeitura — avaliou o cientista político Alderico Almeida, professor do Instituto Federal do Maranhão (IFMA).

Fatores Dino e Sarney

Duarte Júnior é afilhado político do ministro do Supremo Tribunal Federal e ex-ministro da Justiça Flávio Dino, que foi governador do Maranhão por dois mandatos. Advogado, ele foi aluno de Dino na faculdade e nomeado por ele para comandar o Procon estadual. Depois, foi deputado estadual e federal. O apoio do atual governador —ex-vice de Dino —ao deputado veio após Brandão assumir o comando do PSB maranhense, no vácuo deixado pela escolha de Dino para o STF.

Também advogado e ex-deputado estadual e federal, Braide já foi filiado ao PSB e atuou como secretário municipal do orçamento durante a gestão do ex-prefeito João Castelo (PSDB).

Outro cacique que costuma ditar os rumos políticos do Maranhão, o ex-presidente José Sarney tem se mantido neutro na disputa, enquanto seu partido, o MDB, está dividido. O diretório estadual, comandado por Marcus Brandão, irmão do governador, apoia Duarte e foi escolhido por ele como coordenador de campanha. Já o diretório municipal, presidido pelo deputado federal Cleber Verde, fechou com Braide.

2 thoughts on “Investigação sobre carro abandonado com mais de R$ 1 milhão esquenta a disputa em São Luís, destaca GLOBO

  1. Alô, Informante,
    Até agora não foi aventada a possibilidade do ‘clio do milhão’ ter sido abandonado na rua, como ‘isca’, para prejudicar o atual prefeito.

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