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Um projeto de extensão da Universidade Estadual da Região Tocantina do Maranhão (Uemasul) está ofertando curso livre de teatro no município de Imperatriz. O objetivo é fortalecer as habilidades teatrais dos participantes e colaborar para a construção de uma consciência cultural.

O projeto foi contemplado pelo Programa Institucional de Bolsa de Extensão (PIBEXT) da Uemasul e está sendo desenvolvido em parceria com o Centro de Cultura Negra, Negro Cosme (CCN-NC), de Imperatriz, compartilhando experiências das atividades teatrais que realiza.

A turma, formada por acadêmicos e pessoas da comunidade, possui 15 integrantes. A professora Edna Sousa Cruz, responsável pelo projeto, contou como nasceu a ideia. “O curso surgiu da percepção da carência de iniciativas culturais em Imperatriz com foco no teatro. O pioneirismo desta ação extensionista reside na sua iniciativa de trazer para dentro da universidade a pauta da democratização da cultura e a promoção do acesso a ela”, frisou.

Edna reforçou ainda a importância da representatividade negra. “Outro ponto refere-se à valorização da cultura afro-brasileira e do negro enquanto produtores de cultura. Não por acaso, a peça escolhida para a encenação é de um dramaturgo de Imperatriz”, pontuou. Segundo ela, todas as atividades desenvolvidas tiveram como ponto focal a discussão da representatividade negra e a importância de pessoas negras poderem contar sua própria história.

As atividades realizadas durante os encontros foram ferramentas essenciais para formação do senso crítico, exercitando a habilidade de resolver problemas e desenvolver o fortalecimento dos papéis criativo, cognitivo, corporal e artístico.

A acadêmica bolsista do curso de Letras, Língua Portuguesa e Língua Inglesa, Maria Fernanda Silva falou da importância do projeto para sua vida. “Essa foi minha primeira bolsa de extensão e participar das atividades de pesquisa e extensão na universidade é algo essencial na vida acadêmica”, disse.

De acordo com Maria Fernanda, o projeto também a ajudou na vida pessoal. “O teatro também tem papel importante na socialização. Como uma pessoa muito tímida, eu consegui me livrar de algumas amarras por meio do teatro, que se tornou uma ferramenta essencial para superar minha ansiedade social no dia a dia”, contou.

Para o desenvolvimento do projeto, foram realizadas aulas práticas de inserção ao universo teatral como cantigas de roda; jogos teatrais; dinâmicas de grupo; exercícios vocais, de dicção e gestos corporais; dinâmicas para trabalhar o desenvolvimento das habilidades de confiança, concentração e companheirismo; jogos/dinâmicas de percepção e observação do corpo e desenvolvimento da expressão corporal; seleção de textos teatrais adequados ao grupo para criação de esquetes e encenação; exercícios de interpretação de textos teatrais; pesquisas e leituras de textos do gênero teatral com a temática negra.

O projeto tem como objetivos específicos contribuir para a difusão das atividades cênicas em Imperatriz, realizar formação artística, estabelecer um espaço voltado à pesquisa e experimentação teatral para o fomento e disseminação teatral como ação de extensão, desenvolver a interação social e cultural por meio da prática e linguagem teatral. Segundo o vice-presidente do CCN, Domingos de Almeida, o curso de teatro era um antigo desejo dos membros do centro.

“Sempre foi um anseio nosso a realização de um curso de teatro em Imperatriz. A criação da Uemasul nos deu um horizonte para materializar esse desejo”, ressaltou. De acordo com Domingos, as mais de 200 inscrições no curso livre de teatro mostraram que existe uma demanda enorme por formação na área. “Nosso sonho é que, em um futuro breve, tenhamos um curso técnico ou uma graduação em Artes Cênicas por aqui. Temos profissionais e público para isso”, afirmou.

Para encerrar as atividades da turma, será apresentado pelos alunos o espetáculo de teatro Xica do sertão de terra e puaca. Segundo Domingos, a montagem está em consonância com a proposta do projeto de realçar o debate sobre a temática negra. “A maioria do elenco é formado por pessoas negras. E por ser uma proposta com o protagonismo do Centro de Cultura Negra, entendemos ser fundamental que o texto também contemple essa abordagem”, destacou.

Xica do sertão de terra e puaca
O espetáculo Xica do sertão de terra e puaca é uma metáfora dos nossos dias, escrita pelo professor Domingos de Almeida, e expressa por meio da luta armada a resistência de grupos sociais marginalizados. É também uma referência às dores dos esquecidos, que vivem desassistidos de políticas públicas. É uma mistura de realidade e fantasia, onde de um lado a morte, o diabo, Nossa Senhora Aparecida e o padre sintetizam a fé inabalável do sertanejo, e do outro o enfrentamento entre Xica, seu bando e a polícia da capital, que representa a árdua lida das pessoas que vivem no campo, ameaçadas por grileiros e grandes empresários.

O espetáculo participou do Festival Maranhense de Teatro Estudantil (FEMATE), sendo premiado em segundo lugar e premiado ainda com a Melhor atriz coadjuvante. Em 2019, foi premiado em terceiro lugar no mesmo festival. Em 2020, foi publicado o livro com o espetáculo completo. Em 2021, a obra conquistou o prêmio Mestre João, da Fundação Cultural de Imperatriz, e o Prêmio Literário da Academia Imperatrizense de Letras.

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