Em um ano de desafios para as campanhas de imunização, o Ministério da Saúde incinerou, até outubro de 2024, um total de 10,9 milhões de doses de vacinas com prazos de validade expirados. O maior volume corresponde a imunizantes contra a Covid-19, mas o descarte incluiu também doses de vacinas para febre amarela, tétano, gripe e outras doenças.
De acordo com a Lei de Acesso à Informação (LAI), o estoque do Ministério da Saúde ainda conta com cerca de 12 milhões de doses vencidas, entre elas 9 milhões de doses da vacina da Janssen contra a Covid-19, que também estão destinadas à incineração.
O Ministério da Saúde atribuiu o desperdício em grande parte às campanhas de desinformação, que, segundo a pasta, têm gerado desconfiança na população sobre a segurança e eficácia das vacinas, especialmente as contra a Covid-19. A pasta afirmou, no entanto, que atualmente não há falta de vacinas no país.
Dos imunizantes incinerados, 6,4 milhões de doses foram de vacinas contra a Covid-19. Outras 3,1 milhões de doses descartadas correspondiam à vacina infantil DTP, que previne contra difteria, tétano e coqueluche. A vacina contra a febre amarela também foi afetada, com 663,2 mil doses incineradas.
Esses números ainda são parciais e podem aumentar até o final do ano, pois a incineração de vacinas vencidas ocorre em caráter estadual e não é controlada diretamente pelo Ministério da Saúde.
As campanhas de vacinação enfrentaram obstáculos logísticos e de confiança popular. A campanha nacional contra a Covid-19, que começou em maio deste ano, enfrentou prazos de validade curtos, o que agravou o problema do desperdício.
A situação é parte de um desafio maior. Desde 2016, o Brasil registrou queda nas taxas de cobertura vacinal para doenças como meningite e HPV, em parte devido à escassez temporária de imunizantes. No entanto, a cobertura vacinal aumentou em 2023, tirando o Brasil da lista dos 20 países com mais crianças não vacinadas, conforme dados da OMS e da Unicef.
Em nota, o Ministério da Saúde reiterou que campanhas de desinformação têm sido uma das principais causas do baixo índice de vacinação contra a Covid-19, mencionando que “a desconfiança sobre a eficácia e segurança do imunizante impacta a adesão da população”.
O Ministério afirmou que tomou medidas para evitar o desperdício, incluindo a compra de vacinas em lotes parcelados e a adoção de cláusulas contratuais que permitem a troca de imunizantes próximos ao vencimento. Também foram estabelecidos contratos plurianuais para garantir uma gestão eficiente dos estoques e reuniões mensais com laboratórios para ajustar cronogramas de entregas.
O comunicado do Ministério esclarece que “perdas percentuais mínimas são previstas mundialmente na construção de políticas públicas de saúde”, devido à necessidade de manter reservas técnicas de imunizantes.
Entre os imunizantes incinerados, se destacaram vacinas do Programa Nacional de Imunizações (PNI), como a BCG, que protege contra a tuberculose; a pneumocócica 10, que previne contra pneumonia, otite e sepse; e a meningocócica ACWY e C, contra diferentes tipos de meningite.
O Ministério afirma que mantém esforços contínuos em parceria com as secretarias de saúde estaduais para reduzir o descarte de vacinas. Anualmente, mais de 300 milhões de doses são adquiridas para o programa de imunização do país, buscando alcançar a proteção ampla da população.