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Por: Magno Figueiredo

Conheço várias das maiores metrópoles do mundo, todas as capitais e mais de 300 municípios brasileiros. O Rio sempre me fascinou. Amo São Paulo, onde tenho residência própria e mantenho minhas empresas há anos.

Morei em Fortaleza, uma bela e aconchegante cidade. Passei uma pequena temporada em Goiania, cidade bem ordenada e zelada.

Duas cidades me arrebatam emocionalmente: São Luis que me acolheu desde os meus cinco anos e São João Batista, meu berço. Quando lá chego choro de felicidade ao pisar seu solo.

Faço um breve passeio nostálgico entre a minha infância e a chegada a terceira idade.

Em São Luís residí na minha infância e adolescência na rua da Cruz, por pouco tempo e na rua Grande, em largo período.

Revivo a rua Grande à noite, as suas ricas lojas que ostentavam iluminadas vitrines, espelhando literalmente às dos grandes centros do país.

Lembro do início do Caiçara. No térreo Zildene Falcão instalou a sua primeira DIMAPI. Lá bisbilhotei pela primeira vez as capas da TIME e da LIFE.

Era viciado na Gazeta Esportiva para acompanhar as noticias do Santos e de Pelé. Ao lado, Almir e Antônio Moraes Correa instalaram a Cia Moraes, distribuidora da Ford. Glamour total.

Fito na memória os papagaios, os bodes e até jamantas empinados de sua cobertura que desenhavam o céu nas tardes de sábado para sucessivos lanciamentos.

Figuras folclóricas como Rodó, Mocó, Marcelino, Rei dos Homens, e seus trajes malucos e exóticos, circulavam causando pavor nas crianças, mas eram todos inofensivos, contrastando no dia a dia com as elegantes Casa Paris, Real Jóias, B.Murad, Casas Saldanha, Loja Ricy, Lojas Seta, Calçadeira Piauiense, Linho Puro, Lojas Acácia, 4/400, Farmácia Garrido, Importadora Maciel, Pingo de Ouro, Centro Elétrico, Mercearia Neves, Lusitana, Padaria Veneza, a elegante Padaria Cristal de Carlos Amorim e, no quadrilátero as famosas Padarias Santa Maria do Ramos e Modêlo na São Pantaleão, o Cine Eden e o cinema de arte cujas sessões fechavam a meia noite e após, casais de enamorados desfilavam bem perfumados e elegantes.

Meus vizinhos eram Zé Marão com sua incontável frota de carros importados, Luís Carlos Belo Parga, Expedito Bacelar, Adauto Braúna, Geraldo Melo, Antonina Jansen e Eliseu Sousa, Carmem Faria. A nata de diversos segmentos.

No entorno da rua Grande o famoso Hotel Central e seu bar, lanchonete e sorveteria com deliciosos sabores regionais.

O Roxi, o Motobar, o Salão Pompeu, a farmacia São Pedro, as bancas de jornais do Mondego e do João e Grêmio Lítero na João Lisboa, a Sorveteria Carioca, a Casa Amarela, o restaurante Castelinho de Moises Silva, no canto da Viração, a Casa das Ferragens na Praia Grande.

Cunha Santos, o Ferro de Engomar, Dejas Magazine no início da Afonso Pena.

Quem não lembra dos famosos catraeiros que transportavam os passageiros chegados nas lanchas do interior até os Jeeps-taxi extremamente exigentes com relação às bagagens que iam transportar.

Do futsal no Casino com Jafhé Mendes Nunes desfilando craques como João Bala, Djalma Campos, Fifi, Sérgio e Guilherme Saldanha, Mota, Luisinho. Zé Lino e Silvinho Tavares, do basquete com Mauro Fecury, Marco Antônio e Fabiano Vieira da Silva, Jaime Santana, Geografia, Nega Fulo. De Rosa Castro, de Luiz Rego, Merval do Liceu, Emilio Mariz do Batista, exemplos de austeridade na condução de suas escolas.

De Escurinho do Samba, do palhaço Marreta, de Reinaldo Faray, de Dom Mota, de Moacir Neves e seus toques paranormais, de Maria de Jesus e o seu “um minuto apenas”.

Dá saudades das procissões do Senhor Morto, das igrejas do Carmo, da Sé, de Santana, de São João, de São Pantaleão e dos Remédios, todas lotaderrimas. Dos jornaleiros, verdureiros, sorveteiros, cuzcuzeiros, pamonheiros e garrafeiros, cada um com seu grito tonificado e caracteristico ecoando dia e noite. No rádio a Difusora Opina, o Futebol de Meia Tijela dando eco.

Na TV Difusora os primeiros vídeos tapes com Teixeira Heizer narrando classicos do futebol carioca, os festivais da Record, o Telecatch Montilla, Esta Noite se Improvisa com Blota Jr e Sônia Ribeiro, Bonanza, O Fugitivo e o Homem de Virgínia. Como era gostoso. Quanta saudade.

Do alto da minha casa me punha a aplaudir os belos desfiles escolares e militares de 5 e 7 de setembro.

O pelotão de cavalaria dos Maristas e a banda da Escola Técnica Federal eram os mais aplaudidos.

No Carnaval nos contagiava os maiores blocos de sujos, a brincadeira mais espontânea que já presenciei, que iam e vinham pelas ruas paralelas com muita maizena, intercalados com a presença dos corsos em caminhões ornamentados, transportando belas moças entoando marchinhas bem ritmadas e coreografadas, retratando a alegria e a felicidade do nosso povo.

Quem não recorda dos fofões com suas máscaras características e fantasias largas e coloridas, marca de referência da nossa folia, dos assaltos carnavalescos nas casas de amigos, uma festa sobretudo de confraternização, alegria e paz.

Dos inesquecíveis e marcantes reveillons e bailes carnavalescos do Litero e Jaguarema. Das serestas com Cardoso, da classe do Maestro Nonato e seu conjunto, das noites das boates Corsário e Veleiros na Ponta D’areia, do gigante Omar Fontana, dono da SADIA, tocando o fino da bossa em piano de cauda no Selton Hotel, depois ampliado e transformado no Vila Rica da familia Serson.

De Procópio e Bibi Ferreira no Arthur Azevedo, das alegres temporadas do Circo Mágico Tihany na Camboa.

Dos gols de virada de Croinha, dos dribles e gols do cracaço Hamilton.

Das transmissões esportivas com Canarinho e Fernando Sousa. Quis o destino que eu viesse a ser colega de ambos, em muitas jornadas, anos depois.

A política tinha gente honrada da melhor qualidade. Lembro dos sizudos Alexandre Costa e Nunes Freire quando presidentes da Assembléia, da candura de La Roque e Colares Moreira, dos rompantes de Clodomir Milet, da inteligência, eloquência e habilidade de Sarney, dos discursos de Bernardo Almeida, Orlando Leite, Erasmo Dias e Sálvio Dino. No jornalismo recordo Ribamar Bogéa, das colunas sociais de Maria Inês Saboia e Gerd Pflueger, de Djard Martins o rei do rádio.

A oratória tocante do Cônego Ribamar Carvalho, dos famosos advogados Wady Sauaia, Doroteu Ribeiro e Pompilio Albuquerque. Dos dentistas Eziodo Growel de Araújo e Jerônimo Pinheiro. Dos médicos, Haroldo Sousa e Silva, José Quadros, Getúlio Albuquerque, Amazonas, Geraldo Martins, Antônio Haddad, Henrique e Augusto Moreira Lima.

Da Maroca cicerone de luxo dos nobres na zona do meretricio. Do merengue. De Waldick Soriano, Roberto Muller, Carlos Alberto, Silvinho, que inundavam a programação das rádios e em consequência romantizavam os cabarés. Do Bigorrilho e Saravá.

Como era bom degustar a galinha do bonachão Rabelo no Lira batendo aquela prosa, do camarão do compenetrado Germano na Macaúba, do churrasco no Filipinho, dos filés de Abraão Valinhos no Palheta, da torta de camarão do Ricardão e do peixe frito do Peixoto, ambos no Araçagí, da peixada do Gago no Olho D’agua e do Frango Dourado no Anil.

Do papo com figuras simplesmente diferenciadas oriundas das Arábias e, até certo ponto exóticas como Michel Nazar, Alberto Aboud, Vitor Trovão e Nagib Haickel, sempre uma festa de mil decibéis, com intensas gargalhadas..

Dos meus papos lusos com Oliveira Maia, Carlos Amorim e Zé Maria Trindade.

Dou essas pinceladas, para que tenham uma pequena idéia da minha relação, a mais afetiva possível com a minha ilha querida, hoje entre as 15 mais populosas cidades brasileiras, eivada de problemas de tudo que é sorte, comemorando seus 412 anos.

O Centro Histórico a maior riqueza arquitetônica colonial do Brasil, abandonado por falta de planejamento, projeto mais adequado de preservação, ação mais enérgica do Poder Público. Ninguém quer ser zelador dessa riqueza estonteante.

Afinal somos um mimo, considerado Patrimônio Cultural da Humanidade.

Da situação das nossas praias. Sem condições de balneabilidade há décadas, com o esgoto in natura escorrendo à vista dos gestores que ainda sinalizam com placas sobre a restrição para os mergulhos, prejudicando o turismo.

O ludovicense incauto se limita ao pejoso comentário “a maré leva e não trás de volta”. Nunca é anunciada qualquer providência. O povo não brada.

Tudo estará bom enquanto a classe média alta puder estacionar seus carrões na Litorânea para goles de Chopp gelado e degustar peixes e camarões inacessíveis a 95% da nossa população. Retrato da segregação social.

São Luís é centro da corrupção desenfreada no estado, o chamado paraíso do patrimônio adquirido ilicitamente.

Prefeituras formam o grande duto do desvio do dinheiro público. Os Poderes se locupletam com benesses e salários extratosféricos, segundo números oficiais retratados.

Temos a maior frota de carros de luxo em proporção do país e o estapafúrdio, o nosso Distrito Indústrial não conta com nehuma Indústria de grande porte ou até mesmo de médio porte.

Mesmo assim ostentamos o quarto PIB do Nordeste graças a VALE e ALUMAR.

Sobral no Ceará com pouco mais de 200 mil habitantes, têm 23 Areninhas esportivas. Fartura da prática esportiva. Em São Luís precisa-se catar para achar uma.

Nos últimos 40 anos pouco ou quase nada fizeram os prefeitos por São Luís. Se não fosse a intervenção direta dos nossos Governadores não teríamos a ponte Bandeira Tribuzi, a Litorânea, o Italuís, a duplicação da Holandeses, os Elevados, a via Expressa, a preservação pelo menos parcial do Centro Histórico.

Esse único e rico acervo arqutetonico que torna a nossa ilha mais bela e que poderia ser compartilhado, em termos turísticos, com essa dádiva da natureza que é os Lençóis. Só a Torre Eiffel é mais visitada do que todas as cidades brasileiras somadas.

A pequena Gramado com menos de 100 mil habitantes é mais visitada do que Fortaleza.

Por que a bela ilha agregada aos Lençóis, numa campanha de marketing intensa, não muda o seu patamar com esse conjunto ďe belezas raras. Faltam experts nessa área.

Externo a minha opinião por conhecer esta cidade de ponta a ponta e por poder fazer parâmetros de acordo com o que cito na cabeça deste texto.

Além da minha infância de amor dediquei meu trabalho à comunicação, ao esporte com todos os recordes, ao entretenimento e à cultura de forma mais pontual.

Essas linhas são traçadas com sentimento profundo do amor, de quem quer ver esta velha e imponente Senhora, sendo tratada por um grande cuidador ou melhor por vários bons cuidadores. O povo não brada. Eu brado o meu amor.

One thought on “São Luis e Meu Franco Amor 

  1. Prezado Magno,
    Ao ler a sua belíssima crônica, sobre nossa São Luís, as minhas lágrimas, às vezes, chegaram a interromper a leitura de tão preciosa reminiscência.
    Tal como vc, sou apaixonado pela cidade onde passei muitos anos como estudante do ‘Ateneu Teixeira Mendes’, do professor Solano e do ‘Colégio de São Luiz’ do professor Luís Rego. Ouso enriquecer sua narrativa com algumas saudosas lembrancas: quem não se lembra de atravessar o Rio Anil em pequenas embarcações a remo?quem também não se lembra de ir à Praia do Olho d’Água em ônibus com a parada em frente ao Liceu?
    No Carnaval existiam os bailes de máscaras, onde vc nem desconfiava de quem estava por trás da ‘indumentária’. O Moisés era dos mais famosos..
    Os bondes da SAELTPA (serviços de água, esgoto, luz, tração e prensa de algodão) : Gonçalves Dias, São Plantaleão, Estrada de Ferro, João Paulo, e Anil.
    O comércio da Praia Grande, hoje Projeto Reviver, era dominado por imigrantes portugueses e sírio-libaneses e outros ‘carcamanos’.
    Mas nossa cidade carece de muitas benfeitorias, atrações turísticas, polo cultural para explorar a cidade com seus centenários casarões, só comprados a Savador e a cidade do Porto, em Portugal.
    Agradecido pela paciência… Continuo contando com outras saudosas lembranças.

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