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O Ministério da Saúde do Brasil, em parceria com a Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS), lançou a primeira versão em português do manual “Viver a Vida – Guia de Implementação para a Prevenção do Suicídio nos Países”. A publicação, de autoria da Organização Mundial da Saúde (OMS), visa orientar na implementação de medidas coletivas para a prevenção do suicídio, permitindo que os governos desenvolvam estratégias nacionais eficazes.

A OMS enfatiza a importância de ações governamentais e comunitárias na prevenção do suicídio, destacando que políticas de saúde mental e a redução do consumo de álcool são fundamentais. A nova versão em português é uma tradução do guia original, intitulado “Live Life”, lançado em 2021, que também está disponível em inglês, chinês, espanhol e coreano.

O guia “Viver a Vida” visa estimular a troca de boas práticas, apresentando iniciativas de diversos países que demonstraram eficácia na redução das taxas de suicídio. A OMS acredita que essas experiências podem inspirar novas políticas públicas e soluções coletivas. Entre as iniciativas destacadas estão:

– Inclusão de pessoas com experiência direta em suicídio, como na Irlanda, para garantir que as necessidades de quem busca apoio sejam atendidas.
– Integração da prevenção do suicídio nas políticas de saúde mental e abuso de substâncias no Líbano.
– Parcerias público-privadas nos Estados Unidos.

O documento também delineia quatro intervenções essenciais para a prevenção do suicídio:

1. Restringir o acesso aos meios de suicídio.
2. Promover uma interação responsável da mídia sobre o tema.
3. Desenvolver habilidades socioemocionais entre adolescentes.
4. Identificar e acompanhar precocemente pessoas com comportamentos suicidas.

Além disso, o guia apresenta seis pilares para a implementação de políticas de prevenção:

1. Análise da situação atual do suicídio e da prevenção no país.
2. Capacitação em saúde mental para profissionais, tanto do setor de saúde quanto de outras áreas.
3. Colaboração multissetorial envolvendo governo e sociedade civil, incluindo ONGs e trabalhadores comunitários.
4. Financiamento dedicado à prevenção do suicídio.
5. Conscientização sobre o suicídio como um problema de saúde pública.
6. Vigilância e monitoramento do progresso das ações implementadas.

Dados sobre o Suicídio

A OMS informa que mais de 700 mil pessoas morrem por suicídio anualmente, com 77% dos casos ocorrendo em países de baixa e média renda. O suicídio é a quarta principal causa de morte entre jovens de 15 a 29 anos, e estima-se que, para cada suicídio, haja 20 tentativas. A maioria dos casos está relacionada a transtornos mentais, como depressão e transtorno bipolar.

No Brasil, em 2022, foram registrados 16.468 óbitos por suicídio. Durante o lançamento do manual, Letícia Cardoso, diretora do Departamento de Análise Epidemiológica e Vigilância de Doenças Não Transmissíveis do Ministério da Saúde, destacou que os casos são mais comuns entre homens, com uma taxa de 12,6 por 100 mil habitantes, em comparação com 3,4 por 100 mil entre mulheres. O grupo indígena também é considerado mais vulnerável.

Entre 2016 e 2021, as taxas de mortalidade entre adolescentes de 15 a 19 anos aumentaram em 49,3%, e em 45% entre adolescentes de 10 a 14 anos. Em resposta, o Brasil assumiu o compromisso de reduzir em um terço a mortalidade prematura por doenças não transmissíveis, incluindo o suicídio, até 2030, conforme os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU.

Iniciativas do Governo

Para fortalecer a rede de saúde mental, o governo brasileiro anunciou a construção de 150 novos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) até 2026, com um investimento superior a R$ 339 milhões. Essa ampliação visa incluir 13,4 milhões de pessoas na Rede de Saúde Mental do Sistema Único de Saúde.

A diretora Letícia Cardoso reiterou o compromisso do governo com a prevenção do suicídio, afirmando que “a saúde mental e a violência autoinfligida têm sido um tema central em nossas ações coletivas”. Elisa Pietro, coordenadora da OPAS/OMS no Brasil, destacou que a rede de apoio psicossocial do Brasil é uma das maiores do mundo, com vários países buscando aprender com a experiência brasileira na reforma psiquiátrica.

Onde Buscar Ajuda

O Ministério da Saúde reitera que o suicídio é prevenível e destaca a importância de reconhecer os sinais de alerta. Os indícios a serem observados incluem:

– Sentimentos de desesperança ou preocupação com a própria morte.
– Expressões de ideias ou intenções suicidas.
– Isolamento social.
– Fatores como perda de emprego, crises econômicas, discriminação, e agressões psicológicas ou físicas.

O ministério recomenda que aqueles que apresentem sinais de risco ou que conheçam alguém com intenções suicidas busquem ajuda. Entre os recursos disponíveis estão:

– Centro de Valorização da Vida (CVV): disponível 24 horas pelo telefone 188 (ligação gratuita).
– CAPS e Unidades Básicas de Saúde: incluindo Saúde da Família e Postos de Saúde.
– Unidades de Pronto Atendimento 24H e Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu 192).

Setembro Amarelo

O lançamento do guia ocorre no mês de Setembro Amarelo, dedicado à prevenção do suicídio. Desde 2014, a campanha de conscientização é promovida pela Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) em parceria com o Conselho Federal de Medicina (CFM). Em 2024, o lema da campanha é “Se precisar, peça ajuda!”, com diversas ações programadas, disponíveis no site oficial da campanha.

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