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Por Prof. Dr. Silas Nogueira de Melo – Superintendente de Relações Internacionais da Uema

Em um mundo globalizado, a internacionalização universitária se destaca como uma ferramenta de promoção ao desenvolvimento econômico, social e cultural, especialmente em estados menos favorecidos. Nesse sentido, ao inserir nossas universidades em redes globais de conhecimento, inovação e pesquisa, cria-se uma ponte entre o local e o global, permitindo uma educação de qualidade e reduções das nossas assimetrias regionais.

Muitas vezes, duas fábulas se impõem ao nosso imaginário coletivo quando pensamos a internacionalização universitária. A primeira diz respeito a acordos com universidades de países norte-americanos e europeus. Obviamente, esses países possuem universidades de excelência que lideram rankings internacionais (criados por eles mesmos). Contudo, qual a chance ou o interesse da assinatura de convênios mutuamente benéficos entre, por exemplo, Harvard, Oxford ou Sciences Po e as universidades maranhenses? Desculpem-me o ceticismo, mas o que tenho visto são propostas de acordos que remontam ao colonialismo, sem contar quando as universidades estrangeiras querem fazer algo com o Brasil, privilegiam (as já privilegiadas) instituições do eixo Rio-São Paulo.

A segunda fábula remonta a ideia de que a mobilidade acadêmica internacional é restrita à elite econômica maranhense e que o fluxo dessa mobilidade é sempre em direção aos países do Norte. Por isso, gosto de pensar uma internacionalização mais coerente com nossa realidade que ajuda a superar as falácias descritas.

A experiência da Uema tem mostrado que as negociações dos acordos internacionais são mais simétricas e justas quando estabelecidas com países do chamado Sul-Global. E mesmo quando os convênios são estabelecidos com países economicamente desenvolvidos, temos condições de barganhar melhores condições para nossas IES públicas quando selecionamos universidades menos badaladas e com real interesse no Maranhão.

As Tecnologias da Informação e Comunicação permitem a mobilidade internacional remota, possibilitando até mesmo para os alunos dos rincões do estado a se conectarem com outras nações. Precisamos caminhar rumo a uma perspectiva de internacionalização universitária que valorize nossas especificidades e que seja mais inclusiva.      

Assim, desde 2023, a Uema tem se envolvido em uma perspectiva decolonial e sustentável de cooperação e mobilidade acadêmica, pois é isso que, felizmente, nos resta. Na frente de cooperação internacional, a Uema tem focado em formalizar parcerias internacionais de pesquisas com países africanos, asiáticos e latino-americanos.

Em parceria com a Secretaria de Estado da Ciência, Tecnologia e Inovação (SECTI), oferecemos aulas de mandarim gratuitas com professoras nativas, em duas de nossas unidades. Com países do Norte Global, temos um escritório do EducationUSA que visa buscar oportunidades para nossos estudantes, sobretudo os de baixa renda (mas com desempenho de excelência), a praticarem a língua inglesa e a estudarem em universidades estadunidenses com bolsa.

Recentemente, fomos contemplados com fundos europeus para nossos programas especiais de Formação Docente para a Diversidade Étnica e para Formação de Mulheres Apenadas. Essa será a primeira iniciativa presencial no Brasil.

Já no quesito mobilidade internacional, focamos em programas internacionais de intercâmbio acadêmico com o Sul Global, como o INILATmov+ e o PILAvirtual, onde eles têm por missão, democratizar o acesso da comunidade acadêmica da América Latina ao intercâmbio e a uma educação superior de qualidade.

Desse modo, a Uema e outras instituições de ensino superior latinas cooperam por meio de ofertas semestrais e gratuitas de disciplinas e cursos para graduação, pós-graduação (lato sensu e stricto sensu) e técnico de nível superior. É importante ressaltar que as ofertas desses programas, em sua maioria, são virtuais e permitem o livre acesso a todos os perfis de estudantes; isto oportuniza ter uma experiência internacional e sem custos financeiros.

Graças a essas iniciativas, nossos alunos da capital e do interior têm acesso a cursos de espanhol gratuitos e ministrados por professores nativos. Para valorização de nossa língua e cultura, em parceria com professores dos cursos de Letras da Uema, oferecemos cursos de português para estrangeiros e somos os únicos aplicadores do CELPE-Bras (certificado de proficiência em língua portuguesa para estrangeiros outorgado pelo INEP) no estado.

Por fim, destaco que precisamos lutar ainda mais para uma democratização da internacionalização na Uema. Isso só é possível com o reconhecimento de quem realmente somos, da valorização da nossa cultura/território, do entendimento dos verdadeiros desafios que precisam ser estudados e do apoio financeiro para pesquisas.

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