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O Brasil está atravessando a maior seca dos últimos setenta anos, de acordo com dados do Centro Nacional de Monitoramento de Desastres Naturais (Cemaden), vinculado ao Ministério da Ciência e Tecnologia.

A estiagem atual é a mais severa já registrada, afetando uma vasta região que se estende da Amazônia ao Paraná, e tem causado incêndios em larga escala e níveis recordes de baixa nos rios.

A situação é preocupante e tende a se agravar até novembro.

A série histórica do Cemaden, que remonta a 1950, revela um agravamento contínuo das secas desde o início dos anos 1990. A seca mais grave registrada anteriormente ocorreu entre 2015 e 2016.

No entanto, a estiagem deste ano já supera as anteriores em extensão e intensidade, afetando toda a abrangência nacional, o que é um novo recorde.

A seca atual já impacta cerca de um terço do território brasileiro, o equivalente a mais de três milhões de quilômetros quadrados.

A situação é diferente de 2015, quando a estiagem foi severa, mas limitada ao Norte e Centro-Oeste.

O Cemaden destaca que nunca antes houve uma seca tão generalizada e intensa no país.

O baixo volume de chuvas resultou em níveis extremamente baixos dos rios. O Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) já anunciou a ativação de termoelétricas para compensar a falta de geração hidrelétrica devido à seca.

Na Amazônia, onde o transporte é amplamente hidroviário, várias cidades estão isoladas devido ao baixo nível dos rios.

Em Manacapuru, município localizado a 98 quilômetros de Manaus, o carpinteiro Francisco da Silva, 47 anos, já enfrenta dificuldades de locomoção devido à baixa das águas do Igarapé Grande, que tem secado cerca de 25 centímetros por dia.

A falta de água também prejudica a pesca, principal fonte de alimento da sua família.

Os incêndios florestais em todo o país e a fumaça resultante estão causando problemas respiratórios na população.

No interior de São Paulo, os focos de incêndio superaram os números do ano passado em poucos dias, resultando em prejuízos que já ultrapassam R$ 1 bilhão.

As autoridades locais emitiram novos alertas sobre o risco de queimadas.

Embora o impacto na agricultura ainda não tenha sido totalmente avaliado, é esperado que a crise climática afete cultivos importantes como café e cana-de-açúcar.

A falta de chuva e as temperaturas elevadas estão dificultando o início da estação chuvosa e podem levar a um atraso nos plantios.

Diversos fatores contribuíram para a seca severa. O El Niño do ano passado elevou as temperaturas e alterou os padrões de precipitação.

Além disso, a temperatura acima da média do Oceano Atlântico contribui para mudanças nos volumes de chuva.

A combinação de uma temporada de chuvas abaixo da média e o início antecipado da estação seca agravou a situação.

Ana Paula Cunha, pesquisadora do Cemaden, explica que a seca é “multifatorial”, causada pela transição de um Oceano Pacífico aquecido para um Atlântico Norte mais quente, sem trégua entre os eventos.

O meteorologista Giovani Dolif prevê que a seca continuará por mais tempo do que o habitual, dificultando a recuperação.

Marcelo Seluchi acrescenta que a estação chuvosa pode ser irregular, com um atraso no início das chuvas e impactos negativos na agricultura e nos reservatórios.

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