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Aparelho usa canos de PVC e peças recicladas de computador; inventor quer combater poluição

Com peças recicladas de computadores, canos de PVC e conhecimentos de robótica, o estudante Manoel José Nunes Neto partiu em busca de uma premissa: se existe um carro que anda só, porque não se constrói uma ferramenta autônoma para monitoramento das águas dos rios e lagos? Era início de 2023.

A ideia do estudante de Teresina resultou em uma espécie de minibarco, que neste ano ganhou o Prêmio Jovem da Água de Estocolmo 2024, considerado o Nobel de ciência jovem.

Manoel José Nunes Neto, 17, com sua invenção

A premiação, entregue em 27 de agosto na Suécia, tem como patrona a princesa Victoria.

O evento é organizado desde 1997 pelo Stockholm International Water Institute (SIWI) e busca incentivar jovens a criarem soluções inovadoras para os desafios hídricos globais.

O aluno piauiense disputou com mais de 30 projetos de vários países e conquistou o cobiçado People’s Choice Award, recebendo mais de 400 mil votos na internet.

A invenção de Manoel é um minibarco batizado de rover aquático. Equipado com sensores e placa solar, ele percorre rios coletando amostras e enviando dados sobre a qualidade da água para computadores ou celulares em tempo real.

“Fiz um barco autônomo, acessível e de baixo custo. São peças recicladas de computadores antigas, o lítio é muito danoso e eu não podia fazer um barco para prejudicar o meio ambiente. Várias peças do rover foram recicladas de outros componentes eletrônicos”, disse Manoel.

Ele afirmou que gastou R$ 1.500 para produzir em um ano e seis meses a pequena embarcação.

A inspiração para criar o rover aquático veio de reportagens que viu sobre as trágicas contaminações por mercúrio nas comunidades ribeirinhas e entre os yanomami.

“O projeto surgiu para ajudar as comunidades ribeirinhas, o povo yanomami que sofre muito por causa do garimpo ilegal”, afirmou o jovem.

“O governo nunca sabe de onde a contaminação está indo, então, eu quero começar aqui, no Piauí, e expandir para a Amazônia e para o mundo.”

Desenvolvido para ser portátil, o protótipo, segundo o estudante, é capaz de navegar por diferentes ambientes aquáticos.

“Durante todo o percurso ele envia as informações para um site, que pode ser acessado pelo celular ou computador e fornece informações sobre a qualidade da água como temperatura, turbidez, pH, oxigênio e os sólidos dissolvidos totais (TDS), parâmetros importantes para detectar a contaminação”, disse o estudante.

O barco conta também com uma espécie de inteligência artificial, segundo o adolescente, que, por meio das variações que os parâmetros sofrem, consegue identificar e mapear as contaminações presentes no rio.

O adolescente iniciou os estudos em escola filantrópica. Atualmente cursa o terceiro ano do ensino médio no colégio particular São Francisco de Sales (Diocesano). Neste ano, ele fará o Enem (Exame Nacional do Ensino Médio).

O estudante conta que desde os seis anos gosta de brincar de montar e desmontar objetos e que ganhar o prêmio é um sonho realizado.

“Eu chorei muito. A sensação que parece até hoje é que foi um sonho. Às vezes me pergunto, eu tenho ‘Nobel’ mesmo, é sério isso”, disse, rindo. Durante a estadia na Suécia, o estudante participou de um jantar com a realeza.

E não é a única conquista do jovem cientista. Ano passado, ele ficou em primeiro lugar na Feira Mineira de Iniciação Científica e ganhou prêmio ouro no Fórum Internacional de Ciência, em Porto Rico.

Para receber o prêmio na ilha caribenha, ele teve que fazer rifa e vender brownie. Manoel disse que está patenteando o rover aquático e que quer produzi-lo em larga escala. Mas, para isso, está em busca de recursos.

*Por Yala Sena (Folha de S.Paulo)

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