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O impacto das apostas esportivas online, conhecidas como “bets”, tem sido significativo no consumo de mercadorias e serviços no Brasil, especialmente entre as classes socioeconômicas de menor poder aquisitivo.

De acordo com uma análise da PwC Strategy& do Brasil Consultoria Empresarial Ltda, vinculada à multinacional de auditoria PricewaterhouseCoopers, os gastos com apostas estão superando despesas discricionárias tradicionais, como lazer e cultura, e até mesmo afetando o orçamento destinado à alimentação.

O economista e advogado Gerson Charchat, sócio e líder da Strategy& do Brasil, destacou que o aumento nos gastos com apostas, que cresceram 419% de 2018 a 2023, tem exercido pressão considerável sobre a demanda por produtos essenciais e impactado negativamente a percepção da melhoria econômica do país.

Ele alertou que essa mudança pode gerar um aumento no endividamento entre as camadas sociais mais pobres, com possíveis efeitos adversos no crescimento econômico.

A Lei nº 13.756, sancionada no final de 2018, legalizou as apostas esportivas no Brasil e desde então o setor viu um crescimento explosivo.

No entanto, os dados sobre o volume financeiro do setor e o número de empresas envolvidas ainda são imprecisos, aguardando regulamentação e autorização do Ministério da Fazenda para a exploração comercial e arrecadação de tributos.

Uma pesquisa da Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo (SBVC) revelou que, entre os apostadores, 64% utilizam parte de sua renda principal para apostas, 63% tiveram sua renda comprometida, e 23% deixaram de comprar roupas, 19% itens de mercado e 14% produtos de higiene e beleza.

Esses dados indicam um desvio significativo de recursos essenciais para apostas.

A economista Ione Amorim, consultora do Instituto de Defesa de Consumidores (Idec), observa que os efeitos das apostas vão além do impacto econômico, abrangendo problemas sociais e de saúde mental.

Segundo Amorim, o vício em apostas pode levar a endividamento severo, destruição de lares e aumento de problemas relacionados ao álcool e drogas.

Ela alerta para o risco de pessoas vulneráveis se endividarem na esperança de ganhos fáceis, que muitas vezes não se concretizam devido à natureza dos algoritmos envolvidos.

O Projeto de Lei nº 2.234/2022, atualmente em tramitação no Senado, propõe a expansão da exploração de cassinos, bingos, jogo do bicho e apostas em corridas de cavalo em todo o território nacional.

Defensores da legalização argumentam que isso poderia gerar empregos, renda e tributos para financiar políticas sociais.

No entanto, nenhum recurso foi arrecadado até o momento com as apostas online, e a arrecadação só começará após a autorização do Ministério da Fazenda.

A concessão da permissão está prevista para o final do ano, com um pagamento inicial de R$ 30 milhões à União.

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