-->
Convenhamos: rosa-choque não é lá uma cor de muito apelo para a pintura de casas e prédios em nenhum lugar do mundo. Por isso, ninguém entendeu quando a tinta dessa tonalidade produzida por uma companhia americana subitamente desapareceu do mercado por um período de 2022.
TUDO É POSSÍVEL - Margot como Barbie, junto do amado Ken, vivido por Ryan Gosling: loira empoderada
TUDO É POSSÍVEL – Margot como Barbie, junto do amado Ken, vivido por Ryan Gosling: loira empoderada (Warner Bros. Pictures/.)

A escassez teve motivo insólito: o estoque foi inteiramente utilizado para trazer à luz a cidade cenográfica da “Barbielândia”, lar da boneca mais famosa do mundo. É com a utopia de tingir o mundo de rosa que o filme Barbie, no qual Margot Robbie encarna a célebre boneca, prevê dominar os cinemas a partir da quinta-feira 20. E não para por aí: responsável por grande alvoroço nos últimos tempos, a superprodução pode se estabelecer como um dos maiores fenômenos do ano, reforçando o lugar da personagem como ícone da cultura pop — e porta-voz de toda uma estética e estilo de vida que se tornaram inescapáveis, da moda ao design.

Barbie O Filme – Western Outfit

Ao longo de sua história, a boneca com mais de 1 bilhão de unidades vendidas colecionou polêmicas, da desaprovação conservadora a um brinquedo “sexualizado” à acusação feminista de que a Barbie promoveria um padrão de beleza impossível. Somente em 2016, a Mattel, sua fabricante, decidiu reinventá-la para se adaptar aos novos tempos, lançando versões com cores de pele e padrões físicos diversos. Após um período na berlinda, ela voltou a ser cool — e o novo filme é a coroação do processo. Independentemente de seu desempenho nas telas, Barbie já triunfou.

FEBRE - Fãs da personagem: de alvo de críticas a ícone da cultura pop
FEBRE - Fãs da personagem: de alvo de críticas a ícone da cultura pop (Don Arnold/WireImage/Getty Images)

A sagacidade com que a Mattel deu essa volta por cima é uma copiosa lição sobre marketing. A empresa estudava a ideia de transformar a boneca em live action desde 2009, mas foi só em 2018 que sentiu confiança em entregar a alguém o projeto: a escolha foi pela australiana Margot — que, além de protagonizar, também é produtora do longa. Ainda assim, a empresa receava expor controvérsias sobre a imagem da boneca loira, e a proposta da atriz foi honesta: se a própria Mattel não topasse abordar as nuances negativas de sua criação, alguém o faria em determinado momento. Uma vez convencida, a Mattel entrou na brincadeira — e aceitou até um antagonista com pinta de executivo da empresa, vivido por Will Ferrell.

Fazer Barbie rir de si mesma não foi a única boa sacada. O longa explora também o lado humano de um brinquedo em busca de autodescoberta, com espaço para pincelar questões de gênero e do empoderamento feminino. A direção foi entregue a Greta Gerwig, que começou a carreira no cinema indie e conquistou indicações ao Oscar com trabalhos como Lady Bird. Greta dividiu a missão de criar um roteiro original com Noah Baumbach, seu marido e parceiro de profissão. Para além da clássica boneca loira vivida por Margot e de seu charmoso par romântico interpretado por Ryan Gosling, há um elenco diverso, em aparência e personalidade, de Barbies e Kens — da versão sereia de madeixas azuis da pop star Dua Lipa à presidente da República negra vivida por Issa Rae. A trilha sonora do filme não fica muito atrás na badalação, apostando em nomes como Billie Eilish, Nicki Minaj e Lizzo.

FANTASIA - A personagem diante de sua “Barbielândia”: estoque de tinta rosa-choque esgotado para criar cenário do filme
FANTASIA - A personagem diante de sua “Barbielândia”: estoque de tinta rosa-choque esgotado para criar cenário do filme (Warner Bros. Pictures/.)

Barbie é apenas o primeiro passo do plano da Mattel para as telas. Empenhada em construir um universo cinematográfico próprio baseado em franquias — aposta que foi altamente lucrativa para a rival Hasbro, com os Transformers —, a empresa já anunciou mais catorze filmes inspirados em seus produtos, incluindo um longa dos carrinhos Hot Wheels liderado por J.J. Abrams, um curioso filme surrealista do dinossauro roxo Barney e a história de um action figure astronauta com Tom Hanks. Combinando apelo nostálgico e a aposta em parcerias com mentes criativas (e prestigiadas) de Hollywood, a Mattel pretende trazer frescor para um entretenimento hoje saturado por filmes de heróis e live actions repetitivos — que seguem rentáveis, mas não escapam à sensação de enfado.

A euforia com o filme não surgiu à toa: um espertíssimo plano publicitário promoveu Barbie desde a concepção. Além das bonecas da personagem em suas inúmeras variações, há parcerias com outras marcas, do videogame Xbox à plataforma de hospedagem Airbnb. Durante o mês de julho, estará disponível para aluguel uma Casa dos Sonhos da Barbie em tamanho real nos Estados Unidos — a ação inclui o galã Gosling como anfitrião. O frenesi chegou até ao aplicativo de relacionamento Bumble, que vai fazer uma ação lastreada no filme. Na moda, o “Barbiecore” já se estabeleceu como tendência, com looks monocromáticos — em rosa, claro — roubando a cena.

FACETAS - A influencer Bruna Barbie (à esq.), a casa da boneca no Airbnb (no alto) e as variações dela: diversidade e estilo de vida
FACETAS - A influencer Bruna Barbie (à esq.), a casa da boneca no Airbnb (no alto) e as variações dela: diversidade e estilo de vida (Fotos Facebook @Bruna Barbie; Joyce Lee/Airbnb; Robyn Beck/AFP)

A personagem sustenta hoje — quem diria — um estilo de vida. De forma sintomática, há pelo mundo afora influenciadoras que ganham uma baba ostentando seu jeito de ser. É o caso da curitibana Bruna Carolina Peres, a Bruna Barbie, que acumula mais de 20 milhões de seguidores no TikTok compartilhando uma rotina de fantasia que vai das roupas a seu carro e sua casa, construída como as de brinquedo. “A ideia é ser uma Barbie da vida real”, diz ela. No mundinho cor-de-rosa, tudo é possível. (Revista Veja)

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *