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Ao ser chamado pela segunda vez para tentar abrandar mais uma crise em uma das áreas mais frágeis do governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Ricardo Cappelli ganhou no círculo do poder de Brasília a fama de coringa, reconhecida até por militares.

Nomeado interinamente para o comando do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), cargo que assumiu na semana passada e no qual permanecerá apenas por alguns dias, sua escolha para reestruturar um setor vital para o futuro do governo mostra como o jornalista, formado no movimento estudantil e moldado no PCdoB, tornou-se um quadro que tem se mostrado, até o momento, apto a lidar com a radicalização das forças militares, aspecto crucial dos ataques de 8 de janeiro.
O general Marcos Antonio Amaro dos Santos, da reserva do Exército, é o favorito para assumir o GSI após a demissão do general Gonçalves Dias , mantendo a área sob esfera militar. Amaro chefiou o GSI no governo Dilma Rousseff e foi comandante militar do Sudeste no governo Bolsonaro.
A nomeação interina de Cappelli revela o poder e prestígio do ministro da Justiça, Flávio Dino, na Esplanada dos Ministérios de Lula. Cappelli não tinha proximidade com o presidente até o início do governo.
Após 23 dias de intervenção federal na segurança pública do Distrito Federal, quando exonerou vários policiais militares e autoridades civis que se omitiram nos eventos que levaram às invasões nas sedes dos Três Poderes, Cappelli iniciou a missão de “despolitizar”, ou “desbolsonarizar”, o Gabinete de Segurança Institucional, órgão cuja função é prover a segurança da Presidência.

Como ficou evidente nos últimos dias, a investigação interna no GSI pouco avançou sob o comando de GDias, como é conhecido o general que era amigo de Lula.
Para surpresa de muitos no Executivo, a escolha de Cappelli para a missão recebeu apoio inclusive de oficiais do Exército. Durante o trabalho no Distrito Federal, muitos na Polícia Militar e no entorno da vice-governadora Celina Leão (PP) ficaram com boa impressão do ex-interventor. Agora a tarefa será mais complexa por envolver um setor de inteligência que foi, ao
longo de todo o governo Jair Bolsonaro (PL), identificado com a linha mais radical. O ex-ministro do GSI, general Augusto Heleno, desde sempre fora um grande entusiasta do bolsonarismo.
“Cappelli construiu uma relação de confiança política e pessoal muito forte com Dino. Lula não o conhecia bem. E ele ganhou o respeito na PM do Distrito Federal, evidenciando o êxito de seu trabalho na intervenção”, conta Aldo Rebelo, ex-deputado federal, ex-ministro da Defesa e do Esporte no governo Dilma Rousseff (2011-16), e ex-chefe do agora ministro interino do GSI.
Por cinco anos, Cappelli trabalhou com Aldo, ambos à época no PCdoB, na pasta de Esporte,
ocupando a secretaria nacional de Esporte, Educação, Lazer e Inclusão Social. “Tinha afinidade partidária com ele. Era uma pessoa de muito bom conceito no partido”, contou Aldo. Foi nesse período que o “mundo dos militares” passou a fazer parte da rotina de Cappelli.
“Ele é realmente um coringa que o governo tem”, afirmou ao Valor o general reformado Fernando Azevedo, ministro da Defesa de Bolsonaro entre 2019 e 2021 e que trabalhou ao lado de Cappelli na preparação dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro. (Com Lucas Ferraz – Valor Econômico).

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