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Considerado um dos fundadores da corrente teológica, Boff lamentou que movimento foi incompreendido e perseguido pelos papados de João Paulo II e Bento 16_

Por Humberto Azevedo, especial para o Jornal Pequeno

A teologia da libertação é hoje mais vigorosa, publicizada, propagada e viva que há 40 anos, diz Leonardo Boff. Considerado um dos fundadores da corrente teológica que busca emancipar as comunidades mais carentes seguindo os ensinamentos cristãos, Boff lamentou que o movimento foi incompreendido e perseguido pelos papados de João Paulo II e Bento 16

A declaração, exclusiva para a reportagem, ocorreu após ele conceder uma palestra a um grupo de parlamentares petistas e do PSOL na tarde da última quarta-feira, 22 de março, na sala de reunião de líderes da Câmara dos Deputados a convite da deputada Maria do Rosário (PT-RS) – segunda secretária da Mesa Diretora daquela Casa legislativa.

“A teologia da libertação é uma teologia precedida e incompreendida especialmente por João Paulo II, que temia que essa ideologia fosse uma espécie de cavalo de troia mediante ao qual entraria o marxismo na América Latina. Só que para nós o marxismo nunca foi um perigo. O grande perigo [sempre] foi o capitalismo, mas ele não entendeu”, contou.

“Então, muitos teólogos foram condenados, eu mesmo tive que enfrentar um processo na congregação para a doutrina da fé e com o cardeal Ratzinger, Bento 16, ela foi mais radical ainda. Mas ela [teologia da libertação] passou do grupo mais acadêmico, professores, passou para as bases e ela criou a leitura popular da bíblia, dos grupos de direitos humanos e de vários grupos como, por exemplo, das mulheres, dos afrodescendentes, esses vários grupos e eles desenvolveram a teologia da libertação na linguagem popular partindo para [a compreensão das] opressões concretas deles”, continuou.

“Então é uma teologia muito vigorosa, mais falada do que escrita, mas ela está viva ali. E nós teólogos continuamos e, agora, muito fortificados pelo Papa Francisco. Eu mesmo, dei [uma] conferência com ele em Buenos Aires. Ele até me mandou uma foto em que ele e eu aparecemos juntos e ele falando da teologia da libertação ao estilo argentino, que é do povo oprimido e da cultura silenciada. E nós [aqui do Brasil] mais utilizando as categorias que sofrem opressão, a questão da luta de classes etc. Mas somos complementares. É o mesmo caldo cultural”, complementou.

*Presença em todos os continentes*

Apesar da Igreja Católica ter sofrido nas últimas décadas uma perda de fiéis para igrejas cristãs pentecostais e neopentecostais, sobretudo no Brasil, resultado da perseguição que as comunidades de base que pregavam a teologia da libertação, Boff é otimista com o movimento ao qual ele já classificou como o “futuro da igreja” fundada pelos discípulos de Jesus, São Paulo e São Pedro.

“Então, hoje é uma teologia que está em todos os continentes e ela se enriqueceu [culturalmente] muito. Por que cada grupo [que vive] sua opressão concreta, sejam das mulheres, negros, indígenas, operários, do pessoal da LGBT [lésbicas, gays, bissexuais, transgêneros e mais] e etc, eles criaram a partir das suas situações uma reflexão teológica no sentido de libertação. Isso é forte na África, na Ásia, mesmo nos Estados Unidos e na Europa e sempre que há um Fórum Social Mundial, há um encontro dos teólogos da libertação. E nunca vão menos do que 1500 a duas mil pessoas de todas as partes testemunhando em que pé estão, quais são os problemas. Então é uma teologia viva”, completou.

“Ela não tem muita publicidade como antes, porque antes era perseguida, tida como maxista etc. E havia repressão sobre todos os grupos. Mas ela existe, vai adiante e está reforçada com uma geração nova, que tem outro tipo de linguagem que usa internet, o teatro, os meios que nós não conheciámos na nossa época. Então é uma teologia viva e eu mesmo [já] discuti as últimas fases [dela] com o [acadêmico e sociólogo português] Boaventura de Sousa Santos, que ficou hospedado em minha casa uma semana em que discutimos essas questões todas da fé, da religião, que ele mesmo queria se enriquecer [culturalmente] sobre isso. Mas eu acho que é uma teologia que está em evolução, sempre. Viva e hoje é mais popular do que antigamente era”, finalizou.

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