Levantamento inédito revela que robôs, ou seja, perfis falsos programados para fazer publicações, foram usados para espalhar mensagens de campanha de três candidatos a presidente nas eleições de 2014 no Brasil. A preocupação é que a mesma estratégia seja usada neste ano, só que, desta vez, com a divulgação de notícias falsas.
Na mensagem na rede social, a pessoa que postou tem rosto e nome, mas quem garante que ela existe? Quem garante que você não está vendo o que foi escrito por um perfil falso, por um robô programado para fazer publicações?
A diretoria de Análise de Políticas Públicas da Fundação Getulio Vargas analisou tuítes publicados durante as eleições de 2014 e identificou centenas de robôs que compartilharam conteúdo das campanhas oficiais de Dilma Rousseff, do PT, de Aécio Neves, do PSDB, e de Marina Silva, então filiada ao PSB, hoje, da Rede.
“Se você pensar numa eleição disputada no limitezinho, no final dela, com dois candidatos muito próximos, se você conseguir uma distorção de 2%, 3%, isso pode significar a vitória de um em detrimento de outro. E isso muda muita coisa”, afirma Marco Aurélio Ruediger, diretor de Análise de Políticas Públicas da Fundação Getúlio Vargas ( FGV.
Há um mês, o Fantástico mostrou como notícias falsas se espalham pela internet e como robôs, impulsionando “fake news”, se transformaram em arma política.
“No Brasil, no estudo da FGV, não foram encontradas postagens com fake news. Os tuítes analisados tinham outro tipo de informação: frases positivas sobre Dilma, Aécio e Marina, e também reproduções de links de sites de campanha dos três candidatos. Ou seja, os robôs falavam bem dos políticos que eles “defendiam”, explica Ruediger.
Um processo de difusão de uma informação muito repetida em massa, numa escala grande, que também afeta o processo de escolha porque cria distorções na percepção do que está sendo mais importante nos trending topics.
Quanto mais mensagens falam sobre um mesmo assunto, mais ele parece popular, vira um “trending topic”. No caso de Dilma, 509 robôs replicaram links dos sites de campanha da petista. No dia 25 de outubro de 2014, um perfil publicou um link para baixar o jingle da candidata. Em seguida, quatro outras contas – duas com a mesma foto e três com nomes de identificação muito parecidos – compartilharam a publicação. Sinal de que são robôs, segundo os pesquisadores.
No caso de Aécio, foram 699 robôs. Nesses perfis falsos que postaram a favor do tucano, o estudo encontrou um padrão. Dois desses usuários – Wesley Rodrigues e Dario Costa – têm a mesma foto de perfil e há, nas imagens, uma inscrição em russo.
Outro exemplo: Isaac Duris e Hector Gil também têm a mesma foto de perfil –a do personagem de televisão e cinema Borat com um texto em russo. Na conta de Blue Ximenes, vemos um gatinho, também com uma frase em russo. Quando os pesquisadores fizeram uma busca para ver onde essa imagem já tinha sido publicada, encontraram apenas links de sites da Rússia.
“Isso daí nos leva a suspeição que talvez tenham sido contratados serviços em fábricas de robôs no exterior e principalmente na Rússia ou na Ucrânia”.
Os robôs que tuítaram a favor de Aécio também fizeram postagens pró-Marina Silva, de acordo com o estudo. Essas contas falsas teriam gerado mais de 773 mil publicações. Segundo Pablo Cerdeira, advogado e coordenador do Centro de Tecnologia e Sociedade – FGV, contratar robôs para fazer campanha política é ilegal.
“O que é proibido são esses robôs que tentam mimetizar, que tentam simular que são pessoas físicas e que estão apoiando ou falando contra outro candidato”.
O estudo revelou que o conteúdo compartilhado pelos robôs foi produzido por empresas que prestaram serviços às campanhas de Dilma e Aécio, em 2014, e também pelos partidos dos três candidatos.
O que dizem os citados
A ex-presidente Dilma afirma, em nota, que “em nenhuma de suas campanhas, em 2010 e 2014, contratou ou autorizou que fossem contratados serviços relativos a perfis e notícias falsos ou o uso de robôs”.
O senador Aécio diz, em nota, “que a campanha do PSDB em 2014 não usou robôs nem autorizou que qualquer empresa ou pessoa o fizesse”.
Marina Silva afirma, em nota, que “denunciou robôs”, que “uma movimentação atípica de tuítes a favor dela foi detectada pela própria equipe, em 2014, e relatada ao Twitter”.
O Tribunal Superior Eleitoral diz, em nota, “que tem se empenhado em compreender e mapear os efeitos de conteúdos sabidamente falsos nas eleições para definir um curso de ação”.
O Twitter diz, em nota, que “as regras da rede social proíbem o uso de robôs mal-intencionados” e que “está desenvolvendo ferramentas para combater o uso de contas que violam as políticas”. (G1/Fantástico)
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