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Relatórios enviados pelas polícias Militar, Civil e Federal e pelo Ministério Público nos Estados ao Supremo Tribunal Federal (STF) indicam o perfil dos líderes e financiadores dos protestos com mensagens antidemocráticas que resultaram em bloqueios de estradas após as eleições e concentrações próximas a instalações das Forças Armadas pelo País.

Os documentos foram produzidos por ordem do ministro Alexandre de Moraes e reúnem fotos, levantamentos sobre os alvos e detalhes a respeito do trabalho em curso para desmobilizar as manifestações. As primeiras informações foram divulgadas pelo site SBT News. A reportagem do jornal Estado de S. Paulo (Estadão) teve acesso aos documentos encaminhados pelos órgãos de segurança ao STF.

Os relatórios citam políticos, policiais e ex-policiais, servidores públicos, sindicalistas, fazendeiros, empresários do agronegócio e donos de estandes de tiro. Eles não são acusados de crimes, mas poderão ser investigados criminalmente.

Os relatórios com base em dados colhidos nos pontos de manifestação citam o protagonismo dos líderes, identificam os donos de veículos usados para bloquear vias e os responsáveis por alugar banheiros químicos e carros de som. Os investigadores também buscaram dados nas redes sociais, em que algumas pessoas se identificaram como lideranças ao divulgar os protestos.

Maranhão – No Maranhão, dois candidatos a deputado estadual – um investigador de polícia lotado na Secretaria de Segurança Pública do Estado e um líder do movimento Patriotas do Asfalto SLZ – foram apontados como responsáveis pelas manifestações em frente ao quartel do 24.º Batalhão de Infantaria de Selva (BIS), em São Luís.

Goiás- Em Goiás, empresários donos de uma panificadora, um ex-vereador de São Miguel do Araguaia, um corretor e candidato derrotado a prefeito da cidade em 2020 são citados pela Polícia Civil como líderes de bloqueios na zona rural.

Minas Gerais – Um dos líderes do Movimento Direita BH e um comerciante foram os principais articuladores dos atos em Minais, diz o relatório. Empresários são citados como líderes e organizadores, fornecendo alimento e água para os manifestantes no Paraná.

Rio Grande do Sul – No Rio Grande do Sul, o documento da Polícia Civil do Estado cita um PM aposentado, um representante do movimento Direita RS, um deputado federal eleito e uma agente penitenciária como organizadores e incentivadores de protestos no Estado. A Polícia Civil também monitorou as redes sociais de agentes públicos que, segundo o documento, tiveram “intensa atividade”.

Desde o resultado do segundo turno das eleições, manifestações convocadas por apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (PL) questionam o resultado das urnas. Concentrações mantidas nas sedes de comandos militares foram engrossadas no feriado de Proclamação da República. Os manifestantes defendem ações contra o STF e fazem pedidos de intervenção federal.

‘Extremistas’ – Na noite de segunda-feira, 14, após ser alvo de manifestantes em Nova York, Moraes publicou no Twitter que “o povo se manifestou livremente e a democracia venceu!”. “O Brasil merece paz, serenidade, desenvolvimento e igualdade social. E os extremistas antidemocráticos merecem e terão a aplicação da lei penal.

Não identificados – Por sua vez, o governo do Distrito Federal apresentou ao STF, nessa quarta-feira, 16, um ofício no qual não identifica os chefes do acampamento de bolsonaristas, em frente ao QG do Exército, no Setor Militar Urbano (SMU), que vem realizando manifestações antidemocráticas por causa da vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nas eleições presidenciais. O documento — assinado pelo comandante-geral da PMDF, coronel Fábio Augusto Vieira — afirma, ainda, que os atos dos bolsonaristas são de “iniciativa popular”.

O levantamento, porém, traz uma lista identificando os proprietários — tanto pessoas como empresas — de 234 caminhões que se dirigiram a Brasília para participar de bloqueios e manifestações. O documento lista veículos com placas do DF e de 10 estados: Bahia, Goiás, Maranhão, Minas Gerais, Mato Grosso, Paraná, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, São Paulo e Tocantins.

Sem ilegalidade – No ofício encaminhado ao STF, o movimento em frente ao QG do Exército é classificado como espontâneo. “O movimento em curso desde 1º de novembro não permite atribuir, categoricamente, o status de liderança a nenhum cidadão, por não haver entidades estruturadas na mobilização dos atos”, destaca. E acrescenta que “desde a chegada de tais veículos ao SMU, não foram identificadas, nem por parte do Exército Brasileiro, nem por parte da PMDF, quaisquer irregularidades ou condutas ilícitas praticadas por seus proprietários”.

O documento observa, também, que a área ocupada pelos bolsonaristas no SMU está sob jurisdição do Exército e que, por causa disso, as forças de segurança do DF não podem fazer com que seja desocupada. E ressalta que houve autorização do Comando Militar do Planalto e do próprio GDF para que os veículos estacionassem. (Com Agência Brasil, Correio Braziliense e Agência Estado)