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Três anos e três meses depois de ter lançado a pedra fundamental para erguer um porto privado em São Luís, o grupo China Communications Construction Company (CCCC) nada avançou para colocar em pé o projeto, avaliado em R$ 2 bilhões, à época. Dona de 51% de participação do empreendimento portuário, a gigante chinesa também enfrenta um impasse com seus sócios, a WPR, empresa de infraestrutura do grupo WTorre e a Lyon Capital, fundada por Paulo Remy, com os 49% restantes do negócio.

Os dois acionista minoritários contrataram o BTG Pactual para vender seus 49% no empreendimento.

Quando desembarcou no Brasil com a compra de 80% da construtora Concremat, por R$ 350 milhões, em novembro de 2016, a gigante chinesa, que fatura cerca de US$ 90 bilhões, tinha planos ambiciosos para crescer no Brasil. Mas, desde que chegou ao país, não conseguiu levar adiante projetos bilionários que pretendia participar.

Uma fonte ligada à CCCC afirmou o que a companhia não conseguiu o financiamento de US$ 500 milhões originais necessários para a construção do condomínio multicargas de São Luís, que teria potencial para quase dobrar a movimentação do porto público do Itaqui (MA), o sexto do país.

Para uma outra pessoa ligada aos acionistas minoritários, interessa à CCCC participar de projetos nos quais a gigante atue apenas como construtora. “O projeto do porto não saiu do lugar. Eles chegaram com a promessa de cheque em branco, mas não conseguiram levantar os recursos para financiar as obras”, disse essa fonte.

O grupo chinês também tinha planos de comprar uma fatia minoritária da Malha Sul, que pertence à Rumo, do grupo Cosan, e chegou a fazer proposta para adquirir o Terminal Graneleiro da Babitonga (TGB), em São Francisco do Sul (SC), mas não avançaram nas propostas de compra. A CCCC também foi apontada como candidata à concessão da ferrovia Fiol, mas não fez proposta.

O diretor executivo da CCCC no Brasil, Helder Dantas, explicou que o projeto do Porto de São Luís tem sido reavaliado, mas o grupo chinês tem intenções de seguir adiante com os planos e está buscando alternativas de financiar as obras. “Também enfrentamos uma série de questões fundiárias, que atrapalharam o projeto, mas estamos avançando”.

Segundo Dantas, que também é presidente do porto, os planos vão seguir, mesmo com a mudança no quadro societário, e os tu projeto foi reavaliado para cerca de R$ 3,5 bilhões, que deve ser concluído em duas etapas, ao longo de dez anos. Para o executivo, é muito difícil explicar à matriz chinesa o excesso de burocracia do país.

Em novembro passado, a CCCC assinou um contrato de parceria com a chinesa CR20 para a construção do Sistema Rodoviário Ponte Salvador-Ilha de Itaparica, avaliado em R$ 7,7 bilhões. O secretário de infraestrutura do governo do Estado da Bahia, Marcus Cavalcanti, disse que os dois grupos vão entregar até o fim deste ano o projeto de desenvolvimento e que a Sociedade de Propósito Específico (SPE) já foi constituída.

Assim como a CCCC, diversos grupos chineses desembarcaram no país de 2015 para cá procurando ativos para avançar sobretudo nas áreas de energia e infraestrutura. “O Brasil não tem o melhor ambiente amigável para se fazer negócio. É preciso ressaltar isso”, disse Charles Tang, presidente da Câmara de Comércio e Indústria Brasil-China.

De acordo com Tang, que representa interesse de grupos chineses do Brasil, a pandemia, o custo Brasil e o governo brasileiro mais beligerante com a China fizeram com que os investidores chineses ficassem mais receosos com o país. “O Brasil está concorrendo com países do mundo todo para receber investimentos e o governo chinês prefere fazer apostas onde é bem-vindo”.

Há muita disposição dos grupos chineses de fazerem investimentos no Brasil, afirmou Tang, destancando que o setor elétrico foi um dos principais a receber aportes chineses nos últimos anos.

Procurados, BTG e Lyon Capital não comentam o assunto. A WTorre não retornou os pedidos de entrevista até fechamento da edição.

(Monica Scaramuzzo – Valor Econômico)