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Rogério Chequer, cofundador do movimento Vem Pra Rua, acredita que a governabilidade de Jair Bolsonaro acabou e que, daqui para frente, o presidente fará o que o Centrão mandar para se sustentar no Planalto.

Em entrevista exclusiva ao site O Antagonista, Chequer reafirma que “o Brasil foi tomado de novo” e que Bolsonaro “nunca foi exatamente a favor da Lava Jato” — para ele, o então candidato usou a maior operação policial contra a corrupção do país e a figura de Sergio Moro para se cacifar diante do eleitorado.

Chequer diz também que, em meio à pandemia da Covid-19, não é hora de falar em impeachment, embora muitos juristas indiquem uma série de crimes de responsabilidade supostamente cometidos por Bolsonaro.

Eis a íntegra da entrevista:

O movimento Vem Pra Rua defende o impeachment de Jair Bolsonaro?

O Vem Pra Rua defendeu o impeachment de Dilma Rousseff após o TCU ter decidido, por unanimidade, condenar as contas de seu governo, configurando-as como fraude fiscal. Da mesma forma, defende o afastamento de qualquer presidente que incorra em qualquer tipo de crime, sempre dentro do devido processo legal.

O impeachment é um processo jurídico e político. Diversos juristas sustentam que há crimes de responsabilidade cometidos por Bolsonaro. Diante da pandemia da Covid-19, porém, acreditamos que não seja o momento de falar em impeachment de Bolsonaro, dado que um processo dessa natureza agravaria ainda mais a atual crise sanitária e alavancaria o número de mortes pela doença.

No ano passado, você escreveu uma carta aberta criticando ações do governo Bolsonaro e dizendo que “o Brasil foi tomado de novo”. Está convencido disso?

Sim, infelizmente foi isto que aconteceu: o Brasil foi tomado de novo. Todas as críticas que fiz permanecem mais vivas do que nunca. Acrescentaria outras que não estavam ainda consolidadas na época, mas já estão agora, como a política do ‘toma lá, dá cá’, que fez tanto mal ao país.

Sem atingir governabilidade — por sua própria responsabilidade, vide a quantidade de crises que ele mesmo provocou –, Bolsonaro fez aliança com o que há de pior na política do país. O que dizer do novo ‘guru’ político do presidente, Roberto Jefferson? Isso tem um custo enorme e quem o paga são os brasileiros. Precisaremos pensar muito antes de escolher o próximo presidente, já que precisamos sair desta polarização, que só beneficia os dois extremos e impede o país de progredir.

Na sua opinião, o que foi mais determinante para que um governo eleito na esteira da Lava Jato se voltasse justamente contra a Lava Jato?

Penso que há dois motivos fundamentais: o primeiro deles é que, na realidade, Bolsonaro nunca foi exatamente a favor da Lava Jato. Ele usou a operação para se eleger, assim como usou Sergio Moro para credibilizar uma promessa que não seria cumprida. O discurso pró-Lava Jato foi uma ferramenta decisiva para o apoio de milhões de eleitores. Bolsonaro não mudou. Apenas voltou a ser o que sempre foi.

Em segundo lugar, eu diria que é por pura preservação. Está claro que Bolsonaro não coordenou uma corrupção gigantesca, como vimos nos governos do PT, mesmo porque ele está na Presidência há menos de 2 anos. Mas também está claro que a família Bolsonaro está envolvida em negociatas bem pouco ortodoxas, pra dizer o mínimo. Portanto, eles têm razão para temer a Justiça e a Lava Jato.

Bolsonaro se junta ao sistema que condenava para proteger a si mesmo e à família. E tenta eliminar os mecanismos institucionais que podem comprometê-los. Vimos isso acontecer na Itália, e isso agora acontece aqui no Brasil.

Você tem alguma esperança de que Bolsonaro possa vir a apoiar publicamente a prisão em segunda instância (a PEC tramita na Câmara)?

Não. Bolsonaro não governa mais, sua governabilidade acabou. Ele só poderá fazer o que seus novos ‘aliados’ mandarem. E o Centrão é majoritariamente contra a prisão após condenação em segunda instância. Mais uma vez, estamos falando de autopreservação. (O Antagonista)