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O médico Arnaldo Lichtenstein, diretor técnico de clínicas do Hospital das Clínicas, comentou, nesta quarta-feira, 13, falas do presidente Jair Bolsonaro sobre a pandemia do novo coronavírus. Na avaliação do médico, não se trata apenas de negar a ciência, e sim de uma lógica eugenista.

O comentário do Dr. Lichtenstein aconteceu em resposta a uma fala de espectador lida pela âncora do programa ‘Jornal da Cultura’, Karyn Bravo. Ele lembrou que Bolsonaro disse que o Brasil vive neurose com o coronavírus e que 70% das pessoas irão pegar a covid-19.

Segundo o presidente Jair Bolsonaro, é uma neurose com o coronavírus no Brasil, “porque 70% da população vai se contaminar”. “Portanto, são 140 milhões de infectados. Como a mortalidade é de 3%, teremos aí cerca de 4 milhões de mortos. Sem contar as mortes por outras causas não atendidas por falta de espaço devido à pandemia do coronavírus”, avaliou a apresentadora Karyn Bravo, que discutia o tema “Negacionistas que desprezam evidências médicas”.

Disse Arnaldo Lichtenstein, Diretor Técnico de Clínicas do Hospital das Clínicas de São Paulo:

“Isso que o presidente falou levanta um ponto importante. Não é um negacionismo da ciência isso; é uma linha de raciocínio muito diferente e cruel. O que se sabe é que a epidemia vai passar quando 50 a 70% das pessoas estiverem imunizadas; ou com vacina ou pegando a doença. Quando se pega isso o vírus arrefece. São 120, 140 milhões de pessoas. Com isso, o que vai acontecer quando as pessoas não defendem o isolamento? Não se fecha comércio, a economia não para, o governo não precisa colocar dinheiro na economia, as pessoas que vão morrer, muitas, são os idosos. E aí tem o discurso: ‘mas e aí, ia morrer mesmo’! Ou as pessoas que já têm doenças, já estavam doentes… e vão ficar os jovens e atletas. Então se a gente pegar pedaços da fala (de Bolsonaro) tem uma lógica intensa. Isso chama ‘eugenia’ (*). Lembre-se de que o sistema político mundial usava isso. Então, quando você fala ‘que morram os vulneráveis, para a gente ter uma geração saudável’, pode ser que esteja permeando essa história de ‘vamos acabar logo com essa tortura’, ‘não vamos ter o derretimento da economia’. É uma coisa muito mais perversa do que simplesmente não acreditar na ciência. É um outro tipo de teoria que pode ser muito pior do que isso”.

(*) Eugenia: Teoria que busca produzir uma seleção nas coletividades humanas, baseada em leis genéticas”.