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A médica piauiense Marina Bucar, que está na Espanha e recomenda o ‘Protocolo de Madri’, atuou na linha de frente, na Europa, desde o início da pandemia do novo coronavírus. E iniciou um tratamento em vários pacientes no hospital que trabalha. Utilizado na fase inicial da doença, ele é feito à base de corticoides, hidroxocloroquina e cloroquina com azitromicina.

O método tem sido utilizado no Hospital Regional Tibério Nunes, de Floriano (250km de Teresina), cidade natal de Marina Bucar. Sua família é uma das mais conhecidas em toda a região.

O diretor técnico do HR, Justino Moreira, admite que está seguindo o protocolo repassado e explica com detalhes como funciona.

O tratamento – Chamado de “tratamento precoce”, segundo Justino Moreira, cuida das pessoas ainda nos primeiros dias dos sintomas, por mais simples que seja. “Esse tratamento é dividido em duas fases: uma, a gente chama de fase inicial dos sintomas. E são sintomas como febre, dores de cabeça, dores nos músculos… que não passam com paracetamol… é a falta do olfato, sentir o cheiro e gosto das coisas. Essa parte, se tiver com dois dias de sintoma, a gente dispõe do tratamento precoce, com uso da hidroxocloroquina ou a cloroquina com azitromicina. Esse tratamento dura cinco dias. Passada essa fase, não passando, passamos para a segunda fase, que é a hospitalar”, disse Moreira.
“Na segunda fase, após a segunda semana sem melhora, adotamos um tratamento que foi usado na Espanha, que a doutora Marina Bucar trouxe para Floriano, chamado ‘pulsoterapia com corticoides’. É uma fase inflamatória. A inflamação é tão grande que causa uma destruição do pulmão. Uma vez a gente aplicando essa medicação nesta fase, ocorre uma desinflamação e a melhora rápida clínica dos pacientes. Temos feito em pacientes e obtido sucesso. Pessoas que tinham entre 50% a 70% dos pulmões comprometidos conseguimos melhorar e dar alta a estes pacientes, ressaltou Justino Moreira.

Resistência ao tratamento – O portal piauiense OitoMeia, editado pelo jornalista Alisson Paixão, conversou com o médico Anatole Borges, que divulgou nesta semana um vídeo relatando uma espécie de “resistência, por parte das autoridades da saúde no Piauí e em Teresina”, ao tratamento precoce. “Eu, na verdade, engrosso o coro de outros colegas médicos, como o Dr Sabas, Dr Luís Ayrton. Fazemos parte de um grupo de médicos que tem tentando mostrar aos colegas locais que esse tratamento, feito de forma precoce, trazido por uma médica piauiense, que é a Dra. Marina, tem obtido resultados positivos. Mas esbarra, segundo eles, na necessidade de evidências científicas absolutas, evidências nível A, quando na verdade neste período de pandemia não há tempo de produzir essas evidências. O que a gente tem é o que o dia a dia vai nos mostrando. O que sabemos hoje é menos do que a gente sabe amanhã e mais do que a gente soube alguns dias atrás. E o que a gente percebe é uma resistência enorme em pelo menos introduzir esse tratamento, pelo menos em caráter local, ou determinados grupos. E isso tem levado a um aumento dos casos de coronavírus, aumento das internações e, consequentemente, um aumento do número de mortes. É importante que se diga: o que estamos tentando é ajudar o paciente, mesmo que não tenhamos todos os recursos disponíveis. Essa é a medicina humana”, informou.
“Intromissão do governo” – Outro médico que fala abertamente sobre essa resistência é Sabas Vieira, que tem defendido inclusive uma intromissão por parte do Governo Federal para que o tratamento precoce seja implementado. “Infelizmente, a janela de oportunidade foi perdida. O que podemos fazer é diminuir o número de mortes. Há algumas semanas pedimos que fosse implementado, e que essa medicação fosse distribuída em alguns hospitais. É importante que os gestores federais instalem esse protocolo em caráter de urgência, que o Exército entre e que os médicos estejam preparados para iniciar este protocolo. Os pacientes estão chegando numa fase tardia. O Ministério da Saúde errou ao dizer que os pacientes deveriam procurar um médico depois que sentissem falta de ar. Foi um erro”.

Sabas Vieira disse, ainda, que “nós temos dúvida se a cloroquina realmente tem algum grande impacto científico. Não existe uma evidência sólida disso. Verdade. Porém em relação ao corticoide nós conseguimos usar. Esta é a realidade”, disse ele em recente live transmitida pela TV Meio Norte com um grupo de médicos.

O que dizem a SESAPI, a FMS e o CRM-PI – O Governo do Estado e o Conselho Regional de Medicina(CRM-PI) se manifestaram sobre o protocolo repassado pela médica piauiense e a respeito da suposta resistência de médicos piauienses. A prefeitura não quis se posicionar.

A assessoria da Secretaria Estadual da Saúde (Sesapi) mostrou um vídeo do médico José Noronha, intensivista e infectologista, diretor do Hospital Natan Portela (que mais recebe casos), informando que não há tratamento confirmado para combater o coronavírus: “Até este momento, não há tratamento efetivo, com eficácia comprovada, descrito em literatura, nem mesmo vacina. A melhor medida para toda a população é manter o isolamento social, é manter o isolamento espacial. É a melhor forma de proteger quem mais amamos”, disse Noronha.

O CRM-PI disse que o uso de medicação ou tratamento é de responsabilidade dos médicos: “As Câmaras Técnicas de Infectologia e de Medicina Intensiva do Conselho Regional de Medicina do Estado do Piauí entendem que, muito embora os resultados da utilização da cloroquina sejam apenas experimentais, não havendo ainda evidências científicas comprovando a sua eficácia, o médico tem autonomia para prescrever cloroquina ou hidroxicloroquina para o tratamento da COVID-19. Para tanto, o médico deve estar ciente dos riscos e precauções que deve tomar quanto aos antecedentes do paciente em relação à doença cardíaca retinopatias, maculopatias, insuficiência hepática, epilepsia ou hipersensibilidade à droga. Nesse sentido, os pacientes para os quais forem prescritas cloroquina ou hidroxicloroquina precisam ser monitorados quanto aos eventos adversos cardiovasculares e outros inerentes ao uso desses fármacos. Quanto às informações ao paciente, o médico deve informá-lo de todas as possíveis complicações e efeitos colaterais, mediante a assinatura de Termo de Consentimento Livre e Esclarecido – Anexo I do presente parecer. Por fim, vale ressaltar que os estudos sobre a utilização da cloroquina para tratamento de COVID-19 estão sendo atualizados a todo momento, devendo o médico buscar as orientações necessárias e atuais junto aos órgãos superiores de saúde a respeito de doses, duração do tratamento e associações com outras drogas”. (Com informações e reportagem do Portal OitoMeia, editado por Alisson Paixão)