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Como bem disse o governador do Maranhão, Carlos Brandão, num vídeo gravado, “um sonho antigo está se concretizando hoje”, com a inauguração de “uma obra histórica e muito aguardada, que vai potencializar o desenvolvimento do nosso país, reduzir custos logísticos e a emissão de poluentes, além de fomentar a geração de emprego para todo o novo corredor logístico”.

Carlos Brandão se refere à imponente Ferrovia Norte Sul, que, depois de 36 anos de espera, será entregue, nesta sexta-feira, 16, pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em solenidade histórica e marcante no município de Rio Verde, em Goiás, com a presença do governador maranhense, do ex-presidente José Sarney, e do ex-ministro dos Transportes José Reinaldo Tavares, hoje secretário de Desenvolvimento Econômico do governo estadual. Todos convidados pelo presidente da República.

Depoimento de personagens importantes – Diante da importância do evento para o Maranhão, o Portal O INFORMANTE foi atrás do depoimento de três personagens fundamentais para a concretização desse sonho: o ex-presidente José Sarney, o ex-ministro José Reinaldo Tavares e o ex-presidente da VALEC Engenharia, Construções e Ferrovias S/A Luiz Raimundo Azevedo. Conseguimos de José Reinaldo e Luiz Raimundo.

DEPOIMENTO DE JOSÉ REINALDO TAVARES

Ferrovia Norte-Sul: Valeu a luta!

Quando o presidente José Sarney me pediu – eu era ministro dos Transportes – que estudasse a construção de uma ferrovia que servisse de eixo para o desenvolvimento do interior do Brasil, ligando o Porto do Itaqui (MA) ao Porto de Santos (SP), eu vi que essa ferrovia fazia parte dos primeiros Planos Nacionais de Viação, ainda no século 19. Decidido, mantive, praticamente, o traçado básico. 

Minha primeira providência foi ligar para o engenheiro Eliézer Batista, presidente da então Companhia Vale do Rio Doce, que havia recém-concluído a moderna Estrada de Ferro dos Carajás. Ele exultou com a notícia. E deu todo o apoio que precisava. A VALEC, empresa da Vale que havia construído a EFC, estava sem função. E ele sugeriu que essa empresa poderia ser transferida para o organograma do Ministério dos Transportes, e, se eu assim quisesse, deveria oficiar ao ministro das Minas e Energia pedindo a transferência da empresa para os Transportes. Eu aceitei e pedi mais: que ela viesse com todo o pessoal que trabalhou nessa construção, com os seus salários por conta da Vale. Eliézer riu e concordou. Ele era um homem realizador, que queria o desenvolvimento do Brasil.

Quando a indústria de caminhões do Sudeste compreendeu que esse projeto mudaria para sempre a Matriz de Transporte de Cargas do Brasil, quase que inteiramente feito em caminhões, começou a reação. A poderosa imprensa da região entrou junto na luta contra a Norte Sul. E o mínimo que dizia é que ligaria “o nada a coisa nenhuma”. Pessoas desconhecidas apareciam condenando o empreendimento, falando como se fossem técnicos conceituados no meio. Um deles deu um parecer dizendo que a solução deveria ser o Rio Araguaia, ridicularizado pelos políticos de Goiás que conheciam o rio muito bem e sabiam que em grande parte do ano fica quase seco e não tem leito fixo. Mario Amato, poderoso presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) e da General Motors, ligou-me para pedir que me ocupasse de outros projetos, que eu era um cara inteligente e largasse esse projeto de mão.

Mas, éramos muito resilientes e sabíamos da imensa importância da Ferrovia Norte Sul. E, com essa certeza, vencemos todos os obstáculos colocados em nosso caminho. Apanhamos muito, foi um tempo difícil e hoje todos a aplaudem e querem construir ramais, querendo fazer parte desse novo Brasil.

Fiquei muito feliz quando a Rumo ganhou o leilão para concluí-la, pois para mim significava que a FNS ficaria, finalmente, pronta e teria boa qualidade. 

E é isso que estamos vendo.

Parabéns à Rumo! Parabéns ao Brasil!   

 

DEPOIMENTO DE LUIZ RAIMUNDO AZEVEDO

Ferrovia Norte-Sul: 36 anos!

Com alegria, participo, nesta sexta-feira, 16, da inauguração da Ferrovia Norte Sul, que vai permitir a ligação do complexo portuário do Itaqui, no Maranhão, ao Porto de Santos, em São Paulo. Vivas ao presidente José Sarney!

Aportei na VALEC em 1995, no primeiro mandato do presidente Fernando Henrique Cardoso, e de lá saí entregando a presidência da estatal já neste século, em 2002, no início do primeiro mandato do presidente Lula da Silva.

Na minha fala inaugural aos 72 empregados da VALEC, alguns deles oriundos dos quadros da VALUEC (Executora da ferrovia Carajás), disse-lhes que a diretriz e a bitola larga de 1,60 metros seriam mantidas como queriam seus idealizadores, e que não mudaríamos nenhum deles de suas funções; eles que se mudassem para esses novos tempos. Sim! Novos tempos, porque no período governamental do presidente Collor a ferrovia, no geral, foi paralisada.

Chamamos para o aconselhamento e conversas produtivas todos os presidentes daquela estatal ainda vivos: Paulo Augusto Vivacqua, entre eles, na busca de aprendermos com certos erros deles e tentarmos minimizar futuros equívocos de percurso. E isso deu muito certo.

Tempos de orçamento curtíssimo nos impeliram a chamar o Batalhão Ferroviário de Araguari para dar continuidade às obras. Era ainda estigmatizada a ferrovia Norte Sul, da qual diziam que iria ligar nada a coisa nenhuma, um chiste maldoso por mudar. Intentamos a mudar e foi assim que, acompanhando quatro governadores da região a ser percorrida pela ferrovia, fomos ao Banco Mundial em Washington; assim como foi sugerido pelo governador Siqueira Campos (Estado do Tocantins), a quem a ferrovia muito deve, pelo irrestrito apoio manifestado por ele a todos os três senhores ministros dos Transportes no período em que estivemos à frente da VALEC.

Só depois dessa viagem, em 1997, e do reconhecimento da viabilidade da ferrovia para o desenvolvimento do Brasil, feito e escrito pelos técnicos do Banco Mundial, pudemos lançar a primeira concorrência pública de um trecho ferroviário novo. Nesse ínterim, tínhamos concluído, com a prata da casa, os projetos executivos desde Imperatriz até o Tocantins – inclusive o da reparação do projeto da ponte ferroviária, com 1260m sobre o rio Tocantins, concluída em 2001 e inaugurada em setembro de 2002.

Nessa época, foram refeitos os estudos ambientais e relatórios de impacto ambiental. Ambos aprovados com destaque pelo Ibama, ao constatar a qualidade técnica dos estudos, e, sobretudo, a mudança na dormentação, antes em madeira, agora em vante por dormente em concreto postendido – nisso fomos pioneiros. A primeira fábrica destes produtos foi alocada em Porto Franco, assim como o foi a implantação do primeiro pátio de integração multimodal da ferrovia, com três grandestrades’ da soja a ocupá-lo: Cargill, Bunge e Multigrain.

Tempos difíceis, já pontuei, mas a pequena equipe que tive a honra de comandar muito me ajudou a vencer barreiras e obstáculos; sobretudo, no trato das questões técnicas e aquelas envolvendo eventuais passivos ambientais encontrados e outros por existirem nos procedimentos de execução do trecho Imperatriz (MA)-Aguiarnópolis, no Tocantins. Assim como a readequação do trecho ferroviário Açailândia-Imperatriz, diante da necessidade de prover segurança ao transporte de passageiros de então.

Guardo na lembrança as visitas de amigos do projeto: governadores da região do MATOPIBA, do ministro Édson Vidigal, então presidente do Superior Tribunal de Justiça (STJ), e de senadores, entre os quais Edison Lobão, Waldeck Ornelas, da Bahia; Leomar Quintanilha, do Tocantins, e do vice-governador do Maranhão José Reinaldo Tavares, ministro no governo Sarney, que concluiu o trecho de 89 quilômetros ligando AçailândiaImperatriz. Todos plantaram suas árvores, mudas de espécies usadas nos antigos e substituídos dormentes, por outros em concreto. No trecho, plantamos mais de sessenta mil mudas de árvores, como ensinava o Relatório de Impacto Ambiental.

A Cruz de trilhos formada pela Ferrovia da Integração Centro-Oeste (FICO) e a Ferrovia da integração Oeste Leste (FIOL), ambas com diretriz projetada no período FHC, está aí agora sendo executada com modificação nos pontos de interação com a Norte-Sul. Antes pensada em Colinas do Tocantins, no caso da FICO.

O roçado com a enxada nos últimos 40 anos vem dando lugar à nova agricultura de precisão e da utilização gradativa das áreas degradadas, com tecnologias desenvolvidas pela nossa Embrapa. Drones e maquinários comandados por computadores georreferenciados. Tudo isso vem sendo feito nos plantios e colheitamentos acima do paralelo 16 sul, e a ferrovia e vias navegáveis presentes avançando para diminuir valor de frete e promover a descarbonização dos transportes.

O agronegócio cresce nessa região do MATOPIBA e Arco Norte, e  suplantaremos a produção de grãos do Sudeste brasileiro.

Em 2022, a safra brasileira foi de 272 MILHOES DE TONELADAS (57% destes produzidos aqui no Corredor Centro Norte), e o país avança para alcançar uma safra de 300 MILHOES de toneladas por ano, consolidando-se como um dos maiores produtores mundiais e um dos grandes exportadores, com a inclusa adição de produtos alimentares; inclusive, proteínas animais e outros de maior valor agregado .

Será cada vez mais crescente o escoamento dessas safras e bens na Norte Sul até os nossos portos, e em futuro próximo, com o prolongamento da Norte Sul até Alcântara e ao Porto de Vila do Conde, estes como o querem os paraenses.

Antevejo um crescimento, nos próximos cinco anos, na utilização de contêineres, inclusive frigorificados, no ir e vir da ferrovia. Fato este que propiciará importantes ganhos para a logística de transportes de bens e a descarbonização do Agronegócio e do transporte a longa distância, rumo aos portos da Europa e, sobretudo, da Ásia.

Graças a Deus estou vivo para aplaudir e dizer do orgulho que sinto em ter dado prosseguimento ao projeto e velado por sua diretriz, ligando o Maranhão até o Rio Grande do Sul, por ferrovia.

Aleluias aos governantes de então e de agora; a cada um que a sua parte fez. Infraestrutura função de Estado, e não de um Governo.

Luiz Raimundo Azevedo é engenheiro civil, ex-presidente da Valec, professor aposentado da UEMA, consultor da Universidade CEUMA e atual presidente do Conselho Maranhão Export.

Depoimento aguardado – O INFORMANTE aguarda o depoimento do ex-presidente da República José Sarney; sem dúvida, a figura mais importante da construção da Ferrovia Norte-Sul (FNS).

 

One thought on “Zé Reinaldo Tavares e Luiz Raimundo Azevedo revelam bastidores históricos da construção da Norte-Sul

  1. Pará-bens ao paraenses, que lutaram para ter o ramal até o seu porto de Vila do Conde.
    Agora Brnadão faça a ferrocial Central do Maranhão, de Miranda a Alto Parnaiba, passando por Bacabal, Pedreiras, Barra do Corda.

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