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Os corais da Amazônia são um mito! De fato, há anos circulam imagens que seriam de corais originários da Bacia Sedimentar da Foz do Amazonas. Essas imagens causaram tanta comoção no Brasil que até apareceram em camisetas com chamadas em novelas. E, em recente artigo no Globo, assinado por Miguel de Almeida, encontramos a afirmação de que “existe um recife de corais, descoberto em 2016, riquíssimo em biodiversidade, do tamanho do estado da Paraíba”.

Cremos que precisamos de mais Ciência no debate brasileiro, inclusive para dar conforto aos decisores sobre os próximos passos. Seguindo esse raciocínio, um grande grupo de cientistas foi formado e há cinco anos, vem estudando e pesquisando sobre a Margem Equatorial Brasileira (MEQ). Hoje temos a maior rede de especialistas, composta por pesquisadores de 14 universidades brasileiras, entre instituições do Norte e Nordeste e outras com grande tradição e conhecimento sobre a MEQ – chamada Rede Amazonia Azul.
Os corais podem ser entendidos como pequenos animais marinhos que se agrupam em colônias e muitas vezes têm esqueletos duros. Já as algas calcárias possuem o carbonato de cálcio, um mineral que forma o calcário, em suas paredes celulares. Elas são como “algas que se tornaram pedra”.

Em termos simples, a borda da plataforma continental é como a “borda” ou “fronteira” entre a parte rasa do oceano próximo à costa e sua parte mais profunda. A região de borda de plataforma da bacia da Foz do Amazonas é recoberta por algas calcárias, em sua maioria mortas, pois seu ápice de desenvolvimento aconteceu entre 17 e 11 mil anos atrás quando o nível do mar estava entre 100 e 120m abaixo do atual, portanto, na chamada Última Era do Gelo.

Na borda da plataforma continental da bacia da Foz do Amazonas é possível que se encontre um ou outro individuo de coral vivo, mas não são formadores de colônias ou recifes, tanto pela espécie de coral, quanto pela quantidade. Da mesma forma, algas calcárias vivas também podem ser encontradas, mas tampouco formam recifes em função das qualidades ambientais atuais, em que são essenciais luminosidade, transparência da água e pequena profundidade.

Não foram os cientistas, mas leigos, possivelmente ligados a movimentos internacionais muito ricos e muito bem articulados, que criaram o mito, distribuindo imagens de corais cujas características faz-nos suspeitar que possivelmente foram feitas no Caribe.
Faixa carbonática de borda de plataforma é uma região geológica onde as rochas sedimentares predominantes são compostas de carbonato de cálcio. No Brasil, as algas calcárias formam uma faixa carbonática na borda de plataforma da bacia sedimentar da Foz do Amazonas e se estendem rumo ao sul, até Santa Catarina! Ou seja, a faixa carbonática atravessa também as bacias sedimentares de Sergipe-Alagoas, Espírito Santo, Campos e Santos. A presença de algas calcárias vivas é bem maior nessas duas últimas e, bom enfatizar, que é também onde há maior proximidade dos campos de petróleo quando se compara com a Bacia Sedimentar da Foz do Amazonas.

Subjacente ao debate sobre os corais – ou maior que ele – é a clara intenção de acabar com a indústria de petróleo e gás do Brasil – o que se entende como um claro movimento de digitais internacionais. Em termos simples, o intuito claro é fechar um dos maiores orgulhos da História Nacional: a Petrobras!

Nenhuma fonte de energia nos dois últimos séculos foi dizimada ou desapareceu no mundo. Todas continuam sendo utilizadas há décadas, algumas sem cair seu uso (lenha ou nuclear) e outras (petróleo, carvão, gás natural, renováveis) aumentando diariamente seu consumo, com tendência de alta. O que a História mostra é que a diversificação da matriz energética aconteceu — e nesse quesito o Brasil está onde o planeta gostaria de estar em 2050 — com uma matriz exuberantemente limpa.
Mais Ciência!

1.​Professor titular da UFMA, Pós-doutorado no RIKEN, Japão, PhD pela Universidade de Nagoya, Japão, ex-Diretor da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis, Presidente da Gasmar.
2.​Professor titular do da UFF, doutorado em Geologia e Geofísica Marinha pela Universidade de Miami, EUA.
(Publicado em O GLOBO).

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