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A polêmica do Mercado das Tulhas, no Reviver (Centro Histórico de São Luís), que envolveu brincantes de uma roda de tambor de crioula, a administração da feira e militares do Batalhão de Polícia do Turismo (BPTur), no início da noite de sexta-feira, 22, mostrou o quanto a ação de militantes e simpatizantes políticos é nefasta para a informação correta e no devido tom dos fatos. Quando se soma a isso a interferência de gestores sem maiores experiências e políticos oportunistas e afoitos, não necessariamente sendo este o caso na situação do fim de semana que passou, a distorção da notícia corre riscos maiores e se torna perigosa.

O blog O INFORMANTE (JP Online – Grupo JP) aproveitou o fim de semana para fazer um amplo levantamento do que aconteceu e, assim, poder levar aos leitores uma informação segura, como manda o bom jornalismo.
O vulto que o fato tomou nas redes sociais, grupos de Whats App e veículos eletrônicos de comunicação surpreendeu as partes envolvidas, principalmente o comando do BPTur, na pessoa do Tenente Coronel Rômulo.

Na verdade, houve uma discussão na porta do mercado envolvendo a administradora Patrícia Brandão e alguns representantes da roda de tambor de Crioula (que se apresentava espontaneamente no interior da feira), e o secretário titular da Semapa (Secretaria Municipal de Agricultura, Pesca e Abastecimento), Liviomar Macatrão, numa atitude isolada, porque o estabelecimento é de responsabilidade da prefeitura, ligou para o BPTur informando, pois o Batalhão de Turismo já havia reunido com ele e havia uma determinação do Ministério Público Estadual proibindo a realização desse tipo de evento na casa. O próprio TenCel Rômulo pediu à guarnição que fosse verificar o que estava acontecendo. No interior do mercado, em meio ao diálogo com os brincantes, os policiais foram surpreendidos por uma filmagem dos manifestantes, que logo ‘estouraram’ nas redes sociais, junto com uma séria de notas em veículos eletrônicos.

“Não houve qualquer tipo de abuso de autoridade; inclusive os brincantes não criaram maiores problemas e encerraram a apresentação”, disse o comandante do BPTur, surpreso, depois, com a conotação que foi dada ao fato, “completamente fora da realidade do que aconteceu no Mercado das Tulhas”, completou.

Explicou o TenCel Rômulo que não houve, por parte da PM, qualquer conotação política. “O intuito foi garantir a segurança dos brincantes, dos turistas e dos feirantes”, ressaltou o comandante.

O vulto desnecessário – Sem maiores necessidades, o fato gerou um ruído forte nas redes sociais, que varou a noite de sexta-feira e entrou pelo sábado. Na manhã seguinte, os professores e ex-secretários de estado da Cultura Felipe Camarão e Anderson Lindoso emitiram “Nota de Repúdio”, considerando “inadmissível o que o prefeito Eduardo Braide” (de São Luís) “mandou fazer com uma manifestação cultural e religiosa” que se realizava no Mercado das Tulhas, no Reviver, centro histórico da capital. Segundo Felipe e Anderson, Braide havia acionado a polícia “para acabar com uma manifestação cultural espontânea que se realizava naquele espaço”.

“Inadmissível o que o prefeito Eduardo Braide mandou fazer com uma manifestação cultural e religiosa tão importante para nosso estado, que ocorria de forma espontânea, em um espaço que é sinônimo da diversidade da nossa gente, o Mercado das Tulhas”, protestaram.

Por fim, os ex-secretários condenaram “veementemente uma atitude tão grosseira e desrespeitosa” e se solidarizaram com os manifestantes “que tanto representam a resistência dos valores culturais afro-brasileiros”.

Pontos levantados – Questionados por O INFORMANTE sobre a ação ter tido a participação do Ministério Público (na verdade, o MP nada teve a ver com a ação naquele momento), os ex-secretários reafirmaram que a polícia foi acionada pelo prefeito Eduardo Braide.
“A questão é a forma como foi feito”, disseram. E enumeraram alguns pontos:
1º- MP faz a recomendação (que fala de eventos e protege o patrimônio);

2 – Não foi evento, mas, sim, uma manifestação cultural espontânea, sem uso de equipamentos de grande porte que pudessem afetar o patrimônio;

3 – Não há decisão judicial que possa relativizar o direito fundamental de livre expressão cultural e religiosa;

4 – Essa situação deveria ser resolvida sem uso de força, mas apenas com diálogo, respeitando nosso povo sofrido que precisa de ações de salvaguarda para se reafirmar perante uma sociedade preconceituosa”.
E prosseguiram:

“Vamos lá:
1 – Recomendação não é determinação;
2 – Não havia evento ou aparelho de som, estrutura etc…
3 – Retirar manifestação cultural se resolve com diálogo;
4 – Agente público que deveria ter resolvido isso seria a secretaria de cultura do município e não polícia;
5 – Prefeitura nunca poderia ter acionado polícia;
6 – Prefeito se colocou como representante e defensor da cultura popular na campanha. Precisa chamar polícia, com base na recomendação do Ministério Público, para tirar de dentro de um mercado”?

Assessoria de Braide reage  – Procurada, também, por O INFORMANTE, a assessoria do prefeito disse que “quem entrou no mercado foi a Polícia Militar, de responsabilidade do Governo do Estado”.

Anderson Lindoso e Felipe Camarão disseram que a Polícia Militar “é órgão de estado; não de governo”.

”Não chamamos a polícia para nada” – Ainda no sábado, o secretário municipal de Comunicação, Igor Almeida, procurou O INFORMANTE e garantiu que “prefeitura de São Luís não procurou a polícia militar para absolutamente nada”. Ele desconhecia a informação de que o secretário Liviomar Macatrão, numa atitude isolada, havia acionado o BPTur.

Secretário de Cultura reage – Em ‘Nota de Repúdio’, o secretário municipal de Cultura, Marco Duailibe, reagiu de forma subjetiva, jogando loas no prefeito Braide, sem dar grandes explicações para o incidente. Disse Duailibe:
“Um ditado que escuto desde criança é uma grande verdade: mentira tem perna curta. E uma das piores mentiras é aquela que é usada com o intuito de ferir a honra, manchar um nome, fazer injustiça. Esse episódio da proibição de uma apresentação do nosso Tambor de Crioula no Mercado das Tulhas nada tem a ver com o prefeito Eduardo Braide.
Quem o conhece sabe do seu amor e o seu respeito pela nossa cultura, além de manifestar o seu carinho pelo tambor de crioula constantemente.
Em um ano difícil como foi 2021, todos os grupos de tambor de crioula inscritos foram contemplados tanto com o auxílio emergencial do carnaval quanto o auxílio do São João. E com o mesmo entusiasmo se comemorou em um grande evento a revalidação do tambor de crioula como Patrimônio Cultural do Brasil. Nosso Tambor de Crioula também foi um dos mais contemplados com a Lei Aldir Blanc. E já em 2022, mais uma vez, todos os grupos de tambor de crioula inscritos estão recebendo o auxílio emergencial de carnaval, que é importante ressaltar que só a prefeitura de São Luís está concedendo esse auxílio este ano.
Então, como é que se pode acreditar que o nosso prefeito seria capaz de um ato como esse?

É mais que uma mentira absurda, é uma maldade que somente oportunistas são capazes de inventar e apoiar.
Mas existe um outro ditado que explica bem todos os ataques que o nosso prefeito vem sofrendo: ninguém joga pedras em árvores que não dão frutos.
E por falar em árvore, mentira a gente corta pela raiz.
O caráter, a ética e a história do prefeito Eduardo Braide jamais deixarão ninguém se enganar por uma artimanha tão baixa, que tem como único objetivo, atingi-lo politicamente.
Viva o nosso Tambor de Crioula! Viva a nossa cultura”!
Marco Duailibe
Secretário Municipal de Cultura

Polícia Militar se manifesta – A Polícia Militar do Maranhão (PMMA) também se manifestou. Em nota, informou que “o Mercado das Tulhas é administrado pela prefeitura municipal de São Luís-MA, por meio da Secretaria Municipal de Agricultura, Pesca e Abastecimento (Semapa). Atualmente existe uma orientação do Ministério Público para que os eventos no interior do mercado sejam suspensos, considerando o pouco espaço disponível e a falta de infraestrutura, o que compromete a segurança pública, já que restringe a mobilidade e dificulta a ação dos órgãos públicos. Nesse mister, ficou deliberado em reunião com o órgão ministerial que as manifestações culturais têm liberdade para se expressarem do lado de fora, cabendo à Semapa coordenar as atividades no mercado, orientando e fiscalizando os eventos, sendo que à PMMA, por meio do Batalhão de Turismo, cumpre garantir a ordem pública e executar o policiamento ostensivo no centro histórico, função constitucional que já está sendo exercida diuturnamente”.

Reclamação dos brincantes – Alegando que a roda é uma tradição de décadas e que tem que voltar a ser realizada, brincantes do tambor de Crioula reclamam que depois da reforma foram proibidos de se apresentarem no Mercado das Tulhas. A decisão divide os próprios feirantes. Alguns são a favor, justificando que o evento atrai mais consumidores, e outros são contra, alegando que o local não tem estrutura para receber esse tipo de evento.

Protesto – A roda de tambor de crioula que gerou o pequeno incidente foi um protesto dos brincantes por estarem proibidos de se apresentar no Mercado das Tulhas às sextas-feiras, como já faziam tradicionalmente, há muitos anos.

Vistoria técnica – A administradora Patrícia Brandão informou que será realizada uma vistoria técnica, nesta terça-feira, 26, a pedido do Ministério Público. Em contato com a TV Mirante, o promotor Cláudio Guimarães disse que foi feita uma reunião no MP com os promotores do controle externo da atividade policial e do meio ambiente e urbanismo, com representantes da prefeitura, do tambor de crioula, do samba e do pagode e também da Polícia Militar. Nessa reunião, segundo Guimarães, foi esclarecido que houve uma vistoria no local, antes da reforma, em que foi atestado que o Mercado das Tulhas não é local adequado para reunião de grandes públicos, por vários motivos, mas, principalmente, de segurança. E confirmou a nova vistoria técnica de amanhã.

Segundo fontes municipais, a prefeitura já teria sinalizado no sentido de fazer eventos, em horários mais cedo, com apresentações folclóricas tradicionais da nossa cultura.

Braide ‘passa recibo’ – Nesse domingo, 24, circulou um vídeo nas redes sociais, de agosto de 2021, com o prefeito Eduardo Braide tocando numa roda de tambor de crioula. Em vez de tratar o assunto com a seriedade que o incidente exige, o prefeito de São Luís ‘aparece’ participando de uma roda de tambor de crioula, como a querer provar aos ludovicenses que apoia a cultura popular. Na verdade, a Prefeitura, por meio da Semapa, acionou a Polícia Militar, que foi ao local averiguar o que estava havendo e cumpriu a sua missão de forma tranquila, sem maiores consequências.