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Marcelo Odebrecht está furioso. Desta vez o alvo de suas investidas é a Braskem, petroquímica da qual a Odebrecht é sócia, acusada por ele de mentir, omitir e manipular os seus acordos de delação e de leniência para proteger executivos que não queriam aparecer como criminosos.

A acusação está em um conjunto de emails que Marcelo enviou para a Braskem nos últimos dois anos e que foram obtidos pela Folha.

A Braskem é a joia da coroa da Odebrecht. Com 40 fábricas no Brasil, Estados Unidos, Alemanha e México, a petroquímica criada em parceria com a Petrobras foi responsável por 80% das receitas do grupo Odebrecht no ano passado. Numa negociação para venda para um grupo holandês, a empresa foi avaliada em R$ 41,5 bilhões.

Marcelo afirma que a Braskem errou ao falar em seu acordo de delação que os recursos entregues ao PT nas campanhas de 2010 e 2014, no valor total de R$ 150 milhões, eram provenientes de caixa dois. Segundo o executivo, houve doações legais e o chamado caixa três —quando uma empresa pede a um fornecedor para fazer a doação por ela.

Ele propõe que a Braskem corrija as informações que prestou nos acordos: “Acho importante retificar (até que se tenha o volume correto ainda a identificar de outros destinatários) que uma parte dos aproximadamente R$ 150 milhões que é citado como tendo sido direcionados ao PT/governo federal, no contexto das campanhas presidenciais de 2010 e 2014, não foi caixa 2, e sim de doações oficiais ou via terceiros (que tem sido chamada de caixa 3)”, escreve Marcelo numa das mensagens.

A petroquímica omitiu, ainda segundo os emails de Marcelo, o pagamento de propina para dirigentes do MDB para que a empresa conseguisse comprar energia mais barata da Chesf (Centrais Hidrelétricas do Rio São Francisco, uma estatal de energia que os governos petistas entregaram aos emedebistas).

O ex-presidente da Odebrecht, que está em prisão domiciliar desde dezembro de 2017, após passar dois anos e meio preso em Curitiba, afirma nas mensagens que dois ex-dirigentes da Braskem manipularam os emails da petroquímica para que eles não aparecessem como criminosos.

Os executivos acusados são Newton de Souza, que era da Braskem e presidiu a Odebrecht quando Marcelo foi preso em 2015, e o advogado Maurício Ferro, que integrou a diretoria jurídica da Braskem e da Odebrecht e é casado com uma irmã de Marcelo, Mônica Bahia Odebrecht.

Marcelo diz numa das mensagens que tentou insistentemente ter acesso a emails da Braskem para ajudar a relatar irregularidades na empresa, mas não conseguia algumas mensagens porque o seu cunhado as havia classificado como correspondência entre advogado e cliente, que são protegidas por sigilo.

Segundo o executivo, emails que tratavam de pagamento de suborno e outras ilegalidades foram incluídos entre os sigilosos para que Souza e Ferro não precisassem revelar os crimes que teriam cometido. (Folha online)