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Por Oswaldo Viviani

O vianense ‘imortal’ da Academia Maranhense de Letras (AML) Joaquim Campelo Marques, de 87 anos, titular da cadeira 24 da instituição, que também ocupava o cargo de assessor parlamentar da Presidência do Senado e foi vice-presidente do Conselho Editorial do Senado, aparece na lista de exonerados dos cargos comissionados da Casa presidida agora por Davi Alcolumbre (DEM). O ‘listão’ de 149 exonerados – a maioria, de nomes ligados a caciques do MDB, como Sarney, Renan Calheiros e Eunício de Oliveira – foi divulgado no Diário Oficial da União de terça (26).

Joaquim Campelo Marques estava no Senado, sem concurso público, desde 2009, por indicação de José Sarney, de quem era assessor e uma espécie de ‘revisor’ oficial de discursos.

Antes, o literato também havia colaborado com o Dicionário do lexicógrafo e filólogo Aurélio Buarque de Holanda (“Dicionário do Aurélio”), obra de referência na área.

Em janeiro de 2012, a Procuradoria da República do Distrito Federal recebeu uma denúncia contra Campelo Marques por peculato, “ao negociar a título oneroso ou gratuito um bem público”.

A denúncia foi referente à doação à editora portuguesa Leya (portuguesa) do projeto gráfico, formatação e digitação da obra ‘História da Literatura Ocidental’, de Otto Maria Carpeaux, pertencente ao Senado.

O livro caiu em domínio público porque Carpeaux (um austríaco naturalizado brasileiro) não deixou herdeiros. Já os custos da edição foram pagos com dinheiro público e, como tal, não poderiam ser cedidos a terceiro.

Campelo foi acusado, ainda, de agir em proveito próprio, em troca da publicação de um suposto dicionário da língua portuguesa que levaria seu nome. Ou seja, o ‘Dicionário Campelo’.

Joaquim Campelo negou a feitura do dicionário. Ele afirmou que sua equipe dedicou-se, sim, a preparar “uma pequena enciclopédia. Não tem nada disso (dicionário), o galo canta e não se sabe onde é. A enciclopédia é do Senado e sairá com a lista de seus colaboradores”, afirmou à época.

Ele também participou da edição do livro “Sarney, A Biografia”, da jornalista Regina Echeverria, publicado pela mesma editora portuguesa Leya.

O Conselho Editorial do Senado foi um dos citados entre os setores da Casa que atuaram nos desmandos administrativos do Senado (‘escândalo dos atos secretos’), na série publicada em 2009 pelo jornal Estado de S. Paulo, como cabide de emprego de amigos, filhos de amigos e apadrinhados de José Sarney. Foi criado na primeira das três gestões de José Sarney (PMDB-AP) na presidência do Senado (fevereiro de 1995 a fevereiro de 1997), tendo entre outras atribuições, a de “preencher a lacuna na bibliografia brasileira, publicando obras inéditas”.

O Conselho, porém, se tornou uma ‘caixa preta’ do Legislativo Federal usada para acomodar amigos e apadrinhados e atender a interesses pessoais de seus dirigentes.

OUTROS APADRINHADOS DE SARNEY EXONERADOS

Além de Joaquim Campelo Marques, outros apadrinhados de José Sarney que ocupavam cargos comissionados no Senado foram exonerados pelo presidente da Casa, Davi Alcolumbre.

Maria Vandira de Brito Peixoto, ex-‘assessora de fé’ do ex-senador Sarney, e a ex-candidata a miss Brasília Rosângela Terezinha Michels Gonçalves, mãe de um neto do emedebista (filho de Fernando Sarney) também foram demitidos.

Após as exonerações, Sarney teria disparado um telefonema irritado ao presidente do Senado, Davi Alcolumbre, segundo a coluna Radar, da revista Veja.

Segundo a nota, “em tom pouco amistoso (algo raro), o ex-presidente reclamou das demissões de afilhados e falou em ‘molecagem’.”