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. O governador Flávio Dino deve saber o que está fazendo ao tomar posições no mínimo desnecessárias em relação ao presidente eleito Jair Bolsonaro!!! Ao contrário do que sempre condenou no extinto grupo Sarney, de não deixá-lo trabalhar, independentemente de suas pretensões futuras, o mínimo que tinha que fazer hoje, até para não se tornar antipático diante de milhões de brasileiros, era “aguardar para ver o que acontece”!!! A postura adotada contra o futuro ocupante do Palácio do Planalto, dois meses antes de ele assumir o governo, não parece a mais correta!!! Justamente por não “esperar para ver o que acontece” foi que Flávio Dino, como muitos brasileiros e maranhenses, fez uma previsão equivocada ao afirmar, algum tempo atrás, que a candidatura Bolsonaro era “uma coisa muito residual, que não vai crescer porque é uma caricatura, não é uma proposta política que deva ser levada a sério”!!!

  • É óbvio que Flávio Dino tem uma estratégia voltada para o futuro, mas não pode colocá-la acima dos interesses maiores do Maranhão!!! O que se espera é que, depois de ter marcado território, correndo o risco de adquirir a antipatia nacional da maioria dos brasileiros que acreditam em Jair Bolsonaro, o governador pense um pouco mais em todos os maranhenses e busque uma relação institucional madura e segura com o Governo Federal!!! Secretários mais próximos dele garantem que é isso que acontecerá, e que Flávio Dino buscará essa relação tranquila com Bolsonaro!!! Vamos torcer!!!

A propósito do futuro presidente, observe só esse texto do esquerdista e Dr. em Filosofia Gustavo Bertoche!!! Veja que tamanha lucidez e equilíbrio nessa autocrítica provavelmente inédita!!! Pelo
visto, foi o único que conseguiu ‘ler’ o recado das urnas!!! “De onde surgiu Bolsonaro” é o título da pérola de Bertoche!!! E Dr. Pêta a reproduz na íntegra, porque vale muito a pena ler!!!

“De onde surgiu Bolsonaro: Desculpem os amigos, mas não é de um “machismo”, de uma “homofobia” ou de um “racismo” do brasileiro. A imensa maioria dos eleitores do candidato do PSL não é machista, racista, homofóbica nem defende a tortura. A maioria deles nem mesmo é bolsonarista. O Bolsonaro surgiu daqui mesmo, do campo das esquerdas. Surgiu da nossa incapacidade de fazer a necessária autocrítica. Surgiu da recusa em conversar com o outro lado. Surgiu da insistência na ação estratégica em detrimento da ação comunicativa, o que nos levou a demonizar, sem tentar compreender, os que pensam e sentem de modo diferente. É, inclusive, o que estamos fazendo agora. O meu Facebook e o meu WhatsApp estão cheios de ataques aos “fascistas”, àqueles que têm “mãos cheias de sangue”, que são “machistas”, “homofóbicos”, “racistas”. Só que o eleitor médio do Bolsonaro não é nada disso nem se identifica com essas pechas. As mulheres votaram mais no Bolsonaro do que no Haddad. Os negros votaram mais no Bolsonaro do que no Haddad. Uma quantidade enorme de gays votou no Bolsonaro”.

  • “Amigos, estamos errando o alvo. O problema não é o eleitor do Bolsonaro. Somos nós, do grande campo das esquerdas. O eleitor não votou no Bolsonaro PORQUE ele disse coisas detestáveis. Ele votou no Bolsonaro APESAR disso. O voto no Bolsonaro, não nos iludamos, não foi o voto na direita: foi o voto anti-esquerda, foi o voto anti-sistema, foi o voto anti-corrupção. Na cabeça de muita gente (aqui e nos EUA, nas últimas eleições), o sistema, a corrupção e a esquerda estão ligados. O voto deles aqui foi o mesmo voto que elegeu o Trump lá. E os pecados da esquerda de lá são os pecados da esquerda daqui. O Bolsonaro teve os votos que teve porque nós evitamos, a todo custo, olhar para os nossos erros e mudar a forma de fazer política. Ficamos presos a nomes intocáveis, mesmo quando demonstraram sua falibilidade. Adotamos o método mais podre de conquistar maioria no Congresso e nas assembleias legislativas, por termos preferido o poder à virtude. Corrompemos a mídia com anúncios de empresas estatais até o ponto em que elas passaram a depender do Estado. E expulsamos, ou levamos ao ostracismo, todas as vozes críticas dentro da esquerda”.
  • “O que fizemos com o Cristóvão Buarque? O que fizemos com o Gabeira? O que fizemos com a Marina? O que fizemos com o Hélio Bicudo? O que fizemos com tantos outros menores do que eles?
    Os que não concordavam com a nossa vaca sagrada, os que criticavam os métodos das cúpulas partidárias, foram calados ou tiveram que abandonar a esquerda para continuar tendo voz. Enquanto isso, enganávamo-nos com os sucessos eleitorais, e nos tornamos um movimento da elite política. Perdemos a capacidade de nos comunicar com o povo, com as classes médias, com o cidadão que trabalha 10h por dia, e passamos a nos iludir com a crença na ideia de que toda mobilização popular deve ser estruturada de cima para baixo. A própria decisão de lançar o Lula e o Haddad como candidatos mostra que não aprendemos nada com nossos erros – ou, o que é pior, que nem percebemos que estamos errando, e colocamos a culpa nos outros. Onde estão as convenções partidárias lindas dos anos 80? Onde estão  as correntes e tendências lançando contra pré-candidatos? Onde estão os debates internos? Quando foi que o partido passou a ter um dono? Em suma: as esquerdas envelheceram, enriqueceram e se esqueceram de suas origens”.
  • “O que nos restou foi a criação de slogans que repetimos e repetimos até que passamos a acreditar neles. Só que esses slogans não pegam no povo, porque não correspondem ao que o povo vivencia. Não adianta chamar o eleitor do Bolsonaro de racista, quando esse eleitor é negro e decidiu que não vota nunca mais no PT. Não adianta falar que mulher não vota no Bolsonaro para a
    mulher que decidiu não votar no PT de jeito nenhum. Não, amigos, o Brasil não tem 47% de machistas, homofóbicos e racistas. Nós chamarmos os eleitores do Bolsonaro disso tudo não vai resolver nada, porque o xingamento não vai pegar. O eleitor médio do cara não é nada disso. Ele só não quer mais que o país seja governado por um partido que tem um dono. E não, não está havendo uma disputa entre barbárie e civilização. O bárbaro não disputa eleições.  (Ah, o Hitler disputou etc. Você já leu o Mein Kampf? Eu já. Está tudo lá, já em 1925. Desculpe, amigo, mas piadas e frases imbecis NÃO SÃO o Mein Kampf. Onde está a sua capacidade hermenêutica?)”.
  • “Está havendo uma onda Bolsonaro, mas poderia ser uma onda de qualquer outro candidato anti-PT. Eu suspeito que o Bolsonaro só surfa nessa onda sozinho porque é o mais antipetista de todos. E a culpa dessa onda ter surgido é nossa, exclusivamente nossa. Não somente é nossa, como continuará sendo até que consigamos fazer uma verdadeira autocrítica e trazer de volta para nosso campo (e para os nossos partidos) uma prática verdadeiramente democrática, que é algo que perdemos há mais de vinte anos. Falamos tanto na defesa da democracia, mas não praticamos
    a democracia em nossa própria casa. Será que nós esquecemos o seu significado e transformamos também a democracia em um mero slogan político, em que o que é nosso é automaticamente democrático e o que é do outro é automaticamente fascista? É hora de utilizar menos as vísceras e mais o cérebro, amigos. E slogans falam à bile, não à razão”!!! (Final)
  • Talvez, já que pretende se posicionar dessa forma, Flávio Dino devesse seguir a linha do jornalista Hélio Schwartsman, da Folha de S. Paulo, que fez uma observação interessante!!! Olha só!!!
    “Deus acima de todos – ‘Brasil acima de tudo, Deus acima de todos’ foi o lema da campanha de Jair Bolsonaro, que ele continua utilizando em seus pronunciamentos pós-eleitorais. O ‘Deus acima de todos’ me incomoda mais do que o ‘Brasil acima de tudo’, do qual já não gosto muito (nacionalismos têm se mostrado uma força mais destrutiva do que construtiva). É evidente que, numa democracia como é o Brasil, as pessoas, incluindo o presidente eleito, têm o direito de professar a fé religiosa que preferirem, privada ou publicamente. Não me parece inteligente, porém, trazer Deus para a política. Ele até pode ser um bom cabo eleitoral, mas é do interesse das próprias religiões que seja mantido tão longe quanto possível das engrenagens do Estado”.
  • “O laicismo, afinal, embora seja do agrado de ateus e agnósticos, é um princípio que visa primordialmente a proteger as religiões. É só quando o Estado se mantém neutro em relação a todas as fés que os grupos minoritários podem estar seguros de que não sofrerão nenhum tipo de perseguição nem verão seus concorrentes sendo favorecidos pelas autoridades. Outro problema de colocar o Criador na arena política é que fazê-lo pode estimular a radicalização. Com efeito, religiões operam amiúde com absolutos morais. Se as Escrituras dizem que o aborto e o homossexualismo são pecado, como podem simples mortais duvidar da palavra imutável de Deus? Assim, já nem haveria o que discutir num eventual projeto de lei sobre a matéria. Seguir a lógica espiritual acaba
    sendo a negação da política, compreendida como a construção de consensos através de negociações. Esse aspecto mais absolutista da invocação a Deus está em linha com as declarações de cunho profano e pouco tolerante que Bolsonaro já deu sobre gays, negros, bandidos etc. É triste quando o que de melhor se espera de um presidente eleito é que suas afirmações e lemas não passem de palavras vazias”. (Publicado em 4 de novembro de 2018)