Em 2024, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) voltou a ser um ator central no financiamento à inovação, liberando R$ 5,9 bilhões para empresas como Weg, Eurofarma e EMS. Esse valor representa o maior montante aprovado para o período de janeiro a agosto em quase três décadas. O destaque, porém, vai para a forma como esse recurso está sendo disponibilizado: a maior parte por meio de financiamentos com juros subsidiados, inferiores aos praticados no mercado.
Essa estratégia de financiamento nunca acaba bem. O BNDES, historicamente, já adotou a política de selecionar e fomentar “campeãs nacionais”, como vimos em governos anteriores do Partido dos Trabalhadores (PT). Empresas selecionadas recebiam grandes aportes e em condições vantajosas, o que gerou críticas por distorcer o mercado e beneficiar grandes corporações com influência política.
No contexto atual, questiono se estamos vendo uma “volta” das campeãs nacionais. Weg, Eurofarma e EMS, empresas já consolidadas e altamente competitivas, são as principais beneficiárias desses financiamentos, o que reforça a questão: a quem esse apoio realmente beneficia? Estaria o BNDES repetindo erros do passado?
Do ponto de vista de um liberal econômico, o uso de taxas de juros subsidiadas é problemático. Enquanto o mercado opera em um ambiente de juros altos, reflexo da necessidade de conter a inflação e atrair investidores, o BNDES oferece condições especiais a gigantes corporativas. Isso cria um ambiente de concorrência desleal, onde empresas menores e com menor acesso a esses financiamentos enfrentam condições de mercado muito mais difíceis.
Ao invés de fomentar a competitividade e a inovação de forma orgânica, a intervenção estatal nesse nível pode gerar distorções que, no longo prazo, prejudicam a livre concorrência e incentivam a dependência de recursos públicos. Empresas que deveriam se sustentar em um mercado competitivo passam a contar com a benesse estatal, o que vai de encontro ao princípio de que o mercado deve ser o principal alocador de recursos.
É inegável que a inovação é o motor do crescimento econômico. No entanto, para que a inovação prospere, é necessário que haja um ambiente competitivo e desburocratizado, onde empreendedores tenham liberdade para criar, arriscar e investir. No Brasil, ainda lutamos contra um excesso de regulação, alta carga tributária, um sistema jurídico incerto e que freiam o potencial inovador de nossas empresas.
O papel do governo deve ser o de criar as condições para que o setor privado floresça, com um ambiente de negócios favorável, segurança jurídica e menos interferência direta na economia. Políticas como essa do BNDES, embora bem-intencionadas, acabam mascarando problemas estruturais do Brasil. Ao invés de focarmos em reformas que facilitam o crescimento empresarial, apostamos em paliativos que favorecem os grandes jogadores, mas que pouco fazem para melhorar o ambiente de negócios como um todo.
O financiamento à inovação é vital para o Brasil competir globalmente, especialmente em setores estratégicos, por exemplo, tecnologia e farmacêutico. No entanto, é preciso garantir que esse apoio não se traduza em dependência estatal ou distorções de mercado. A inovação deve ser fomentada por meio de um ambiente de negócios mais livre e competitivo, com menos burocracia e maior previsibilidade, permitindo que todas as empresas tenham uma chance justa de crescer.
O BNDES, ao focar seus esforços em empresas já consolidadas e oferecer condições diferenciadas, corre o risco de repetir políticas do passado que se mostraram falhas. O Brasil precisa de um modelo econômico que incentive a inovação de forma sustentável, sem intervenções que distorçam o mercado para que possamos verdadeiramente alcançar um crescimento de longo prazo.
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