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O jornalista de economia Gilberto Menezes Couto, assinante da coluna O Outro Lado da Moeda, do Jornal do Brasil, lança luz em um episódio pitoresco da história da indústria no Maranhão. Em artigo publicado na semana passada, no qual questiona o peso do mercado de ações na composição do Produto Interno Bruto, PIB, do Brasil, Gilberto Couto lembra o nascimento e morte da Cepalma, Celulose e Papeis do Maranhão S.A., em Coelho Neto. Fundada pela família Bacelar, começou a ser erguida em 1970 e paralisou as atividades em meados da mesma década.

No caso, tratado no artigo de Couto no site órgão da imprensa carioca dirigido por longas datas pela Condessa Pereira Carneiro, filha do escritor maranhense Dunshee de Abranches, são citadas passagens hilárias da história fabril do estado, não fosse tratar-se de dinheiro público desperdiçado. No emaranhado dos negócios, a empresa contou com recursos da Sudene, por meio do Finor, fez financiamentos com bancos europeus, e abriu seu capital na Bolsa de Valores.

Foto Reprodução

Na recente história dos papeis negociados na Bolsa de Valores, o Brasil chegou a contar com sete centros regionais de negociações. Duas delas se destacavam: a Bolsa de Valores do Rio de Janeiro e a Bovespa. Entre 1968 e 1970, o ‘milagre brasileiro’ inflou os negócios com ações em papeis, até que veio o “boom” da bolsa. Nesse tempo não havia registro escritural dos papeis. O movimento era realizado, predominantemente, pelas empresas do setor financeiro e estatais.

O disciplinamento das operações seria balizado pela Lei das Sociedades Anônima, de dezembro de 1976, mesmo ano de criação da Comissão de Valores Imobiliários. Cabia ao Banco Central supervisionava o mercado de capitais e a autorregulamentação das bolsas.

Sem um computador sequer para processar dados, a frouxidão era tamanha, que, conta Gilberto Couto, no começo dos anos 70 que foi lançada no mercado de ações a Merposa, Merda em Pó S. A. apenas com objetivo de desmoralizar a bolsa do Rio de Janeiro presidida por Marcelo Leite Barbosa, maior corretora da época.

Foi nesse ambiente de permissividade que ele relata o caso exemplar ocorrido no Maranhão: O lançamento das ações de papeis da Cepalma (Celulose e Papéis do Maranhão S.A.). Couto erra na memória, indicando a cidade de Caxias como local da fábrica, quando na verdade a fábrica se instalou no município de Coelho Neto. Também não cita que a família Bacelar, sob o comando de Raimundo Bacelar, para dar prosseguimento ao projeto conquistado com a ajuda do então governador José Sarney, teve que concluir uma estrada ligando Caxias a Coelho Neto mais tarde transformada na rodovia estadual MA-034.

Foto Reprodução

Veja o que conta Gilberto Menezes Couto

“Por acaso fui cobrir pelo JB a inauguração da fábrica, em Caxias (MA), empreendimento da família Bacellar (sic), beneficiado com incentivos fiscais do Finor. Havia uma usina de açúcar e muitos pés de babaçu na região. O projeto visava aproveitar o talo das palmeiras e o bagaço da cana para produzir papel kraft, destinado a embalagens de cimento e caixas de papelão”.

Mas a farra do lançamento (jornalistas e corretores voaram em aviões fretados pela empresa até Teresina e de lá fomos e voltamos no cair da tarde em C-47 da FAB ou teco-teco, sobrevoando o interior do Maranhão, ainda quase intocado – depois, houve enorme devastação posterior das florestas) chamou a atenção do jovem repórter. No entorno da fábrica cercada por telas, pobres lavradores olhavam atônitos a cena. No bebedouro, muita gente tinha dificuldade para beber água gelada (mal viam água ao ambiente, quando mais jorrando de uma máquina). Mas o que acendeu meu sinal amarelo era a farta distribuição de garrafas de uísque Chivas para os convidados”.

O projeto industrial fracassou. As duras fibras dos talos das folhas de babaçu quebravam as lâminas das picadoras e os serviços eram paralisados. Mas isso não era tudo: os controladores levaram ao pé da letra a razão social e fizeram uma derrama de papéis da Cepalma. Como não havia escrituração demorou para ser percebido que havia papéis com numeração duplicada: surgia uma série de 1 a 100 e outra de 10 a 110 e por aí afora”.

Com muitas reclamações de investidores e corretoras, a Bolsa do Rio solicitou à empresa o livro-caixa com o registro das ações. Estourado o prazo concedido pela BVRJ, diante dos telex de cobrança, a empresa informou (não havia ainda a obrigação do ‘Fato Relevante’), que lamentava muito, mas ‘o veículo que trazia o livro-caixa teve um acidente e mergulhou no rio Codozinho’.

A farsa seria engolida se não fosse o jornalista e meu amigo Randolpho de Souza, ainda na ativa no Monitor Mercantil. Nascido e criado no Maranhão, Randolpho alertou a direção da BVRJ que o tal rio Codozinho era um riacho temporário que, mesmo nas cheias, não cobriria um carro. Foi um escândalo. As ações foram suspensas. A Cepalma acabou vendida a um grupo cimenteiro”.

História oficial da Cepalma segundo os Bacelar
A Celulose e Papeis do Maranhão S. A. constituída em 14 de julho de 1967, conforme publicação no Diário Oficial no dia 4 de agosto de 1967 teve o projeto aprovado pela Sudene mediante a Resolução 3972, de 25 de setembro de 1968.
Antes da Cepalma, Durque Bacelar havia fundado a Usina Itaperema e Agropema.
A previsão era que a Cepalma produzisse 120 toneladas de celulose/dia produzindo toneladas de papel para embalagem e sacos multifoliados e para embalar cimento.
O capital inicial era de CR$ 100 milhões, sendo CR$ 60 milhões de incentivos fiscais. A Sudene proporcionou ao industrial isenção total do Imposto de Renda por 10 anos, contados a partir do início da industrialização.
O projeto foi preparado pela Adiplan, em Recife (PE), de propriedade de Geraldo Melo que foi governador do Rio Grande do Norte. Já o projeto técnico foi elaborado pela Serete S. A. empresa francesa com filial em São Paulo.

 

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