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O avanço da inteligência artificial (IA) na política global tem despertado a atenção do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) brasileiro, especialmente com as eleições municipais de outubro se aproximando. Em diversos países, a tecnologia tem sido utilizada de formas inovadoras e, por vezes, controversas, desde a criação de candidatos fictícios até declarações de apoio falsificadas. Enquanto marqueteiros enxergam usos positivos da IA, o TSE está vigilante para evitar manipulações e fraudes.

O TSE aprovou, em fevereiro, uma resolução que estabelece regras claras para o uso da IA nas campanhas eleitorais. Entre as diretrizes, está a obrigação de identificar quando a tecnologia é usada em materiais de divulgação e a proibição de “deepfakes” — vídeos manipulados para trocar rostos ou alterar falas de pessoas.

Casos recentes ao redor do mundo mostram o potencial de impacto das deepfakes. Na África do Sul, vídeos falsos mostravam um apoio inexistente do ex-presidente dos EUA, Donald Trump, a candidatos locais. Similarmente, no Paquistão, imagens manipuladas de Trump foram usadas para afirmar que ele libertaria o ex-primeiro-ministro Imran Khan da prisão. Essas manipulações podem influenciar eleitores de maneira decisiva, especialmente perto do dia da eleição, quando há pouco tempo para desmentir o conteúdo.

Exemplos de uso indevido da IA também incluem vídeos em Bangladesh que simulavam desistências de candidatos no dia da votação e manipulações em Taiwan para falsificar apoio de empresários. Na Índia, a tecnologia replicou vozes e imagens de pessoas falecidas, incluindo celebridades, e na Indonésia, vídeos do ex-presidente Suharto, falecido em 2008, foram utilizados.

Esses casos exemplificam os desafios que o TSE busca evitar. Segundo o tribunal, servidores acompanham o uso da IA globalmente, participando de eventos e workshops internacionais para monitorar a situação.

“O uso da inteligência artificial no processo eleitoral está entre as prioridades do TSE, que acompanha sim o tema e o modo como essa tecnologia é empregada ao redor do mundo”, informou o TSE em nota.

No Brasil, marqueteiros reconhecem a utilidade da IA, mas destacam seu uso principalmente nos bastidores das campanhas. Felipe Soutello, estrategista em marketing político, observa que as ferramentas de IA podem agilizar processos, ajudando na coerência e refinamento dos discursos dos candidatos.

“A IA pode colaborar na estruturação do discurso, armazenando falas e refinando mensagens para diferentes públicos. Essas ferramentas somam na mesa de trabalho”, afirmou Soutello, que atuou nas campanhas de Bruno Covas e Simone Tebet.

Paulo Vasconcellos, responsável pela campanha do prefeito de Belo Horizonte, Fuad Noman, e pela pré-candidatura de Alexandre Ramagem à Prefeitura do Rio, também vê a IA como uma aliada, desde que usada com cautela.

“O eleitor busca verdade no candidato. Se perceber falsidade, a candidatura perde força”, avaliou Vasconcellos.

Renato Pereira, outro marqueteiro experiente, ressalta a eficácia da IA no processamento de informações e na elaboração de cenários políticos, embora critique seu desempenho na criação de slogans e mensagens criativas.

“A IA interpreta pesquisas e ajuda a elaborar cenários, mas na criação, os resultados são limitados”, concluiu Pereira.

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