O Partido dos Trabalhadores (PT) desembolsou pelo menos R$ 173 mil em impulsionamento de conteúdo nas redes sociais entre os dias 26 de junho e 4 de julho para promover a chamada “taxação dos super-ricos”. A campanha digital tem como alvo bilionários, bancos e casas de apostas esportivas (as chamadas “bets”) e busca reforçar a narrativa de justiça fiscal num momento em que o governo Lula enfrenta crescente desgaste político e queda de popularidade.

Trechos das campanhas do PT pedindo mais imposto dos “super-ricos”

As peças patrocinadas foram veiculadas no Instagram e no Facebook e adotam uma comunicação direta com o público, muitas vezes em tom de confronto com o Congresso Nacional, apontado como obstáculo à agenda econômica do Executivo. Uma das imagens mostra o presidente Luiz Inácio Lula da Silva segurando uma placa com os dizeres “taxação dos super-ricos!”. Esse único conteúdo recebeu R$ 3 mil em impulsionamento em um dia.

A campanha que mais consumiu recursos até agora foi a que leva o título “Quem tem mais paga mais: taxação BBB”, referência a bilionários, bancos e bets. Em apenas cinco dias, o partido investiu ao menos R$ 90 mil nesse conjunto de peças. A estratégia nas redes faz parte de uma tentativa de retomar o controle da narrativa pública no pior momento político do atual mandato de Lula.

Imagem: Reprodução Poder360

No plano institucional, a taxação de grandes fortunas, fundos exclusivos e offshores vem sendo defendida por Lula desde o início do governo, como parte de um pacote de medidas para reestruturar o sistema tributário e enfrentar as desigualdades. A proposta, porém, encontra forte resistência entre parlamentares da base e da oposição, que cobram, em contrapartida, cortes de gastos e maior controle fiscal.

A ofensiva nas redes acontece paralelamente a ações de rua organizadas por movimentos aliados. Na última quinta-feira (3), militantes do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) ocuparam um prédio do banco Itaú, em São Paulo, cobrando a taxação dos bancos e apoiando as pautas econômicas defendidas pelo PT.

A retomada do discurso “ricos contra pobres”, tradicional na comunicação petista, tem o objetivo de reacender o vínculo com a base social do partido, mobilizar militantes e conter o avanço do discurso conservador que tem ganhado espaço no Congresso. Apesar disso, a eficácia dessa estratégia no cenário atual é incerta. O contexto é mais adverso do que nas gestões anteriores de Lula, e o governo enfrenta hoje uma conjuntura de maior pressão institucional e fragmentação política.

Especialistas em direito eleitoral lembram que o impulsionamento de conteúdos políticos em redes sociais é permitido fora do período eleitoral, desde que não envolva rádio e TV, nem caracterize propaganda antecipada com pedido explícito de voto.

Sem dar sinais de recuo, o PT promete manter a campanha nas plataformas digitais nas próximas semanas. A meta é construir apoio público em torno da ideia de justiça tributária e pressionar o Congresso a avançar com propostas de taxação dos super-ricos, especialmente em um ano marcado por tensão fiscal e dificuldades na articulação política do Palácio do Planalto.


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