O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) defendeu neste sábado (5) a criação de uma governança multilateral para regulamentar o uso da inteligência artificial (IA) em escala global.
Segundo ele, o avanço dessa tecnologia sem diretrizes claras representa riscos e pode resultar em efeitos colaterais prejudiciais à sociedade.
A declaração foi feita durante a abertura do Fórum Empresarial do Brics, realizado no Rio de Janeiro.
O evento antecede a cúpula de líderes do bloco internacional, composto atualmente por 11 países-membros e 10 parceiros, e marca o início do mandato do Brasil na presidência rotativa do Brics em 2025.
Em seu discurso, Lula afirmou que, sem regras coletivas, modelos desenvolvidos por grandes empresas de tecnologia acabarão se impondo.
“A inteligência artificial traz possibilidades que, há poucos anos, sequer imaginávamos. Na ausência de diretrizes claras, coletivamente acordadas, os modelos gerados com base apenas na experiência de grandes empresas de tecnologia vão se impor. Os riscos e efeitos colaterais da inteligência artificial demandam uma governança multilateral”, declarou o presidente.
O Brasil tem defendido, no âmbito do Brics, a construção de normas comuns sobre IA, com padrões mínimos de transparência e segurança. O tema é uma das prioridades da presidência brasileira no bloco.
MULTILATERALISMO E NOVO MODELO DE DESENVOLVIMENTO
Durante o discurso, Lula também voltou a defender o multilateralismo como ferramenta para superar desafios econômicos e geopolíticos.
Ele classificou o Brics como um “polo aglutinador de economias prósperas e dinâmicas” e destacou o potencial do grupo para liderar um novo modelo de desenvolvimento.
“O Brics pode liderar uma nova trajetória de crescimento baseada na agricultura sustentável, na indústria verde, na infraestrutura resiliente e na bioeconomia”, afirmou. Lula também criticou o ressurgimento de políticas protecionistas e afirmou que cabe às nações emergentes “defender o regime multilateral de comércio e reformar a arquitetura financeira internacional”.
O presidente reforçou que, para enfrentar as múltiplas crises globais, os países do Brics precisam agir com liderança.
“Não haverá prosperidade em um mundo conflagrado. O fim das guerras e dos conflitos é responsabilidade dos chefes de Estado e de governo. O vácuo de liderança agrava os desafios da nossa sociedade”, destacou.
MULHERES E EMPRESARIADO
Lula também dirigiu uma mensagem às mulheres presentes no fórum, incentivando maior protagonismo na política e na economia.
“O lugar que vocês almejam na participação política, empresarial e em qualquer outra área depende única e exclusivamente da ousadia de vocês. Não esperem que nós, homens, sejamos os autores das conquistas de vocês. São vocês que vão conquistar o espaço”, declarou.
O presidente também exaltou o papel do setor privado no crescimento econômico. “Governos abrem portas, mas quem sabe fazer negócios são vocês, empresários”, disse.
AGENDA DO BRICS
Além da participação no Fórum Empresarial, Lula deve se reunir neste sábado com representantes da Etiópia, Vietnã, Nigéria e Abu Dhabi, além do primeiro-ministro da China, Li Qiang.
A cúpula oficial do Brics será realizada entre domingo (6) e segunda-feira (7), no Rio de Janeiro.
São esperados debates sobre temas como combate à pobreza, financiamento climático, ampliação do acesso democrático a tecnologias e cooperação em saúde, com propostas como parcerias para erradicar doenças relacionadas à miséria.
Participam da cúpula os países-membros: África do Sul, Arábia Saudita, Brasil, China, Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia, Indonésia, Índia, Irã e Rússia.
Os parceiros atuais incluem Belarus, Bolívia, Cazaquistão, Cuba, Malásia, Nigéria, Tailândia, Uganda, Uzbequistão e Vietnã.
Três chefes de Estado — Vladimir Putin (Rússia), Xi Jinping (China) e Abdel Fattah al-Sisi (Egito) — não devem comparecer presencialmente à cúpula.
A segurança do evento contará com operação de Garantia da Lei e da Ordem (GLO), além de restrições aéreas.
O embaixador Maurício Lyrio, do Itamaraty, coordena os trabalhos da presidência brasileira como sherpa do Brics.