O ex-presidente Jair Bolsonaro afirmou nesta terça-feira (10), ao chegar ao Supremo Tribunal Federal (STF), que poderá falar “por horas” durante seu interrogatório, desde que, segundo ele, “possa ficar à vontade”.

Bolsonaro é o sexto réu a ser ouvido entre os oito integrantes do chamado “núcleo crucial” investigado por suposta trama golpista para tentar reverter o resultado das eleições de 2022.

“Se me deixarem à vontade, posso falar por horas. Levo comigo 11 ou 12 vídeos curtos de falas e atos meus, que demonstram que nunca houve golpe”, declarou. “Não sei qual vai ser o humor dos ministros, do PGR. O golpe não existiu.”

As audiências começaram na segunda-feira (9), com os depoimentos do ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, tenente-coronel Mauro Cid — que firmou acordo de colaboração premiada com a Polícia Federal — e do deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ), ex-diretor da Abin.

ESTRATÉGIA DE DEFESA

Bolsonaro indicou que pretende apresentar vídeos de outras autoridades que também questionaram a segurança das urnas eletrônicas. Ele citou, por exemplo, o atual ministro da Justiça, Flávio Dino, e o ministro Carlos Lupi.

“Tem um vídeo do Flávio Dino condenando a urna eletrônica, tem uma do Carlos Lupi também, falando que sem impressão do voto é fraude. Eu não estou inventando”, afirmou.

O ex-presidente também disse que foi vítima de diversas restrições durante seu mandato. “Fui proibido de fazer live do Alvorada, a minha casa. Fui acusado de várias coisas, até de pedofilia pelo Janones. Vou falar tudo aqui.”

PRIMEIROS DEPOIMENTOS

No primeiro dia das audiências, Mauro Cid confirmou à Primeira Turma do STF a veracidade da denúncia apresentada pela Procuradoria-Geral da República (PGR).

Segundo ele, Bolsonaro teve acesso e sugeriu mudanças à chamada “minuta do golpe”, incluindo a retirada do trecho que previa a prisão de diversas autoridades, mas mantendo o item que determinava a detenção do ministro Alexandre de Moraes.

Cid também revelou que o então presidente pressionou o ex-ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira, a apresentar um relatório que colocasse em dúvida o sistema eletrônico de votação.

“Bolsonaro queria um texto duro contra as urnas”, declarou Cid, ao ser questionado por Moraes.

O segundo depoente foi o deputado Alexandre Ramagem. Ele afirmou que o documento elaborado por ele para questionar o resultado das eleições era um rascunho pessoal e que nunca chegou a ser entregue a Bolsonaro. Ramagem negou ter disseminado desinformação e disse que não usou a Abin para espionar autoridades.

“Decerto que não fiz monitoramento de autoridades”, declarou o parlamentar.

As audiências com os réus do núcleo principal da suposta trama golpista seguem ao longo da semana no Supremo Tribunal Federal.


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