O ex-comandante do Exército, general Júlio César de Arruda, afirmou nesta quinta-feira (22) que a decisão de não realizar prisões imediatas no acampamento em frente ao Quartel-General do Exército em Brasília, logo após os atos golpistas de 8 de janeiro de 2023, foi discutida com integrantes do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Arruda prestou depoimento como testemunha de defesa do tenente-coronel Mauro Cid e do ex-presidente Jair Bolsonaro, no processo que tramita no Supremo Tribunal Federal (STF) e investiga uma tentativa de golpe de Estado para manter Bolsonaro no poder de forma ilegal.
Durante o depoimento, o general foi questionado pelo relator do caso, ministro Alexandre de Moraes, sobre ter supostamente impedido o cumprimento da ordem judicial de prisão dos manifestantes acampados no QG do Exército.
Moraes mencionou um depoimento anterior do então comandante da Polícia Militar do Distrito Federal, Fábio Augusto Vieira, que relatou ter sido impedido por Arruda de retirar os acampados. Segundo Vieira, Arruda teria dito, apontando o dedo: “O senhor sabe que minha tropa é um pouco maior que a sua, né?”
A ordem de prisão só foi cumprida na manhã de segunda-feira, 9 de janeiro. Questionado sobre a suposta obstrução, Arruda afirmou que sua intenção era conter os ânimos diante de um cenário tenso.
“Já respondi isso à Polícia Federal e vou repetir: ali havia um clima de nervosismo, e minha função era acalmar. Disse que aquilo precisava ser feito de forma coordenada. Vamos fazer isso aí de forma coordenada”, declarou.
O general relatou que a condução da ação foi debatida com ministros do governo Lula, durante uma reunião no próprio QG. Segundo ele, participaram da conversa o então ministro da Justiça, Flávio Dino; o ministro da Casa Civil, Rui Costa; o ministro da Defesa, José Múcio; além do coronel Ruta.
“E foi feito de maneira coordenada. A decisão foi tomada em conjunto com os ministros presentes. A minha função ali foi apaziguar, porque, até então, e graças a Deus, não houve nenhuma morte”, disse o militar.
Arruda evitou responder perguntas mais delicadas durante o depoimento e usou a expressão “não lembro” em diversas ocasiões.
Questionado sobre sua exoneração no início do governo Lula, declarou: “Essa pergunta não cabe a mim. Tem que ser feita a quem me nomeou e quem me exonerou.”
O general também afirmou que a transição no comando do Exército entre os governos Bolsonaro e Lula ocorreu normalmente.
Ao ser questionado pelo procurador-geral da República, Paulo Gonet, Arruda negou ter impedido o ingresso da polícia no acampamento.
“Negativo. Eu não neguei [a entrada da polícia]. Quando os eventos começaram, fui para o QG às duas da tarde coordenar as ações. À noite, o general Dutra me ligou dizendo que a polícia estava chegando e que prenderia todo mundo. Eu disse ‘não’, que isso precisava ser feito de forma coordenada, com o interventor”, afirmou.
Segundo Arruda, ele comunicou o então comandante militar do Planalto e o ministro José Múcio sobre a situação, reforçando a necessidade de uma ação coordenada diante do clima instável.