Os Correios anunciaram nesta quarta-feira (15) que estão em negociação com bancos para obter um empréstimo de R$ 20 bilhões, em uma tentativa de reverter a grave crise financeira que a estatal enfrenta desde 2024.

A medida faz parte do plano de reestruturação financeira em curso na empresa.
O anúncio foi feito pelo presidente Emmanoel Schmidt Rondon, que assumiu o comando da estatal há menos de um mês. Segundo ele, o contrato de crédito ainda está em fase de negociação.
PREJUÍZO CRESCENTE E CAIXA EM COLAPSO
A situação dos Correios se agravou nos últimos meses. A empresa registrou prejuízo de R$ 4,3 bilhões no primeiro semestre de 2025, mais que o triplo do resultado negativo de R$ 1,3 bilhão no mesmo período de 2024.
Durante o ano passado, a estatal utilizou R$ 2,9 bilhões do dinheiro em caixa e aplicações financeiras — o equivalente a 92% do total aplicado em 2023.
Ainda sob a gestão do ex-presidente Fabiano Souza, os Correios recorreram a um empréstimo de R$ 1,8 bilhão para manter o fluxo de caixa operacional.
A falta de recursos tem provocado atrasos em repasses e pagamentos a fornecedores e parceiros, prejudicando a operação da estatal.
SERVIÇOS AFETADOS E PARALISAÇÕES
Desde abril, transportadoras contratadas pelos Correios estão operando em ritmo reduzido, o que tem resultado em atrasos na entrega de encomendas em todo o país.
No início do ano, a empresa também atrasou repasses às agências franqueadas e conveniadas, além de pagamentos ao plano de saúde dos funcionários, levando à suspensão temporária de atendimentos em algumas redes hospitalares.
Em notas explicativas divulgadas com as demonstrações financeiras, a empresa reconhece que os pagamentos vêm sendo feitos conforme “disponibilidades financeiras”, e não de acordo com os cronogramas previstos em contrato.
TRÊS EIXOS DO NOVO PLANO
De acordo com Rondon, o novo plano de reestruturação está dividido em três eixos principais:
1. Corte de despesas operacionais e administrativas;
2. Diversificação das receitas e recuperação da capacidade de geração de caixa;
3. Recuperação da liquidez, com o empréstimo de R$ 20 bilhões.
Para reduzir custos, a estatal abrirá um novo Plano de Demissão Voluntária (PDV) — o segundo em menos de um ano. O último, encerrado em maio, teve adesão de 3.500 funcionários.
Outras medidas incluem a venda de imóveis ociosos, renegociação de contratos com grandes fornecedores e o lançamento de novos produtos e serviços voltados à geração de receita.
DÍVIDAS E OBRIGAÇÕES ATRASADAS
Em julho, os Correios formalizaram o adiamento de R$ 2,75 bilhões em obrigações financeiras para preservar a liquidez e reequilibrar o fluxo de caixa.
Entre os valores postergados estão repasses ao Postal Saúde, ao fundo de pensão Postalis, ao programa Remessa Conforme, além de dívidas tributárias e pagamentos a fornecedores.
VEJA OS PRINCIPAIS VALORES ADIADOS:
- INSS Patronal – R$ 741 milhões
- Fornecedores – R$ 652 milhões
- Postal Saúde – R$ 363 milhões
- Remessa Conforme – R$ 271 milhões
- Vale-alimentação/refeição – R$ 238 milhões
- PIS/Cofins – R$ 208 milhões
- Postalis – R$ 138 milhões
- Franqueadas – R$ 135 milhões
Segundo a própria empresa, 53% das dívidas em atraso geram multa e juros, mas não interrompem diretamente as operações.
Questionado sobre os valores atualizados da dívida total da estatal, o presidente afirmou que as informações estão sob sigilo por envolverem negociações com credores.
MEDIDAS ANTERIORES AINDA EM CURSO
Grande parte das medidas anunciadas agora já constava no plano de reestruturação lançado em maio, ainda sob a antiga gestão. À época, foram implementadas ações emergenciais, como:
- Redução de 20% no orçamento de cargos comissionados;
- Incentivo à redução de jornada de trabalho de 8h para 6h diárias;
- Suspensão temporária de férias até janeiro de 2026;
- Marketplace próprio, previsto para ser lançado ainda este ano;
- Captação de R$ 3,8 bilhões junto ao New Development Bank (NDB);
- Compartilhamento de unidades operacionais e otimização da malha logística;
- Venda de imóveis e revisão de contratos em grandes superintendências estaduais.
Rondon ponderou, no entanto, que as medidas anteriores tiveram caráter paliativo, e que o novo plano busca resultados estruturais e duradouros para a recuperação da estatal.






