Se você já se frustrou com uma previsão do tempo que não se confirmou no seu bairro, essa realidade está prestes a mudar. O Brasil acaba de receber um novo supercomputador meteorológico, considerado um dos mais avançados da América Latina, que promete revolucionar a forma como são emitidos os alertas climáticos no país.

Instalado no Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos (Cptec), em Cachoeira Paulista (SP), o equipamento vai operar com nível de precisão inédito: será possível prever, com margem de acerto extremamente detalhada, chuvas por bairro, rua e até por horário específico.

Até agora, as previsões meteorológicas nacionais eram processadas pelo Tupã, em operação desde 2010. Considerado obsoleto, o antigo sistema chegou a representar risco de “apagão meteorológico”, conforme alertado pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) desde 2021.

A nova máquina foi adquirida em 2024 por meio de investimento federal de R$ 200 milhões, com financiamento da FINEP (Financiadora de Estudos e Projetos), vinculada ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI). O supercomputador está em fase de testes e tem previsão de entrar em operação oficial em dezembro de 2025.

O que muda com o novo sistema?

A diferença entre o Tupã e o novo supercomputador é gigantesca. Confira alguns avanços:

  • 6 vezes mais rápido no processamento dos dados meteorológicos e climáticos;
  • Modelos gerados em minutos (antes, levavam até 3 horas);
  • Armazenamento 24 vezes maior, permitindo análises mais detalhadas;
  • Atualização da previsão a cada 6 horas (o antigo fazia isso apenas duas vezes por dia);
  • Precisão capaz de identificar até a rua onde deve chover e o horário exato do evento.

Mais do que saber se vai chover

O novo supercomputador não é apenas uma ferramenta de conveniência para o dia a dia — ele é crucial para salvar vidas diante de desastres naturais cada vez mais frequentes.

Em São Sebastião (SP), por exemplo, mais de 60 pessoas morreram após deslizamentos causados por chuvas intensas em 2023.

À época, o Cemaden (Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais) previu que a cidade seria atingida, mas não conseguiu indicar com precisão quando a chuva começaria nem quais bairros seriam os mais afetados.

Com o novo sistema, essa lacuna deixa de existir. A capacidade de prever com maior exatidão o tempo e o local dos eventos extremos permitirá alertas mais eficazes e ações preventivas mais rápidas por parte da Defesa Civil.

De onde vêm os dados e como o supercomputador trabalha?

A base de toda previsão do tempo é a observação do agora: se está chovendo, ventando, ou se há nuvens carregadas se formando. Esses dados chegam de várias fontes:

  • Satélites meteorológicos
  • Aviões comerciais
  • Navios
  • Balões de monitoramento
  • Estações meteorológicas em solo

O novo supercomputador recebe esses dados em tempo real e os processa com modelos matemáticos de altíssima complexidade — são trilhões de cálculos por segundo.

Isso permite prever não apenas o que vai acontecer nas próximas horas ou dias, mas também nos próximos meses e anos, no que se chama de modelagem climática.

Sol, chuva e sustentabilidade

A operação da máquina exige infraestrutura de ponta. O novo supercomputador está instalado em um dos maiores datacenters do país, com altíssimo consumo de energia e água. Só para mantê-lo funcionando, o custo anual é estimado em R$ 6 milhões.

Para mitigar o impacto ambiental e reduzir gastos, o Inpe prevê a instalação de uma usina solar própria para abastecer o sistema, com início das obras previsto para 2026.

A previsão do tempo de alta precisão é estratégica para diversos setores da economia e da gestão pública. Veja como o novo supercomputador pode fazer a diferença:

  • Agropecuária

Com previsões sazonais mais precisas, agricultores poderão programar melhor o plantio, tomar decisões preventivas em caso de seca e proteger suas safras. O setor representa 23% do PIB brasileiro e depende diretamente do clima.

  • Energia

As informações meteorológicas ajudam a equilibrar o uso entre hidrelétricas e termelétricas, sobretudo em momentos de crise hídrica. Com mais previsibilidade, é possível melhorar a gestão dos reservatórios e conter custos de energia.

  • Saúde pública

O sistema poderá monitorar a movimentação de fumaça vinda de queimadas, ajudando autoridades a emitirem alertas sobre riscos respiratórios à população.

O futuro da previsão: clima, IA e mudanças globais

O novo equipamento também será utilizado para rodar modelos climáticos de longo prazo, fundamentais para compreender os impactos das mudanças climáticas e para embasar políticas públicas de adaptação e mitigação.

Além disso, o Inpe prevê que, com essa estrutura, o Brasil poderá implementar projetos com inteligência artificial aplicada à previsão do tempo e ao monitoramento climático — algo impossível com o antigo sistema.

O novo supercomputador ainda não tem nome oficial. O Inpe abrirá em breve uma votação popular para batizar a máquina que vai transformar a forma como o Brasil prevê e responde aos eventos climáticos.


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