Um artigo publicado neste domingo, 20, pelo jornal The Washington Post afirma que o “bullying praticado por Trump contra o Brasil está saindo pela culatra”. A análise, assinada pelo colunista de relações internacionais Ishaan Tharoor, destaca que o anúncio de tarifas de 50% sobre produtos brasileiros — feito como forma de protesto contra o julgamento de Jair Bolsonaro pelo Supremo Tribunal Federal (STF) — acabou fortalecendo politicamente o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Segundo o texto, ao tentar pressionar o Brasil em apoio a Bolsonaro, o ex-presidente americano Donald Trump acabou dando a Lula uma oportunidade de consolidar sua imagem como defensor da soberania nacional diante de uma ofensiva externa. A retaliação americana, em vez de enfraquecer o governo petista, ampliou sua base de apoio, inclusive entre setores tradicionalmente ligados à elite econômica.
“Para Lula, cujos aliados enfrentam uma eleição difícil em 2026, o momento é uma bênção”, diz o artigo. “Pesquisas mostram um apoio renovado ao seu governo diante da intimidação americana provocada por Bolsonaro.” O jornal cita ainda que até empresários críticos a Lula têm reagido negativamente às tarifas impostas pelos EUA, devido aos impactos econômicos.
As medidas anunciadas por Trump no dia 9 de julho devem entrar em vigor a partir de 1º de agosto. Os Estados Unidos são o terceiro maior parceiro comercial do Brasil, atrás apenas da China e da União Europeia.
O colunista observa que, enquanto países menores da América Latina historicamente se curvam diante das ameaças de Washington, o Brasil tem uma estrutura econômica mais robusta e diversificada — o que permite ao país enfrentar embates diplomáticos com maior autonomia.
Fontes do Departamento de Estado dos EUA ouvidas pelo Post, sob anonimato, criticaram abertamente a postura de Trump. “É difícil conceber uma ação mais danosa à credibilidade americana na defesa da democracia do que sancionar um juiz da Suprema Corte de outro país por não gostarmos de suas decisões jurídicas”, afirmou uma autoridade americana.
O estopim para a escalada diplomática veio após a operação da Polícia Federal, autorizada pelo ministro Alexandre de Moraes, que mirou o ex-presidente Jair Bolsonaro. Na ação, Bolsonaro recebeu tornozeleira eletrônica e teve restrições de mobilidade e comunicação impostas, como a proibição de falar com diplomatas ou investigados por tentativa de golpe de Estado.
Em resposta, o governo americano, alinhado a Trump, suspendeu o visto de entrada de Moraes nos Estados Unidos, alegando uma suposta “caça às bruxas política” do STF contra o ex-presidente.
De acordo com uma fonte diplomática brasileira ouvida pelo Washington Post, o movimento desastrado acabou favorecendo Lula. “O Papai Noel chegou mais cedo para o presidente Lula, e o presente foi enviado por Trump com esse ataque atrapalhado à soberania do Brasil”, disse a fonte.
Ainda que o governo brasileiro evite, por ora, um confronto direto, analistas e diplomatas afirmam que é improvável que Washington recue nas tarifas — ao contrário do que ocorreu com outras nações em disputas recentes.
O impasse, avalia o Washington Post, não tende a ser resolvido rapidamente, e pode redefinir os contornos da relação bilateral entre os dois países nos próximos anos.






