A engenheira Magda Chambriard, que neste sábado (24) completa um ano na presidência da Petrobras, tem dedicado atenção especial a um tema que mobiliza debates entre ambientalistas, governo e setor energético: a viabilidade da exploração de petróleo na bacia da Foz do Amazonas, situada na Margem Equatorial.

Em entrevista concedida na última quinta-feira (22), Chambriard foi categórica: “Não existe futuro para uma empresa de petróleo sem exploração.” A executiva defende com convicção o projeto da companhia na região Norte do país.

Segundo ela, a Petrobras está “confortável” com o plano de emergência estruturado para conter eventuais vazamentos de óleo. Trata-se, segundo afirma, do “maior plano de emergência individual” já desenvolvido para operações em águas profundas e ultraprofundas. A estatal aguarda o aval do Ibama para iniciar a perfuração do primeiro poço na Foz do Amazonas, um processo que ainda depende de vistorias e liberações do órgão ambiental.

“Entendo o Ibama como uma entidade técnica, que atua dentro dos regulamentos institucionais. Se a maior empresa do país não conseguir cumprir as condicionantes, quem conseguirá?”, questiona Chambriard, reforçando que a Petrobras tem cumprido rigorosamente os requisitos solicitados e que não vê razões para a licença não ser concedida.

Chambriard também comentou a repercussão de uma fala sua durante um evento nos Estados Unidos, em que utilizou a expressão “Let’s drill, baby” — popularizada pelo ex-presidente americano Donald Trump, defensor da flexibilização de normas ambientais. A presidente da Petrobras justificou que a frase foi um chamado às autoridades do Amapá presentes no evento para reforçar a importância de explorar o potencial da região.

“Não poderia falar ‘vamos perfurar’ em português, porque estava nos EUA. Disse isso olhando para o governador do Amapá, defendendo o desenvolvimento regional. É papel de uma estatal ajudar no progresso do país”, explicou.

Disputa ambiental e política

O projeto de exploração na Foz do Amazonas está no centro de uma disputa que envolve questões ambientais e institucionais. A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, afirmou nesta semana que a decisão sobre explorar petróleo é do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE), e não exclusivamente do Ibama ou do MMA.

Chambriard reconhece que a política energética é definida pelo CNPE, mas ressalta que os processos de licenciamento envolvem diversos órgãos, como o Ibama, institutos estaduais e o Instituto Chico Mendes.

“O que acontece é que, em termos de licenciamento ambiental, às vezes acreditamos que eles demoram um pouco mais, o que é compreensível diante da grande demanda e complexidade dos processos”, disse.

A presidente da estatal também criticou a desinformação sobre a localização do poço a ser perfurado. Segundo ela, o nome “Foz do Amazonas” gera confusão.

“As pessoas pensam que vamos perfurar na Amazônia ou na beira do rio. A área está a 540 km da ilha do Marajó e a 185 km da costa mais próxima, no Oiapoque — praticamente a mesma distância do pré-sal para a costa do Rio de Janeiro”, explicou.

Expansão e investimentos

Magda Chambriard afirmou que a Petrobras planeja perfurar oito poços na Foz do Amazonas — sendo um inicial, já em processo de licenciamento, e os outros sete, posteriormente, com uma licença conjunta.

“Ninguém explora uma região para furar apenas um poço”, afirmou. Segundo ela, esse primeiro poço é fundamental para calibrar as informações sísmicas e orientar os passos seguintes da campanha exploratória.

Ao todo, o plano de negócios da companhia prevê cerca de 30 poços na Margem Equatorial, que vai do Amapá até o Rio Grande do Norte.

A executiva também destacou que a Petrobras está atenta a oportunidades fora do país, especialmente na margem atlântica africana, por possuir expertise em operações em águas profundas. A estatal produz atualmente cerca de 3,2 milhões de barris por dia, sendo 90% operados diretamente pela empresa. O pico de produção está previsto para ocorrer entre 2030 e 2032. Depois disso, a tendência é de queda.

“Se não explorarmos novas áreas, perderemos produção, saldo comercial e arrecadação. A Petrobras pagou R$ 270 bilhões em tributos em 2024. É uma empresa de interesse estratégico para o país”, pontuou.

Energias renováveis e COP30

Chambriard também rejeitou a ideia de que a Petrobras tenha recuado nos investimentos em fontes renováveis. Segundo ela, o novo plano de investimentos 2024–2028 aumentou de 11% para 15% a fatia voltada para esse segmento. A estatal está investindo mais em combustíveis líquidos renováveis, como etanol, biodiesel e o diesel verde. “Estamos avançando rápido. Ninguém no mundo faz um diesel com 10% de vegetal como nós”, declarou.

Questionada se a exploração de petróleo na Foz do Amazonas seria contraditória com o fato de o Brasil sediar a COP30 em 2025, a presidente da estatal respondeu que o Brasil tem uma matriz energética diferenciada. “Hoje, 53% da nossa energia é renovável. Em 2050, será 64%, enquanto o mundo busca chegar a 39%. A COP30 tem um viés econômico, e energia está na base do desenvolvimento”, argumentou.

Privatizações, Braskem e novos leilões

Sobre a venda de ativos, Chambriard disse que o Polo Bahia segue à venda, mas que o processo ainda não se concretizou. Ela reforçou que a Braskem, da qual a Petrobras detém 38%, é um ativo estratégico. “Não vamos estatizar a Braskem. Queremos que ela seja lucrativa e útil ao país, alocando nosso gás e gerando valor”, afirmou.

A presidente confirmou o interesse da Petrobras em participar de novos leilões da Agência Nacional do Petróleo (ANP), inclusive das áreas excedentes de Tupi, Mero e Atapu, que extrapolam os limites dos contratos atuais. “Nenhuma licitação no Brasil vai passar despercebida da Petrobras”, garantiu.

Sobre o projeto de lei aprovado pelo Senado que propõe um novo marco do licenciamento ambiental, com dispositivo para acelerar processos como o da Foz do Amazonas, Chambriard foi cautelosa: “Vamos acompanhar e tratar do tema quando for aprovado.”


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