As mudanças climáticas têm provocado desastres naturais cada vez mais frequentes e severos no Brasil. Entre 2013 e 2024, os eventos extremos — como secas, estiagens e excesso de chuvas — causaram prejuízos de R$ 732,2 bilhões ao país, segundo levantamento da Confederação Nacional dos Municípios (CNM).

O estudo, baseado nos registros do Sistema Integrado de Informações sobre Desastres (S2ID), do Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional, revela que 95% dos municípios brasileiros foram atingidos por algum desastre natural nesse período.

Isso equivale a 5.279 cidades afetadas, que juntas decretaram 70.361 Situações de Emergência (SE) ou Estados de Calamidade Pública (ECP).

Só em 2024, os desastres climáticos já geraram perdas econômicas de R$ 92,6 bilhões, refletindo a intensificação dos eventos extremos, como o El Niño que impactou duramente regiões como o Norte e o Sul do país.

No total, mais de 473,2 milhões de pessoas foram impactadas pelas tragédias em todo o território nacional. Entre os efeitos registrados estão: 5 milhões de pessoas desalojadas; mais de 1 milhão de desabrigadas e quase 3 mil mortes.

Setores mais afetados

A agricultura é o setor que mais sofreu com os efeitos das mudanças climáticas, acumulando R$ 325,6 bilhões em perdas, o que representa 44,5% do total. Outros setores também registraram prejuízos bilionários:

  • Pecuária: R$ 94,4 bilhões
  • Instalações de saúde pública: R$ 86 bilhões
  • Abastecimento de água potável: R$ 61,2 bilhões
  • Habitação: R$ 43,4 bilhões
  • Infraestrutura (obras): R$ 42,4 bilhões
  • Transportes: R$ 23,3 bilhões
  • Comércio local: R$ 21,8 bilhões
  • Indústria: R$ 9,5 bilhões

Decretos por tipo de desastre

A seca e a estiagem lideram os registros de emergência no país, com 27,9 mil decretos, seguidas pelo excesso de chuvas, com 20,4 mil. Juntas, essas duas categorias representam quase 69% das situações de emergência declaradas entre 2013 e 2024.

  • No Nordeste, a seca predominou, com destaque para:
    • Paraíba (4.508 decretos)
    • Bahia (4.016)
    • Rio Grande do Norte (3.095)
    • Pernambuco (2.741)
    • Ceará (2.412)
  • No Sul, o excesso de chuvas se destacou, especialmente no Rio Grande do Sul e Santa Catarina.

O estado mais afetado foi Minas Gerais, com 14,3% dos registros nacionais de desastres. Em seguida, aparecem:

  • Bahia: 9,1%
  • Santa Catarina: 8,3%
  • Rio Grande do Sul: 8,3%

Esses estados enfrentaram desde secas até enchentes, deslizamentos e rompimentos de barragens.

Prejuízos no Rio Grande do Sul

Somente em 2024, o Rio Grande do Sul registrou R$ 14,5 bilhões em prejuízos, sendo os setores mais atingidos:

  • Agricultura: R$ 5,6 bilhões
  • Habitação: R$ 4,7 bilhões
  • Infraestrutura: R$ 1,9 bilhão
  • Pecuária: R$ 658 milhões
  • Indústria: R$ 357,4 milhões

Desde 2013, o estado acumula R$ 114,5 bilhões em perdas climáticas. Mais de 90% das cidades gaúchas foram atingidas por eventos extremos.

Em Eldorado do Sul, por exemplo, 98% do território foi afetado, deixando mais de 2 mil famílias desabrigadas. A reconstrução está em andamento com a construção de 1.200 novas casas.

Em Canoas, 70% das unidades de saúde foram destruídas, incluindo o Hospital de Pronto Socorro, que ainda não foi reaberto e passa por obras orçadas em R$ 60 milhões.

A CNM aponta a baixa execução orçamentária da União como um fator que agrava a crise. Segundo a entidade, apenas 39,8% dos recursos autorizados foram efetivamente pagos, o que gera desconfiança por parte dos gestores municipais.


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