Um estudo inédito da Universidade de São Paulo (USP) estimou, com base em dados populacionais, quantos minutos de vida saudável são ganhados ou perdidos a cada porção de alimento consumido no Brasil.
A pesquisa utilizou pela primeira vez no país o Índice Nutricional de Saúde (HENI, na sigla em inglês), desenvolvido por cientistas dos Estados Unidos, e trouxe reflexões importantes sobre os hábitos alimentares dos brasileiros.
Entre os alimentos analisados, a bolacha recheada aparece com uma das piores pontuações: cada porção está associada à perda de cerca de 39,7 minutos de vida saudável. Por outro lado, opções como banana (+8 minutos), feijão (+6,5 minutos) e peixe de água doce (+17,2 minutos) estão entre os que mais somam tempo de vida saudável.
A média nacional foi negativa: -5,89 minutos por porção. Ou seja, considerando os alimentos mais presentes na dieta da população, o saldo geral tende ao prejuízo.
O que é o HENI?
O HENI é uma métrica baseada em 15 fatores relacionados ao risco de doenças, como o consumo de carne processada, sódio e bebidas adoçadas, e a ingestão de fibras, vegetais e ômega-3. O índice estima, por porção média, o impacto de cada alimento sobre a saúde, sem considerar uma soma direta e cumulativa. Segundo os pesquisadores, o que realmente importa é o padrão alimentar como um todo.
Alimentos com maior perda de vida saudável (por porção):
- Bolacha recheada: −39,69 minutos
- Carne suína: −36,09 minutos
- Margarina: −24,76 minutos
- Carne bovina: −21,86 minutos
- Empanado de frango: −17,88 minutos
- Presunto: −15,71 minutos
- Refrigerante com açúcar: −12,75 minutos
- Pizza de mussarela: −11,61 minutos
- Cachorro-quente: −10,63 minutos
Alimentos com maior ganho de vida saudável (por porção):
- Peixe de água doce: +17,22 minutos
- Banana: +8,08 minutos
- Feijão: +6,53 minutos
- Suco natural: +5,69 minutos
- Arroz integral: +4,71 minutos
- Azeite de oliva: +3,34 minutos
- Aveia: +2,78 minutos
- Tomate: +2,65 minutos
- Castanha-do-pará: +2,34 minutos
Diferenças regionais e impactos ambientais
A pesquisa também apontou desigualdades entre as regiões do país. Estados do Centro-Oeste, Sul e Sudeste apresentaram alto consumo de alimentos ultraprocessados, como o biscoito recheado.
Já a dieta nacional se mostrou pouco variada, com escasso uso de alimentos nativos, como taioba, pequi ou açaí puro. Além disso, o estudo avaliou os impactos ambientais dos alimentos.
A carne bovina, por exemplo, é associada a emissões superiores a 21 kg de CO₂ por porção. A pizza de mussarela, por sua vez, lidera o ranking de consumo de água: mais de 300 litros por porção.
Os pesquisadores defendem que o índice HENI pode ajudar a orientar políticas públicas e escolhas individuais, promovendo uma alimentação mais saudável e sustentável.