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Morreu nesta segunda-feira (21), aos 88 anos, Jorge Mario Bergoglio, o papa Francisco. O falecimento do pontífice foi comunicado pelo Vaticano. Como prevê a tradição da Igreja Católica, o corpo será velado na Basílica de São Pedro, onde os fiéis poderão prestar homenagens. A cerimônia de despedida será encerrada com uma missa de corpo presente na Praça de São Pedro, no Vaticano.

Francisco já havia preparado seu próprio funeral. Em abril de 2024, revelou que “tudo estava pronto” para sua sepultura. Ele solicitou mudanças nos rituais fúnebres papais, determinando que seu corpo não fosse colocado em catafalco, mas exposto dentro do caixão. Também pediu para ser enterrado na Basílica de Santa Maria Maggiore, em Roma, em vez da tradicional sepultura na Basílica de São Pedro.

Trajetória marcada pela fé e pela simplicidade

Jorge Mario Bergoglio nasceu em 17 de dezembro de 1936, em Buenos Aires, Argentina. Filho de imigrantes italianos, formou-se em Química e ingressou na Companhia de Jesus em 1958. Licenciado em Filosofia, foi professor de teologia e doutorou-se em Teologia em Freiburg, na Alemanha. Tornou-se sacerdote em 1969.

Em 1992, foi nomeado bispo auxiliar de Buenos Aires. Em 1998, assumiu como arcebispo da capital argentina e, três anos depois, foi feito cardeal pelo papa João Paulo II. Em 13 de março de 2013, aos 76 anos, foi eleito o 266º papa da Igreja Católica, adotando o nome Francisco, em referência a São Francisco de Assis. Tornou-se o primeiro papa latino-americano e o primeiro jesuíta a liderar a Igreja.

O “papa dos humildes”

Desde sua primeira aparição como papa, ao saudar os fiéis com um simples “boa noite”, Francisco demonstrou sua opção por uma Igreja mais próxima dos pobres e dos marginalizados. Em seu discurso inaugural, pediu atenção aos que sofrem com fome e sede. Evitou os símbolos tradicionais do poder papal e decidiu morar na Casa Santa Marta, recusando o Palácio Apostólico.

Inspirado pelo santo de Assis, o pontificado de Francisco foi marcado por uma busca constante por reforma e humildade. Ele repetia que desejava “uma Igreja pobre para os pobres” e se tornou um símbolo de proximidade com o povo, visitando periferias, campos de refugiados e regiões em conflito.

Saúde fragilizada e últimos anos

A saúde de Francisco começou a se deteriorar visivelmente em 2022, quando passou a usar cadeira de rodas devido a dores no joelho. Nos anos seguintes, enfrentou bronquites recorrentes, cancelou viagens e foi submetido a uma cirurgia complexa em 2025. Mesmo debilitado, continuou exercendo seu ministério até os últimos meses.

Reformas e enfrentamento às resistências internas

Francisco promoveu importantes reformas na estrutura da Igreja, principalmente na Cúria Romana. Criou o Conselho de Cardeais (C9), combateu privilégios clericais, aumentou a presença de leigos e mulheres em cargos de liderança e buscou mais transparência nas finanças do Vaticano. Em diversas ocasiões, criticou a “mentalidade de corte” dentro da Igreja, classificando-a como “uma lepra a ser combatida”.

Seu estilo direto e suas decisões progressistas enfrentaram resistência de alas conservadoras. A abertura a fiéis LGBT, a autorização para que mulheres e leigos votassem no sínodo e as bênçãos a casais em situação irregular foram alvos de críticas internas.

Um papa progressista em tempos difíceis

Durante a pandemia de covid-19, Francisco emocionou o mundo ao rezar sozinho na Praça de São Pedro, simbolizando o isolamento e a esperança em tempos de crise. Sua segunda encíclica, “Fratelli Tutti”, publicada em 2020, propôs uma fraternidade universal baseada na amizade social.

Em várias ocasiões, defendeu posições em favor do meio ambiente, da paz e dos direitos humanos, condenando as desigualdades econômicas e o radicalismo religioso. Disse que uma economia baseada na exclusão e na exploração era “uma economia que mata”.

Legado de um papa para além da tradição

A eleição de Jorge Mario Bergoglio como papa representou uma ruptura simbólica com a tradição europeia do papado. Eleito após a renúncia de Bento XVI, não era o favorito do conclave. Conquistou os cardeais ao afirmar que a Igreja deveria sair de si mesma para alcançar as “periferias existenciais” do mundo.

Sua experiência como sacerdote na Argentina, especialmente durante a ditadura militar, moldou sua visão crítica das relações entre poder e fé. Participou ativamente da elaboração do Documento de Aparecida, em 2007, que reforçou o papel missionário da Igreja na América Latina.

Sua primeira viagem internacional como papa foi ao Brasil, em 2013, para a Jornada Mundial da Juventude. Na ocasião, foi ovacionado por multidões e demonstrou, mais uma vez, seu carisma e simplicidade.

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