O presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, explicou os motivos para o descumprimento da meta de inflação em 2024. Segundo ele, fatores como a forte atividade econômica, a desvalorização do real frente ao dólar e extremos climáticos foram determinantes para a inflação, que fechou o ano com alta de 4,83%, acima do teto de 4,5% estabelecido pelo Conselho Monetário Nacional (CMN).
Pelas regras do CMN, sempre que a inflação ultrapassa o limite superior da meta, o presidente do Banco Central deve publicar uma carta aberta explicando as razões do descumprimento. O documento foi encaminhado ao ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que também preside o CMN.
Na carta, o Banco Central destacou a influência dos eventos climáticos extremos. A seca em regiões produtoras e as enchentes no Rio Grande do Sul impactaram significativamente os preços de alimentos como carne, leite e outros itens básicos. Esse segmento, que havia registrado deflação em 2023, apresentou alta de 8,22% em 2024.
Outro fator relevante foi a depreciação cambial, que elevou os custos de bens industriais. A desvalorização do real em relação ao dólar foi atribuída tanto à valorização global da moeda norte-americana quanto a questões internas, incluindo as preocupações com o cenário fiscal do país. O documento destacou que o real foi a moeda que mais perdeu valor em 2024, o que reforça o impacto de fatores domésticos.
Por outro lado, a queda no preço internacional do petróleo ajudou a aliviar parte da pressão inflacionária causada pela desvalorização cambial.
Medidas e perspectivas para 2025
O Banco Central elevou a taxa básica de juros (Selic) de 11,25% ao ano para 12,25% em dezembro, como uma medida de contenção da inflação. O Comitê de Política Monetária (Copom) sinalizou novas elevações de 1 ponto percentual em suas próximas reuniões, em janeiro e março de 2025.
No entanto, o cenário para este ano preocupa. Economistas do mercado financeiro ouvidos pelo BC no relatório “Focus” projetam uma inflação ainda maior, de quase 5%, ultrapassando novamente o teto da meta de 4,5%.
A última vez que a inflação havia estourado a meta foi em 2022, ainda sob a gestão de Roberto Campos Neto no Banco Central. Gabriel Galípolo, que assumiu o comando do órgão em 1º de janeiro, herda o desafio de tentar alinhar a inflação às metas estabelecidas em meio a um cenário econômico desafiador.